quarta-feira, 26 de março de 2008

Sobre a curiosidade que nos dirige

Curiosidade, palavra originária do latim curiositate, é uma emoção, uma adaptação evolucionária, que amplia as capacidades de um organismo provendo os mais simples planos de ação e a motivação necessária para a exploração de novos territórios. É um desejo forte de aprender, conhecer e investigar determinados assuntos, vendo, informando-se e desvendando, causando um comportamento natural e inquisitivo, comum e observável em várias espécies de animais.
Na teoria de psicologia evolutiva de Robert Plutchick, a curiosidade é uma das oito emoções básicas listadas, mas embora seja inata para muitas espécies de animais e possa ser localizada em seus genomas, a curiosidade não pode ser classificada como um instinto pois não possui um padrão de ações fixas, uma seqüência de comportamentos instintivos que é indivisível e não pode ser interrompida pelo animal que a inicia.
A curiosidade é comum aos humanos de todas as idades, se expressando de forma flexível mas com similaridades nas formas de exploração que são apresentadas. Crianças são privilegiadas com um senso de novidade que lhes reforça a curiosidade; já os cientistas fazem uso de um forte sentimento de curiosidade que lhes mantém o interesse e a motivação, sendo que, geralmente, é a curiosidade que faz com que um ser humano deseje se especializar em algum campo do conhecimento.
A curiosidade torna nossas mentes ativas na elaboração de perguntas e na busca de respostas, reforçamos o exercício da memória quando nos deparamos com assuntos que despertam a nossa curiosidade e nos tornamos receptivos a novas idéias. Por sempre se iniciar com uma pergunta, a curiosidade nos faz ver novas possibilidades e trás excitamento para nossas vidas e para o processo de aprendizagem.
Embora os seres humanos sejam muito curiosos, algumas vezes deixamos passar alguns objetos óbvios em nossas investigações, especialmente quando comparados a outros animais. Além de alguns dos nossos sentidos importantes para a busca de informações, tais como o olfato e a audição, não serem tão desenvolvidos quanto os de muitos animais que vivem na natureza, podemos nos deixar levar pela fantasia, pela imaginação ou pela mimesis (representações da natureza), por conta da nossa capacidade de ter curiosidade e investigar a emoção curiosidade (meta-curiosidade), como é o caso deste post, combinada ao nosso modo único de pensar, abstrair e tomar consciência de nós mesmos, de nossa própria curiosidade.
Devido aos intrincados processos mentais que a mente humana executa, por vezes levamos nossa curiosidade por campos que não podem ser considerados saudáveis ou mesmo úteis, nestes casos chamamos de curiosidade mórbida. É o tipo de curiosidade em que o objeto é a morte, a violência extrema ou outro evento que pode ferir física ou emocionalmente ao investigador ou a outras pessoas. São distorções e deformações que podem ocorrer na motivação de pessoas normais por forças contextuais, tais como tédio, pressão de um grupo, vieses cognitivos, etc, ou que podem estar associadas a algum tipo de patologia psiquiátrica. Outro fator que pode levar uma pessoa a desenvolver uma adicção mórbida por um certo assunto, ou mesmo por um assunto mórbido, é a pressão exercida por emoções de segunda ordem, aquelas que são fundamentais para garantir a sobrevivência mas que encontram-se presentes no ser humano, como subproduto de sua consciência quanto as suas emoções básicas; neste caso dizemos que é a ação das meta-emoções exercendo pressão sobre as emoções básicas, em especial sobre a curiosidade.
A curiosidade mórbida em sua forma mais atenuada, contudo, pode ser entendida como um comportamento catártico, inerente aos seres humanos. Para a psicanálise, da mesma forma que os chistes criam brechas para que o material reprimido em nossos inconscientes seja liberado na forma de um breve e seguro simulacro verbal, a curiosidade sobre diversas formas de desgraça, muitas vezes presentes nos chistes, também trazem o mesmo alívio temporário ao Ego, na luta entre Id e Superego. Em semelhança, Aristóteles comenta que nós chegamos a "gostar de contemplar justamente as imagens daquelas coisas que nos são mais doloridas."
Estes aspectos da curiosidade mórbida são estudados na forma da Síndrome do Acidente de Carro e da Síndrome do Acidente de Trem, que basicamente abordam a incapacidade da pessoa, ao transitar por um acidente , de não olhar com um certo interesse mesmo consciente do risco de se chocar com as imagens que irá ver, uma forma narcísica da pulsão de morte, eu diria seguindo pela linha psicanalítica.


Sites consultados:
Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Curiosity
Lifehack.org - 4 Reasons Why Curiosity is Important and How to Develop It by Donald Latumahina
Scholastic - Curiosity: the Fuel of Development by Bruce Perry

3 comentários:

Laura de Marco disse...

o meu blog é massa? então o teu é uma lazanha bem suculenta! heheh... adorei! e descobri que tenho curiosidade mórbida. :/

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Todos nós temos... Eu ficaria preocupado se você tivesse dito que não tem... hehehehe! (:
Eu gosto muito da explicação psicanalítica para essas facetas mais obscuras da nossa personalidade, mas independente da explicação, a aceitação de que temos isso conosco nos torna mais aptos a controlar e a lidar com estes impulsos. (desculpa.. eu sempre fico puxando essas explicações da manga...)

Laura de Marco disse...

"a aceitação de que temos isso conosco nos torna mais aptos a controlar e a lidar com estes impulsos"
é verdade... :) desculpa pelas explicações? eu que tenho que agradecer! ;*