quarta-feira, 12 de março de 2008

Jack Kerouac - "Ou não?"

Jack Kerouac by John Cohen 1959Um homem que permite que a paixão selvagem floresça dentro de si, queima a seu próprio coração. Depois de queimar, vem o vento acender o fogo novamente, ou não, como pode ser o caso.

Não possuo nada para oferecer, além da minha própria confusão.

A vida é um portal, uma passagem, um caminho para o Paraíso. De qualquer forma, por que não viver para a diversão, o prazer, o amor?

As únicas pessoas, para mim, são as loucas. As que são loucas para viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, ávidas por tudo ao mesmo tempo. Aquelas que jamais bocejam ou dizem coisas usuais, mas que queimam, queimam, queimam como uma fabulosa vela romana explodindo como aranhas pelas estrelas e no meio você vê uma luz central azul acender deixando a todos estarrecidos.

Todos os seres humanos também são seres de sonhos. Sonhar é o que une a toda humanidade.

.:.

Com o que você sonhou hoje?

Estas citações são minhas próprias traduções interpretativas de frases memoráveis do escritor Jack Kerouac.

2 comentários:

Sheila C.S. disse...

Pessoas ávidas!!! Onde estão elas? hehehe
Ultimamente tenho sofrido de algo que poderia chamar "sufocamento pela avidez". Não é algo assim tão sério (hehehe), mas se trata mais do fato de uma certa solidão, aquela cheia de pessoas em volta. Tenho estranhado bastante a nova facul... Sinto uma diferença tão grande de onde eu estava, talvez porque tinha uma relação apaixonada com tudo lá...
Sinto-me sem espaço para falar e discutir, tudo me parece muito tradicional, sem espaço para que o aluno se mostre e compartilhe suas leituras e outros conhecimentos, é algo assim como se isso não interessasse, sabe? E talvez não interesse porcaria nenhuma mesmo!!! rsrs (Desculpe, eu sei, isso é mesmo um desabafo)
Mas então, eu leio essas palavras e parece que elas falam por mim, é horrível ser um "louco" só! Embora quase todos os loucos acabem sozinhos... Muitas vezes fico pensando que não conhecemos as pessoas a nossa volta, talvez nem as mais íntimas, porque não compartilhamos sincera e corajosamente as nossas avidezes (existe essa palavra?) Então, talvez o louco naturalmente acabe se tornando aparentemente alguém muito normal, por falta de parceiros na sua loucura.
Quando falo em loucura, não é nada que se refira a comportamentos excêntricos ou àquele tipo de loucura que beira ao ridículo, fazendo com que muitas pessoas por quererem transcender demais acabem por não respeitarem os seus verdadeiros "eus".
Para mim, a loucura está muito bem representada pelas palavras que você traduziu. É essa vontade de ir mais além e de não ficar no lugar comum... Isso não basta esporadicamente, será que você me entende? Não satisfaz uma vez ou outra. Em determinados períodos de minha vida convivi com pessoas que me faziam experienciar essa loucura dia-a-dia, ou seja, tinham uma visão de mundo compatível com a minha e a partir daí os diálogos que construíamos diariamente alimentavam minha alma, pois só consigo sentir-me verdadeiramente viva quando posso compartilhar conhecimento e tb desconhecimento, caso contrário, as ideias me sufocam...
Outro dia na faculdade, por acaso, comecei a conversar com algumas meninas e acabei almoçando com elas, recém as tinha conhecido. O assunto que predominou em nosso almoço foi tão verdadeiro, tratava-se de uma questão pessoal e conflitiva de uma das meninas, mas eu pensava, era conversa de verdade, pois ela se mostrava naquele momento, e todas nós ficamos sensibilizadas e envolvidas. Saí dali pensando que esse era um exemplo do que eu realmente sentia falta, de estar com pessoas que consigam estabelecer um vínculo verdadeiro, mesmo que momentâneo. Parece que saio um pouco do assunto da loucura, mas acredito que não, pois esse exemplo que trago é mais para mostrar que existem trocas que potencializam a vida, e outras que petrificam nossa alma. Pois bem... eu estou sempre a procura de contatos e trocas assim, mas me parece tão difícil. Por quê? Será que não consigo identificá-las? hehe Onde estão as pessoas "loucas"?(;

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Vou ter que fazer umas citações do que colocasse, para organizar as respostas...
"Sinto-me sem espaço para falar e discutir, tudo me parece muito tradicional, sem espaço para que o aluno se mostre e compartilhe suas leituras e outros conhecimentos, é algo assim como se isso não interessasse, sabe? E talvez não interesse porcaria nenhuma mesmo!!! rsrs (Desculpe, eu sei, isso é mesmo um desabafo)"
Nossa.. Essa colocação e a pergunta sobre "onde estão as pessoas ávidas?!" já me fez questionar sobre a minha própria realidade... Mas no teu caso, acho que seria prudente usufruir do tempo... Dá um tempo para que as coisas se mostrem em todas as suas facetas, quando achares que já foi dado tempo suficiente, quando achares que já foi dado tempo demais, tenta dar mais um tempinho, só mais um tempinho, não precisa ser pra sempre, mas é aquilo que o poema "If--" fala... Antes de soltar a corda, quando a mão dói (altas metáforas aqui), segura só mais um pouquinho... (:
Sabe, a tortura daquilo que não tentamos, que não fizemos, é pesarosa, mais pesada do que a tortura daquilo que tentamos e não deu certo. Infelizmente, em 28 anos de existência, e tendo feito bem mais loucuras do que a média das pessoas, eu já acumulei muita coisa sobre o quê pensar a respeito no sentido de não ter feito ou de não ter tentado com mais dedicação, com mais persistência...
Você fala de solidão, você fala de loucura, e eu entendo, nas tuas palavras, subjetividade...
A natureza da subjetividade é individual, é única... Posso te afirmar, e vc sabe disso tão bem quanto eu, que todos nós somos únicos enquanto criaturas, assim como toda criatura dotada de um sistema nervoso com uma complexidade que permita um número maior de combinações do que o número de criaturas da mesma espécie. Imagine então: existem cerca de umas 6.706.993.152 (seis bilhões e cacetada segundo estimado em julho de 2008)... Cada uma dessas pessoas tem cerca de cem bilhões de neurônios no sistema nervoso, e algo entre quinze e vinte bilhões de neurônios só nas partes diretamente importantes à vida relacional... Cada um destes neurônios pondendo fazer até dez mil conexões com outros neurônios... Ok, ficou complicado agora, mas essa é a idéia. Se algo tão simples como uma impressão digital já nos identifica, quem dirá o objeto mais complexo no universo conhecido, o cérebro humano. *Obs.: os números, com excessão da população terrestre, são os que eu me lembro agora de cabeça...
Então, nascemos sozinhos, interagimos com um sem número de pessoas, pessoas que conhecemos pessoalmente, fisicamente, pessoas que conhecemos só pelas idéias - nossos autores, teóricos e pesquisadores da atualidade - e pessoas que já morreram faz tempo.. Consumimos e adquirimos pedaçinhos importantes da experiência destas pessoas e esta colcha de retalhos, que inclui nossas experiências cotidianas, faz aquilo que somos, que é único para cada ser humano, seja são ou insano, seja saudável ou doente, gênio ou deficiente...
A mesma noção de solitude que temos ao escrutinar nossa existência - por algum dos vários caminhos que a filosofia nos oferece - também é a noção que nos impele a buscar a proximidade dos nossos pares humanos, a valorizar aqueles que estão próximos a nos, seja fisicamente ou em pensamento, esse é o verdadeiro ser humano filosófico, com uma capacidade de amar muito além daquele que simplesmente vive o óbvio desvelado -- com uma capacidade salutar maior, segundo a própria teoria original do Freud (onde a patologia reside na deficiência do amar, segundo entendo...)...
Vê que, quando não vamos além, quando não experimentamos e não "alopramos", não conseguimos mais do que o que já temos, do que o conhecido. Se o agora não nos dá o subsídio, a satisfação, que precisamos, então está na hora de pensarmos fora da caixa -- e os maiores malucos já classificaram a sanidade como uma "caixa apertada" (sem extrapolações indevidas aqui hehehehe)... (:
Heim Sheila, quanto maior nosso desconhecimento, melhores são as nossas perguntas né? Essa é a maravilha do estudo... O descontentamento, "a pulga atrás da orelha"... Se isso tivesse um fim não teria a mínima graça... :D
(Relacionado ao resto todo)... Acho que consegues identificar sim, as trocas que potencializam mudanças, que servem de degraus para que apenas nos deparemos com novos desconhecidos e que nos abram portas a serem exploras. Que beleza é ser assim. Que tristeza seria pensar ter todas as respostas. Precisamos da dúvida, da incerteza, para continuar em movimento. Vida é movimento, vida é momento. Aproveita essas diferenças, essas pequenas conexões, tão profundas, com pessoas diferentes, pensa sobre os questionamentos... Nada é irrelevante uma vez que é apreendido. Filosoficamente falando, não existe inverdade que possamos conceber, apenas verdades que não compreendemos, e são estes pequenos mistérios do cotidiano que solucionam as questões mais relevantes em psicologia -- penso eu... heheheh. (: