sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Desassossegos

“Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstrata e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também.” Fernando Pessoa

Como ocorre a construção das aspirações de uma vida? Será que alguém consegue se lembrar de quais fatores influenciaram suas motivações? Não posso afirmar que me lembro do processo exato pelo qual passei e que me levou a buscar as coisas que busquei, mas hoje vejo com mais clareza quais são os meus objetivos.
Procuro um ponto de conforto, um equilíbrio entre o sonho e a realidade, e ao mesmo tempo o conforto anda de mãos dadas com a conformidade. Toda vez que acredito ter encontrado algum equilíbrio me vejo tomado por um intenso tédio ou descubro que estava terrivelmente enganado. O tédio pode se traduzir em uma doce saudade, já os enganos costumam terminar em uma negra amargura.
A arte, na dança da vida, é estar em permanente desequilíbrio controlado: onde há equilíbrio não há movimento, a vida pára e se torna enfadonha; é preciso, por vezes, pender para o lado dos sonhos, acreditando naquilo que é ideal, e por vezes, pender para a realidade, caso contrário esta nos derruba com suas desilusões e desassossegos.
Difícil mesmo é manter o movimento, como uma média entre o sonho e a realidade, sem deixar a dança parar. Difícil é olhar para si mesmo em desequilíbrio: um estado que lembra a dança de Columbina e Arlequim. Esta dança, quando bem executada, acaba em uma serena reflexão daqueles que assistiram ao espetáculo da vida e permaneceram até o ato final.
Neste teatro somos todos platéia e somos todos atores, com a certeza de muitas estréias, despedidas e de que, para nós, as cortinas também irão se fechar.

Baseado em um trabalho para a disciplina de Fenomenologia.

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