Aprendemos, no estudo da Psicologia, que existe um domínio da vida onde tudo acontece, onde nos sentimos vivos, onde experienciamos a realidade: é a vida do cotidiano, onde acumulamos o conhecimento chamado de senso comum. Pesquisadores brasileiros apontam esse tipo de conhecimento como sendo “intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros” e afirmam que, ao se apoderarem de outros saberes mais especializados, reduzindo-os a um tipo de teoria simplificada, produzem uma determinada visão de mundo
Visão de mundo é um termo originado da expressão alemã Weltanschauung, que se refere ao modo como a realidade é percebida no geral: um conjunto de idéias e crenças através das quais os indivíduos interpretam o mundo. É por causa do resultado da integração de diferentes visões de mundo, a partir dos fragmentos dessas visões oferecidos pelas disciplinas científicas e sistemas de conhecimento, que surgem as diferentes perspectivas culturais encontradas nas sociedades ao redor do globo.
Dentro do pensamento sociológico moderno, Bourdieu constrói seu conceito de visão de mundo, o qual ele chama de habitus. Se por um lado este conceito é restrito, ao considerar apenas “um conjunto de conhecimentos práticos adquiridos ao longo do tempo que nos permitem perceber e agir e evoluir com naturalidade num universo social dado”, por outro lado, ele expande a importância da visão de mundo, uma vez que esta determinará as respostas do indivíduo à sociedade.
O habitus, de Bourdieu, embora interno e subjetivo ao indivíduo, é indisassociável das diversas formas de capital – econômico, cultural, social ou simbólico, externos e pré-existentes em sociedade; e a valoração dessas formas de capital irá determinar as regras do campo, ou jogo: padrões e valores de certo e errado, usos e costumes, e como o indivíduo deverá explorar as possibilidades dentro do sistema em que está inserido para conseguir vencer, dominar, em suma, exercer poder.
Os indivíduos pertencentes a um grupo social demonstram por meio de suas crenças, um senso comum, imposto pelo processo de endoculturação, sem o qual não haveria integração social e, ao mesmo tempo, delimitador das áreas culturais: fronteiras que nem sempre correspondem às divisões geográficas. Esse senso comum, em parte cultural ideal, irá definir as diferentes formas de capital dentro do grupo.
Bastante claro, tanto no campo da Antropologia quanto no campo da Psicologia, é o exemplo de Linda Davidoff das diferentes concepções de inteligência, um valor facilmente encontrado em todas as sociedades humanas:
"Considere a tarefa mental de categorizar objetos. São entregues a você estatuetas de cães e gatos em diferentes poses e pedem que você agrupe os itens semelhantes. Em nossa sociedade, as pessoas tendem a categorizar por classe: cães de um lado; gatos do outro. Em certas tribos africanas, as pessoas separam objetos por função: em termos do nosso exemplo, animais comestíveis vão para um lado, animais para brincar vão para o outro lado. Conquanto os americanos considerem funcional menos inteligente do que a estratégia de classe, o contrário é verdadeiro para alguns africanos. Eles são perfeitamente capazes de desempenhar a tarefa 'inteligentemente' – segundo nossos padrões. Tudo o que temos a fazer é pedir que eles separem as estatuetas do jeito que as pessoas tolas o fazem."
Ou seja, o capital não é percebido da mesma forma em todas as sociedades, não é universal; logo não deveria ser objeto de juízo, uma vez que esta seria uma atitude completamente etnocentrista. Universal é o jogo, pois a luta pelo poder é encontrada em todas as formas de agrupamentos humanos, desde as mais simples, como a instituição familiar, até as mais complexas, como as sociedades modernas. E é na complexidade das sociedades modernas, com seus diferentes níveis de participação nas normas e costumes culturais, que os conflitos entre a subjetividade do indivíduo e o senso comum tem potencial para deflagrar convulsões que se propagam desde os pequenos dramas existenciais até a grande estrutura social.
Esse potencial é característico do momento histórico em que vivemos: a era da informação, onde os valores são volúveis e dinâmicos devido a maneira como o processo de difusão cultural ocorre. As distâncias, único freio para as mudanças culturais, tornam-se virtualmente inexistentes. Enquanto a aceitação do que é apresentado se dá de forma cada vez mais rápida – e nem sempre crítica – pelas subculturas, abundantes nas sociedades modernas, a integração dessas mudanças ao todo cultural, na forma de normas e costumes, se dá de maneira muito mais lenta. O reflexo disso está na disparidade cada vez maior entre cultura real, aquela que é praticada pelos indivíduos no cotidiano, e cultura ideal: “o conjunto de comportamentos que, embora expressos verbalmente como bons, perfeitos, para o grupo, nem sempre são freqüentemente praticados.”
A Filosofia permite compreender que a realidade nos é apresentada; para Marilena Chauí, mesmo perguntas simples como “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?”, estão repletas de crenças: “idéias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos porque são óbvias, evidentes.”
A história do pensamento filosófico demonstra que questionando a natureza das coisas estamos, na verdade, questionando a própria realidade: estamos pensando filosoficamente. Explicando Gaarder, segundo a visão da Psicologia em Davidoff, “subir até a ponta do pêlo do coelho” é perceber que existe uma grande diferença entre o que está no mundo e aquilo que experimentamos; e “olhar nos olhos do mágico, que puxa o coelho da cartola,” é identificar aquilo que nos impede de conhecer a verdade. E quem seria o mágico? Quando se trata de valores, o principal ator dessa construção é a linguagem, o mecanismo de endoculturação mais poderoso, especialmente na atual configuração globalizada e repleta de informações instantâneas.
Pensamentos que se complementam, “a palavra tem esse poder misterioso de transformar o que não existe em realidade e de dar a aparência de irrealidade ao que realmente existe”, de Marilena Chauí; e “o pensamento não apenas se expressa em palavras; ele adquire existência através delas”, de Vygotsky, confirmam a força que a linguagem exerce sobre o indivíduo.
No Brasil e no resto do mundo, esse poder, ou capital, se traduz em comunicação por meio de grandes corporações de mídia, capazes de gerar sinais de rádio, conteúdo on-line, jornais impressos, livros, gravações musicais e programas de televisão. Tudo isso é utilizado para injetar fragmentos de visões de mundo, provocando profundas mudanças por meio de valores que são incutidos na visão de mundo do grupo social alvo. O processo de difusão cultural tornou-se, dessa maneira, objeto privado.
Este centro de confluência, a visão de mundo, atrai conceitos da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia e da Filosofia, para si. De importância muito mais prática do que teórica, a noção de que a maneira como percebemos a realidade pode ser construída, vem sendo explorada de maneira inconsequente.
Se a imaginação desregrada leva à loucura, a linguagem utilizada de má fé leva à cegueira social. Não existe maneira melhor de ilustrar este conceito do que as mudanças significativas impostas ao conceito de beleza, em especial a feminina, ao longo da história da humanidade. O que, afinal, determina nosso padrão de beleza, senão a simbologia inserida na cultura social por meio da mídia de massa? As distorções em relação a auto-imagem que mulheres, especialmente as mais jovens, demonstram, são o resultado dessa construção volutiva da mídia.
No filme Matrix encontramos uma analogia a esse tipo de manipulação, nas palavras do personagem Morpheus: “Este é o mundo que foi jogado perante os teus olhos para cegá-lo da verdade. [...] A verdade de que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Em uma prisão que você não pode sentir, nem ver, nem tocar. Uma prisão para a sua mente.”
Essa prisão se torna tão real quanto são as convicções pessoais dos indivíduos em uma sociedade em relação aos valores que lhes são impostos. A cegueira, que garante a eficiência enquanto mecanismo de controle a essa prisão, existe por que não somos capazes de identificar os métodos que são utilizados na sua construção. Todos pensam saber o que é certo e o que é errado, mas ninguém pensa o motivo que leva a determinado julgamento. São conhecimentos que parecem ser “intuitivos, espontâneos”, chegam a parecer idéias inatas; ganhando desta forma status de paradigma. Mas não são. Paradigmas devem responder a perguntas fundamentais.
Quando o indivíduo entra em conflito com a cultura, por não encontrar as respostas que esta deveria fornecer a ele ou por se sentir agredido em meio aos processos culturais em andamento, sofre o risco de entrar em conflito consigo mesmo. Os aspectos normativos e costumeiros da cultura, são descritos por Durkheim como fatos sociais, que “existem fora do indivíduo, mas são interiorizados, passando a existir em suas consciências; e que só são externos no sentido de que lhes foram transmitidos socialmente [por meio do processo de endoculturação].” O conflito com a própria consciência gera grande angústia e sofrimento, podendo levar a comportamentos contraditórios.
Mas nem sempre estes comportamentos contraditórios podem ser considerados patológicos, especialmente por sua causa externa e por sua natureza obrigatória. Para Rosenhan, existem evidências consistentes de que comportamentos considerados anormais estão, em muitos casos, na mente dos observadores e não são sumários válidos das características demonstradas pelo observado. A própria normalidade, um paradigma necessário para caracterizar a doença mental em qualquer sociedade, não pode ser precisamente diagnosticada, como foi demonstrado nos experimentos realizados por ele em doze hospitais de cinco Estados norte-americanos.
O comportamento anormal pode ser a resposta do habitus do indivíduo para uma sociedade que oprime a subjetividade que ajudou a formar em conjunto com as circunstâncias. Mas é preciso encontrar um meio de adaptar-se em um sociedade confusa, dinâmica e arbitrária, pois o ser humano é extremamente dependente da sociedade para sobreviver. A resposta para esse problema passa por questionamentos que devem ser feitos tanto à sociedade quanto ao próprio indivíduo.
É identificando as perguntas fundamentais e impondo-as a si mesmo e aos paradigmas propostos por sua visão de mundo, que o indivíduo em sociedade consegue confrontar os valores que não lhe trazem real benefício, as falsas crenças e falácias. Dessa maneira poderá reconstruir sua visão de mundo, utilizando para isso valores que ele irá buscar de maneira crítica nos recônditos de sua subjetividade, com menor propensão a influências externas, gerais e coercitivas. Muito mais do que compreender as regras, poderá transformá-las em ferramentas para seus fins.
Somente aquele que consegue encontrar dentro de si mesmo, tudo que lá foi colocado sem a análise do seu próprio julgamento crítico; e, dispondo de coragem, libertar-se dessas amarras, mesmo quando parecer que não irá sobrar nada quando elas estiverem por terra, é que poderá encontrar-se consigo em sociedade de maneira equilibrada e livre.
Baseado em um trabalho para a disciplina de Sociologia.
Visão de mundo é um termo originado da expressão alemã Weltanschauung, que se refere ao modo como a realidade é percebida no geral: um conjunto de idéias e crenças através das quais os indivíduos interpretam o mundo. É por causa do resultado da integração de diferentes visões de mundo, a partir dos fragmentos dessas visões oferecidos pelas disciplinas científicas e sistemas de conhecimento, que surgem as diferentes perspectivas culturais encontradas nas sociedades ao redor do globo.
Dentro do pensamento sociológico moderno, Bourdieu constrói seu conceito de visão de mundo, o qual ele chama de habitus. Se por um lado este conceito é restrito, ao considerar apenas “um conjunto de conhecimentos práticos adquiridos ao longo do tempo que nos permitem perceber e agir e evoluir com naturalidade num universo social dado”, por outro lado, ele expande a importância da visão de mundo, uma vez que esta determinará as respostas do indivíduo à sociedade.
O habitus, de Bourdieu, embora interno e subjetivo ao indivíduo, é indisassociável das diversas formas de capital – econômico, cultural, social ou simbólico, externos e pré-existentes em sociedade; e a valoração dessas formas de capital irá determinar as regras do campo, ou jogo: padrões e valores de certo e errado, usos e costumes, e como o indivíduo deverá explorar as possibilidades dentro do sistema em que está inserido para conseguir vencer, dominar, em suma, exercer poder.
Os indivíduos pertencentes a um grupo social demonstram por meio de suas crenças, um senso comum, imposto pelo processo de endoculturação, sem o qual não haveria integração social e, ao mesmo tempo, delimitador das áreas culturais: fronteiras que nem sempre correspondem às divisões geográficas. Esse senso comum, em parte cultural ideal, irá definir as diferentes formas de capital dentro do grupo.
Bastante claro, tanto no campo da Antropologia quanto no campo da Psicologia, é o exemplo de Linda Davidoff das diferentes concepções de inteligência, um valor facilmente encontrado em todas as sociedades humanas:
"Considere a tarefa mental de categorizar objetos. São entregues a você estatuetas de cães e gatos em diferentes poses e pedem que você agrupe os itens semelhantes. Em nossa sociedade, as pessoas tendem a categorizar por classe: cães de um lado; gatos do outro. Em certas tribos africanas, as pessoas separam objetos por função: em termos do nosso exemplo, animais comestíveis vão para um lado, animais para brincar vão para o outro lado. Conquanto os americanos considerem funcional menos inteligente do que a estratégia de classe, o contrário é verdadeiro para alguns africanos. Eles são perfeitamente capazes de desempenhar a tarefa 'inteligentemente' – segundo nossos padrões. Tudo o que temos a fazer é pedir que eles separem as estatuetas do jeito que as pessoas tolas o fazem."
Ou seja, o capital não é percebido da mesma forma em todas as sociedades, não é universal; logo não deveria ser objeto de juízo, uma vez que esta seria uma atitude completamente etnocentrista. Universal é o jogo, pois a luta pelo poder é encontrada em todas as formas de agrupamentos humanos, desde as mais simples, como a instituição familiar, até as mais complexas, como as sociedades modernas. E é na complexidade das sociedades modernas, com seus diferentes níveis de participação nas normas e costumes culturais, que os conflitos entre a subjetividade do indivíduo e o senso comum tem potencial para deflagrar convulsões que se propagam desde os pequenos dramas existenciais até a grande estrutura social.
Esse potencial é característico do momento histórico em que vivemos: a era da informação, onde os valores são volúveis e dinâmicos devido a maneira como o processo de difusão cultural ocorre. As distâncias, único freio para as mudanças culturais, tornam-se virtualmente inexistentes. Enquanto a aceitação do que é apresentado se dá de forma cada vez mais rápida – e nem sempre crítica – pelas subculturas, abundantes nas sociedades modernas, a integração dessas mudanças ao todo cultural, na forma de normas e costumes, se dá de maneira muito mais lenta. O reflexo disso está na disparidade cada vez maior entre cultura real, aquela que é praticada pelos indivíduos no cotidiano, e cultura ideal: “o conjunto de comportamentos que, embora expressos verbalmente como bons, perfeitos, para o grupo, nem sempre são freqüentemente praticados.”
A Filosofia permite compreender que a realidade nos é apresentada; para Marilena Chauí, mesmo perguntas simples como “Que horas são?” ou “Que dia é hoje?”, estão repletas de crenças: “idéias em que acreditamos sem questionar, que aceitamos porque são óbvias, evidentes.”
A história do pensamento filosófico demonstra que questionando a natureza das coisas estamos, na verdade, questionando a própria realidade: estamos pensando filosoficamente. Explicando Gaarder, segundo a visão da Psicologia em Davidoff, “subir até a ponta do pêlo do coelho” é perceber que existe uma grande diferença entre o que está no mundo e aquilo que experimentamos; e “olhar nos olhos do mágico, que puxa o coelho da cartola,” é identificar aquilo que nos impede de conhecer a verdade. E quem seria o mágico? Quando se trata de valores, o principal ator dessa construção é a linguagem, o mecanismo de endoculturação mais poderoso, especialmente na atual configuração globalizada e repleta de informações instantâneas.
Pensamentos que se complementam, “a palavra tem esse poder misterioso de transformar o que não existe em realidade e de dar a aparência de irrealidade ao que realmente existe”, de Marilena Chauí; e “o pensamento não apenas se expressa em palavras; ele adquire existência através delas”, de Vygotsky, confirmam a força que a linguagem exerce sobre o indivíduo.
No Brasil e no resto do mundo, esse poder, ou capital, se traduz em comunicação por meio de grandes corporações de mídia, capazes de gerar sinais de rádio, conteúdo on-line, jornais impressos, livros, gravações musicais e programas de televisão. Tudo isso é utilizado para injetar fragmentos de visões de mundo, provocando profundas mudanças por meio de valores que são incutidos na visão de mundo do grupo social alvo. O processo de difusão cultural tornou-se, dessa maneira, objeto privado.
Este centro de confluência, a visão de mundo, atrai conceitos da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia e da Filosofia, para si. De importância muito mais prática do que teórica, a noção de que a maneira como percebemos a realidade pode ser construída, vem sendo explorada de maneira inconsequente.
Se a imaginação desregrada leva à loucura, a linguagem utilizada de má fé leva à cegueira social. Não existe maneira melhor de ilustrar este conceito do que as mudanças significativas impostas ao conceito de beleza, em especial a feminina, ao longo da história da humanidade. O que, afinal, determina nosso padrão de beleza, senão a simbologia inserida na cultura social por meio da mídia de massa? As distorções em relação a auto-imagem que mulheres, especialmente as mais jovens, demonstram, são o resultado dessa construção volutiva da mídia.
No filme Matrix encontramos uma analogia a esse tipo de manipulação, nas palavras do personagem Morpheus: “Este é o mundo que foi jogado perante os teus olhos para cegá-lo da verdade. [...] A verdade de que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Em uma prisão que você não pode sentir, nem ver, nem tocar. Uma prisão para a sua mente.”
Essa prisão se torna tão real quanto são as convicções pessoais dos indivíduos em uma sociedade em relação aos valores que lhes são impostos. A cegueira, que garante a eficiência enquanto mecanismo de controle a essa prisão, existe por que não somos capazes de identificar os métodos que são utilizados na sua construção. Todos pensam saber o que é certo e o que é errado, mas ninguém pensa o motivo que leva a determinado julgamento. São conhecimentos que parecem ser “intuitivos, espontâneos”, chegam a parecer idéias inatas; ganhando desta forma status de paradigma. Mas não são. Paradigmas devem responder a perguntas fundamentais.
Quando o indivíduo entra em conflito com a cultura, por não encontrar as respostas que esta deveria fornecer a ele ou por se sentir agredido em meio aos processos culturais em andamento, sofre o risco de entrar em conflito consigo mesmo. Os aspectos normativos e costumeiros da cultura, são descritos por Durkheim como fatos sociais, que “existem fora do indivíduo, mas são interiorizados, passando a existir em suas consciências; e que só são externos no sentido de que lhes foram transmitidos socialmente [por meio do processo de endoculturação].” O conflito com a própria consciência gera grande angústia e sofrimento, podendo levar a comportamentos contraditórios.
Mas nem sempre estes comportamentos contraditórios podem ser considerados patológicos, especialmente por sua causa externa e por sua natureza obrigatória. Para Rosenhan, existem evidências consistentes de que comportamentos considerados anormais estão, em muitos casos, na mente dos observadores e não são sumários válidos das características demonstradas pelo observado. A própria normalidade, um paradigma necessário para caracterizar a doença mental em qualquer sociedade, não pode ser precisamente diagnosticada, como foi demonstrado nos experimentos realizados por ele em doze hospitais de cinco Estados norte-americanos.
O comportamento anormal pode ser a resposta do habitus do indivíduo para uma sociedade que oprime a subjetividade que ajudou a formar em conjunto com as circunstâncias. Mas é preciso encontrar um meio de adaptar-se em um sociedade confusa, dinâmica e arbitrária, pois o ser humano é extremamente dependente da sociedade para sobreviver. A resposta para esse problema passa por questionamentos que devem ser feitos tanto à sociedade quanto ao próprio indivíduo.
É identificando as perguntas fundamentais e impondo-as a si mesmo e aos paradigmas propostos por sua visão de mundo, que o indivíduo em sociedade consegue confrontar os valores que não lhe trazem real benefício, as falsas crenças e falácias. Dessa maneira poderá reconstruir sua visão de mundo, utilizando para isso valores que ele irá buscar de maneira crítica nos recônditos de sua subjetividade, com menor propensão a influências externas, gerais e coercitivas. Muito mais do que compreender as regras, poderá transformá-las em ferramentas para seus fins.
Somente aquele que consegue encontrar dentro de si mesmo, tudo que lá foi colocado sem a análise do seu próprio julgamento crítico; e, dispondo de coragem, libertar-se dessas amarras, mesmo quando parecer que não irá sobrar nada quando elas estiverem por terra, é que poderá encontrar-se consigo em sociedade de maneira equilibrada e livre.
Baseado em um trabalho para a disciplina de Sociologia.
2 comentários:
Excelente texto. Parabéns!
Excelente texto. Parabéns!
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