Em 13 de setembro de 1848, Phineas P. Gage estava trabalhando na construção de uma estrada de ferro na pequena cidade de Cavendish, Vermont. Uma de suas tarefas envolvia preencher os buracos da estrada com pólvora negra, adicionar uma espoleta e prensar a terra sobre o explosivo com um tubo de ferro de aproximadamente um metro de comprimento e 3,2 cm de diâmetro. Em um momento de distração Gage esqueceu de colocar areia em um dos buracos, fazendo com que a pólvora detonasse e lançasse o ferro de 6,12 kg através de seu crânio. Logo após a explosão Gage recobrou a consciência, sendo levado para casa em uma carroça*, uma jornada que levou 45 minutos.
Quando o médico chegou, Gage estava consciente e com um pulso de 60 batimentos por minutos, embora estivesse ficando exausto devido a hemorragia. Sua pupila esquerda ainda reagia à luz direta (e continuou reagindo pelos próximos 10 dias), indicando que os nervos óticos esquerdo e óculomotor ainda estavam funcionais, corroborando com a hipótese de que o ferro tenha passado lateralmente ao nervo ótico esquerdo. No período de 23 de setembro à 3 de outubro Gage sofreu complicações de uma infecção por fungos, que o deixou em um "estado semi-comatoso", falando apenas quando alguém falava com ele e respondendo de maneira monossilábica. Em 4 de outubro ele começou a melhorar, voltando a caminhar em 7 de outubro. Em 20 de outubro seu médico o descreveu como "muito infantil" e notou que Gage "planejava voltar para a sua casa no Líbano". Em seguida ele ficou doente e febril, vindo a recuperar-se em 17 de novembro. As anotações finais antes da alta foram: "ele parece estar se recuperando, se ele puder ser controlado."
As anotações posteriores do Dr. J. M. Harlow ainda incluem as seguintes observações:
Quando o médico chegou, Gage estava consciente e com um pulso de 60 batimentos por minutos, embora estivesse ficando exausto devido a hemorragia. Sua pupila esquerda ainda reagia à luz direta (e continuou reagindo pelos próximos 10 dias), indicando que os nervos óticos esquerdo e óculomotor ainda estavam funcionais, corroborando com a hipótese de que o ferro tenha passado lateralmente ao nervo ótico esquerdo. No período de 23 de setembro à 3 de outubro Gage sofreu complicações de uma infecção por fungos, que o deixou em um "estado semi-comatoso", falando apenas quando alguém falava com ele e respondendo de maneira monossilábica. Em 4 de outubro ele começou a melhorar, voltando a caminhar em 7 de outubro. Em 20 de outubro seu médico o descreveu como "muito infantil" e notou que Gage "planejava voltar para a sua casa no Líbano". Em seguida ele ficou doente e febril, vindo a recuperar-se em 17 de novembro. As anotações finais antes da alta foram: "ele parece estar se recuperando, se ele puder ser controlado."
As anotações posteriores do Dr. J. M. Harlow ainda incluem as seguintes observações:
"Gage estava intermitente, irreverente, e regularmente fazendo uso das palavras de mais baixo calão (coisa que não era seu hábito), manifestando pouco ou nenhum respeito por seus companheiros, impaciente quanto as restrições ou aconselhamento especialmente quando em conflito com seus desejos. Por vezes mostrava-se muito obstinado, ainda que cheio de caprichos e vacilante, traçando planos futuros que não demoram tanto para serem elaborados quanto para serem abandonados[...]. Com a capacidade intelectual de uma criança e as paixões animalescas de um homem forte. Anteriormente ao seu ferimento, embora não fosse educado formalmente, ele possuía uma mentalidade bem balanceada, e era tido como alguém astuto por seus companheiros, bom negociador, muito enérgico e persistente em executar todas as suas tarefas. Quanto a isso tudo, sua mente foi radicalmente modificada, de maneira tão radical que seus amigos e conhecidos dizem que ele 'não é mais o Gage.'"
Alguns meses depois do acidente, provavelmente na metade do ano de 1849, Gage sentiu-se forte o suficiente para voltar ao trabalho mas, dadas as mudanças em sua personalidade, seu patrão o despediu. Por volta de 1850 ele passou um ano como uma atração em um show de aberrações, exibindo seu ferimento e o ferro para o público pagante. Mais tarde trabalhou como assistente e, também, carroceiro. Em 1859 sua saúde começou a deteriorar, fazendo com que ele fosse morar na casa da sua mãe e em 1860 começaram os ataques epilépticos. Gage morreu alguns meses depois que estes ataques começaram, aos 37 anos.
* carroça: no original cart - termo ambíguo em inglês que pode significar carrinho ou outro meio de transporte semelhante.
* carroça: no original cart - termo ambíguo em inglês que pode significar carrinho ou outro meio de transporte semelhante.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Phineas_Gage
E sobre a Lobotomia:
Em 1890, um cientista alemão chamado Friederich Golz fazia experimentos com a dissecação (ablation) do neo-córtex de cachorros, quando descobriu que os animais operados eram mais calmos e submissos que os animais não operados. Estes experimentos inspiraram Gottlieb Burkhardt, um médico e supervisor de um asilo para insanos na Suíça, para realizar em 1892 uma operação para remover partes do córtex de seis pacientes esquizofrênicos que sofriam de alucinações e ficavam muito agitados. Alguns destes pacientes realmente ficaram mais calmos após a cirurgia, dois deles morreram. Por falta de resultados conclusivos, Burkhardt sofreu muita oposição e poucas cirurgias deste tipo foram realizadas nos próximos 40 anos. A situação mudou quando laboratórios experimentais nos EUA começaram a fazer descobertas quanto ao papel do córtex temporal e frontal no controle do comportamento emocional e agressividade. Na Universidade de Yale em 1935, um cientista chamado Carlyle Jacobsen fez observações sobre o comportamento de chimpanzés após danificar seus córtex frontal e pré-frontal por meio de cortes nos lobos (lobotomia). Um [um único...] desses animais que era muito agressivo ficou mais calmo e submisso após a cirurgia. Não foram notadas perdas aparentes nas demais funções mentais e inteligência nestes animais. Um dos neurologistas experimentais de Yale, o Dr. John Fulton, também removeu completamente os lobos frontais de dois chimpanzés, sendo incapaz de provocar uma forma de neurose experimental nestes animais.
Por seus experimentos com chimpanzés incapazes de ficar neuróticos, Fulton se tornou um dos pilares científicos da lobotomia nos EUA.
Ao escutar Fulton em uma conferência em Londres, um neuropsiquiatra português chamado Antônio Egas Moniz, professor da Universidade de Lisboa, teve a idéia de realizar operações similares para aliviar os sintomas mais severos de psicóticos intratáveis. Trabalhando com um neurocirurgião, o Dr. Almeida Lima, Moniz desenvolveu a abordagem cirúrgica que chamou de Leucotomia (cortar a matéria branca). Ele abria diversos buracos pequenos trepanando os dois lados do cérebro e inseria um instrumento afiado, chamado de "leukotome", no cérebro. Com movimentos laterais as fibras eram cortadas e o paciente podia "se recuperar". Vários pacientes demonstraram alguma melhora em seus sintomas, outros nenhuma.
No Brasil o neurocirurgião Mattos Pimenta, da Escola Paulista de Medicina, foi um dos primeiros a realizar as leucotomias de Moniz, com resultados duvidosos.
Fonte: Sabbatini, R. M. E.: The History of Lobotomy - http://www.cerebromente.org.br/n02/historia/lobotomy.htm
Obs.: hum... só agora, ao inserir a fonte, é que notei que se trata de um site hospedado no Brasil. Me pergunto se essa página tem versão em português...
Por seus experimentos com chimpanzés incapazes de ficar neuróticos, Fulton se tornou um dos pilares científicos da lobotomia nos EUA.
Ao escutar Fulton em uma conferência em Londres, um neuropsiquiatra português chamado Antônio Egas Moniz, professor da Universidade de Lisboa, teve a idéia de realizar operações similares para aliviar os sintomas mais severos de psicóticos intratáveis. Trabalhando com um neurocirurgião, o Dr. Almeida Lima, Moniz desenvolveu a abordagem cirúrgica que chamou de Leucotomia (cortar a matéria branca). Ele abria diversos buracos pequenos trepanando os dois lados do cérebro e inseria um instrumento afiado, chamado de "leukotome", no cérebro. Com movimentos laterais as fibras eram cortadas e o paciente podia "se recuperar". Vários pacientes demonstraram alguma melhora em seus sintomas, outros nenhuma.
No Brasil o neurocirurgião Mattos Pimenta, da Escola Paulista de Medicina, foi um dos primeiros a realizar as leucotomias de Moniz, com resultados duvidosos.
Fonte: Sabbatini, R. M. E.: The History of Lobotomy - http://www.cerebromente.org.br/n02/historia/lobotomy.htm
Obs.: hum... só agora, ao inserir a fonte, é que notei que se trata de um site hospedado no Brasil. Me pergunto se essa página tem versão em português...
Dúvidas e especulações:
Phineas Gage tornou-se agressivo, impulsivo e incontrolável ao sofrer danos do córtex. Os macacos, cachorros e sofredores psíquicos ficavam mais calmos com os danos no córtex... Embora a história ratifique essas informações, parecem ser contraditórias.
Faltou só as informações sobre o córtex de psicopatas e criminosos agressivos...
Acho que a pergunta mais importante que fica é: "Onde estavam Freud e Skinner que parecem ter ignorado os primeiros passos da neurociência?"*** Tudo bem que não havia internet naquela época, mas ambos estavam bem no centro dos acontecimentos em suas respectivas épocas.
*** Atualização: Freud não ignorava a neurociência (o que é óbvio, uma vez que ele próprio contribuiu para o entendimento do sistema nervoso em seus estudos de anatomofisiologia comparativa), e chegou a tentar aproximar sua teoria à neurociência.
Faltou só as informações sobre o córtex de psicopatas e criminosos agressivos...
Acho que a pergunta mais importante que fica é: "Onde estavam Freud e Skinner que parecem ter ignorado os primeiros passos da neurociência?"*** Tudo bem que não havia internet naquela época, mas ambos estavam bem no centro dos acontecimentos em suas respectivas épocas.
*** Atualização: Freud não ignorava a neurociência (o que é óbvio, uma vez que ele próprio contribuiu para o entendimento do sistema nervoso em seus estudos de anatomofisiologia comparativa), e chegou a tentar aproximar sua teoria à neurociência.
2 comentários:
Skinner também não ignorava, apenas dizia que o estudo do comportamento pode prescindir do entendimento da neurociência, (mais ou menos da mesma forma que um médico pode ter uma noção bem vaga de física), e que todas as descobertas biológicas não modificariam uma vírgula do que o behaviorismo descobriu.
Obrigado pelo comentário! Quando escrevi este post meu conhecimento sobre o Behaviorismo era superficial e impreciso. Concordo com a tua colocação e complemento que, na dúvida, observar e descrever o comportamento é uma forma infalível de chegar a conclusões mais apuradas sobre o estado de quem precisamos atender.
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