sábado, 8 de março de 2008

Ética x Moral

O que é ética e o que é moral? Qual a diferença entre ética e moral?

Luiz Gonzaga de Souza responde a esta pergunta:
"A ética se confunde muitas vezes com a moral, todavia, deve-se deixar claro que são duas coisas diferentes, considerando-se que ética significa a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, enquanto que moral, quer dizer, costume, ou conjunto de normas ou regras adquiridas com o passar do tempo. A ética é o aspecto científico da moral, pois tanto a ética como a moral, envolve a filosofia, a história, a psicologia, a religião, a política, o direito, e toda uma estrutura que cerca o ser humano. Isto faz com que o termo ética necessita ter, em verdade, uma maneira correta para ser empregado, quer dizer, ser imparcial, a tal ponto a ser um conjunto de princípios que norteia uma maneira de viver bem, consigo próprio, e com os outros."
______. Ética e Sociedade. Biblioteca Virtual de Derecho, Economía y Ciencias Sociales.
http://www.eumed.net/libros/2006a/lgs-etic/1t.htm - Acesso em 8 de março de 2008.


E Bruno Rychlowski sintetiza:
"Ética é a ciência dos atos morais, vale dizer, atos conscientes e livres, cujo objetivo é a realização de um valor moral."
______. Ética: Conceptos de Ética y Moral. Apocatastasis - Literatura y Contenidos seleccionados.
http://www.apocatastasis.com/moral-etica-conceptos.php - Acesso em 8 de março de 2008.

Renan Bardine ainda esclarece que:
A moral é eminentemente prática; a ética é teórica e reflexiva.
A moral sempre existiu, pois todo ser humano [saudável] possui a consciência moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive; a ética teria surgido com Sócrates e a investigação das normas morais, levando o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência.
A ética julga o comportamento moral das pessoas.
______. Moral e Ética: dois conceitos de uma mesma realidade.
http://www.coladaweb.com/filosofia/moral.htm - Acesso em 8 de março de 2008.

Por exemplo, algumas comunidades da África e da Ásia extirpam o clitóris de suas mulheres e acreditam que este comportamento seja moral dentro de suas tradições culturais, práticas sociais e convicções religiosas. Podem eles alegar que esta tradição moral seja ética? Pelo visto até aqui, não.
Outro exemplo é a obediência militar à cadeia de comando. Pode ser considerada como obrigação moral, mas não é necessariamente ética.
Entendo agora que a ética cessa de existir quando o ser humano não age racionalmente, e são muitos os casos em que as pessoas são levadas a agir assim.

Por fim, fica aqui a pergunta: seria correto dizer que seres humanos saudáveis possuem moral e que sofredores psíquicos com deformações no caráter, tais como sociopatas, precisam de ética para compensar sua deficiência moral? Seria este o fator determinante de sucesso profissional e social de alguns portadores de personalidade anti-social? Aí está o objeto de uma bela discussão.
Para mais detalhes sobre a questão moral e a patologia, é interessante dar uma olhada no famoso caso de Phineas Gage; e para mais informações sobre o desempenho portadores de personalidade anti-social em sociedade, ver Davidoff, Introdução à Psicologia, p. 581-3.

Adendo (09 de março):

Pedi uma ajuda pra minha amiga Biga, para saber qual era a opinião dela, e ela me citou os comentários do Deleuze sobre o Foucault, uma informação extremamente valiosa, que vou colocar aqui:
(entrev.) "- No que você chama de "modos de existência", e que Foucault chamava de "estilos de vida", há uma estética da vida; você o lembrou: a vida como obra de arte. Mas também uma ética!

(Deleuze) " - Sim, a constituição dos modos de existência ou dos estilos de vida não é somente estética, é o que Foucault chama de ética, por oposição à moral. A diferença é esta: a moral se apresenta como um conjunto de regras coercitivas de um tipo especial, que consiste em julgar ações e intenções referindo-as a valores transcendentes (é certo, é errado...); a ética é um conjunto de regras facultativas que avaliam o que fazemos, o que dizemos, em função do modo de existência que isso implica"
IN: DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: 34, 1992. p. 125-126.

4 comentários:

Sidarta Rodrigues disse...

Quero parabenizá-lo pela inciativa de criar um blog com este escopo - e mais - com um conteúdo de qualidade.

Conheci-o recentemente e ja faço visitas constantes. é muito bom saber que há acadêmicos de Psicologia que possuem tal postura de investigaçao.

abraços, sidarta

Unknown disse...

Olá Parabéns pelo seu blog

Proposta de discussão para o blog : Será a pena de morte eticamente aceitável ou não ?

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Oi Rosilda.

Boa essa sugestão para uma discussão quanto a pena de morte. Atualmente meu tempo livre para escrever é bem curto, logo tal post provavelmente vai demorar a vir. Mas já posso adiantar: na filosofia jurídica do Brasil, que sofreu bastante influência da filosofia jurídica italiana, a pena de morte e a pena de prisão perpétua não são válidas.
Pessoalmente, concordo com esta posição por muitos motivos, tais como:
1. O valor da vida humana não pode ser quantificado, de forma que matar o assassino não trás de volta a vítima e não "compensa" a perda aos familiares da vítima e à sociedade;
2. A pena na justiça brasileira se fundamenta em 3 aspectos: punição, retribuição e ressocialização. O cerceamento da liberdade de ir e vir e dos direitos civis funciona como punição, o aspecto retributivo deveria vir, na minha opinião, na forma de trabalho que o apenado faria para a sociedade, trabalho que serviria para a ressocialização, juntamente com outras práticas, como a assistência social e à saúde. Evidentemente, estes três aspectos também urgem por políticas de prevenção ao crime e de prevenção de reincidência no comportamento criminal;
3. Ideias de matar criminosos, ou de jogá-los em uma cela e esquecer a chave, ou ideias piores ainda como a de que o apenado mereça sofrer maus tratos e ser brutalizado quando sob os cuidados do Estado, são muito apelativas para o povo, e são frequentemente evocadas por figuras irresponsáveis da mídia. Não é a toa que o Brasil é um dos países no qual o linchamento mais acontece. Estas ideias e estes eventos nada mais são do que um retrocesso à barbárie, um retrocesso às trevas da razão;
4. Um dos motivos para existir Estado e existir Governo, com seus três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), é agir com retidão, dentro da razão e de forma objetiva, calcado em preceitos éticos e justos, quando isso é humanamente impossível ao cidadão comum. Todos nós ficamos indignados quando nos deparamos com situações de grave violência, mas cabe ao Estado dar uma resolução a tais situações de uma forma civilizada e exemplar;
5. Evidentemente existe o Estado Ideal e o Estado Real. Nossas leis, especialmente as constitucionais e toda a lógica por trás delas, delineiam um Estado Ideal e realmente muito bem pensado. Por outro lado, trazer este Estado Ideal para a realidade, sobrepondo-o ao Estado Real, não é tarefa fácil, requer muitos recursos e muitos estudos e tentativas. Mas pelo menos, enquanto cidadãos, somos amparados pela lei para exigir que a lei se cumpra, na melhor capacidade que o Estado e a sociedade são capazes de proporcionar, o que é muito bom no Brasil. Veja que digo que este é um trabalho conjunto do Estado e da sociedade pois um é reflexo do outro e são interdependentes.

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Em síntese, o que quero dizer é que os princípios legais brasileiros são muito bons e isso irá se tornar cada vez mais evidente na medida em que o Estado tiver melhores condições de empregar esses princípios em sua totalidade, trabalhando os aspectos punitivos, retributivos e ressocializadores da pena.

Enquanto cidadãos, devemos fazer a nossa parte, agindo dentro da lei e proporcionando a melhor educação possível para nossos filhos, não apenas na escola, mas principalmente dentro de casa. Se queremos viver num Estado de legalidade, no qual a vida humana possui valor supremo e os direitos humanos são respeitados, devemos formar cidadãos, em nossos filhos, que tragam esses princípios dentro de si. Uma boa forma de evitar que nossos filhos cometam atos violentos, por exemplo, é jamais agindo com violência para com eles. Na minha formação em Psicologia, nunca vi nada que justificasse uma palmada. Bem pelo contrário. Como podem os pais pedirem aos filhos que resolvam seus problemas por meio do diálogo, se os próprios pais não dão o exemplo e resolvem seus problemas com seus filhos na base da agressão física e/ou verbal? Sentar com os filhos e dialogar, negociar uma solução, dar exemplos bons, é mais trabalhoso no início, mas com isso se colhe bons frutos e se constrói uma sociedade melhor. No mais, o que pais também devem fazer, é proteger os filhos das fontes externas de violência e procurar incentivar práticas socializadoras, de convivência grupal, como os esportes e outras formas de lazer saudável.

Termino com algumas sugestões de leitura, para essa questão de pena capital, etc:
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas. Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/beccaria.htm
IHERING, Rudolph. A Luta Pelo Direito. Resumo disponível em: http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/1555/A_LUTA_PELO_DIREITO_DE_RUDOLF_VON_IHERING
Sobre a educação dos filhos, um bom ponto de partida é este ótimo post no blog do Psic. Anderson: http://analiseesintese.blogspot.com/2009/11/sobre-educacao-de-filhos.html