terça-feira, 1 de abril de 2008

O conhecimento como resultado da interação entre o organismo e o meio

Questionário sobre o texto "O conhecimento como resultado da interação entre o organismo e o meio." In: Ramozzi-Chiarottino, Zelda. Psicologia e Epistemologia Genética de Jean Piaget. São Paulo : EPU; 1988.

1. O que é conhecer?
Piaget procurou responder perguntas clássicas da Filosofia, dentro de uma abordagem psicológica, tais como: de que maneira é possível alcançar o conhecimento e sobre o que é possível conhecer. Para ele, alcançamos o conhecimento por meio do mundo que nos rodeia, incluindo tanto objetos materiais quanto objetos imateriais, como idéias e valores, tudo aquilo que pode ser considerado como um objeto do conhecimento, que pode se dar a conhecer.
Para Piaget, conhecer é organizar, estruturar e explicar, partindo daquilo que é experienciado; e para experienciar é preciso agir sobre o objeto do conhecimento, criando relações e associações com o objeto, criando um sistema de relações entre o que se está vivenciando e outros objetos já adquiridos.

2. Como conheço o mundo?
Piaget fala sobre uma estrutura onde os objetos do conhecimento precisam estar inseridos para adquirirem significação. Isso remete às teorias lingüísticas: uma palavra, tal como “porta” não possui significado nenhum se não estiver inserida em um contexto. Da mesma maneira, é interessante notar, uma palavra dotada de um conceito sobrevive à aniquilação de seu objeto de origem. Por exemplo, se o nome João morresse juntamente com seu portador, a frase “João morreu.” não seria inteligível para o ouvinte, como no exemplo clássico de Wittgenstein.
Mais que isso, o conceito adquirido pelas palavras se transmite e se transforma, tudo de maneira imaterial e, muitas vezes, sem a interferência ativa do objeto do qual se originou.
O que é interessante, e acrescentado por Piaget, é que os atos de significação não estão restritos à formação lingüística, como fica demonstrando pelo ato considerado como sendo o primeiro em sua teoria, o de sugar. Tal ato adquire significados, tais como o de saciedade, conforto, carinho, estar sendo cuidado e atenção, antes mesmo da maturação das estruturas necessárias para o desenvolvimento da linguagem, e é assimilado para a realidade daquele que conhece.
Outro ponto interessante da teoria piagetiana do conhecimento é a afirmação de que a significação é resultado da possibilidade de assimilação, para conhecer é preciso primeiro reconhecer. Isso lembra outra ilustração de Wittgenstein, conforme relato de Richard Dawkins:
“Wittgenstein estava conversando com um amigo seu, quando perguntou:
- Por que, durante tantos séculos, o homem acreditou que o Sol girava em torno da Terra?
Ao que o amigo respondeu:
- Ora... É óbvio: porque parece que o Sol está girando em torno da Terra.
E Wittgenstein encerra com uma outra pergunta:
- E como deveria ser para parecer que a Terra está girando em torno do Sol?”
Assim, é preciso mais do que se deparar com um fato, como o ciclo dos dias no exemplo anterior, para realmente conhecê-lo.
Piaget ainda vai mais longe e compara o ato de conhecer desempenhado pela criança ao ato de conhecer desempenhado pelo cientista, daí o sujeito epistêmico, que cria relações – ou associações – entre os objetos e busca o conhecimento de forma crítica.

3. O que ocorreu e o que significou na vida de Hellen Keller a capacidade de conhecer?
Para Hellen Keller, a possibilidade de realizar trocas com o meio e organizar as informações obtidas significou a transformação de uma criança, que apresentava um certo retardo mental, em uma mulher adulta de sucesso. Foi a superação de um “déficit” cognitivo que lhe permitiu uma vida produtiva.

4. Associe a idéia piagetiana de conhecer com os conteúdos do tópico sensação.
Segundo Myers, em seu livro Psicologia, sensação é a energia física proveniente do ambiente externo e interno que somos capazes de detectar com nossos sentidos conscientes e inconscientes, e percepção é a seleção, organização e interpretação das sensações conscientes.
Por meio dos nossos sentidos vivenciamos o ambiente, mas para percebermos o ambiente, precisamos experienciá-lo, ou seja, interagir com o ambiente das diversas formas possíveis. Podemos tomar como exemplo a experiência que pode ser obtida por meio de uma simples flor: a beleza das suas formas e cores pode ser vista a distância, mas precisamos nos aproximar para sentir seu aroma, precisamos tocá-la para sentir a textura de suas pétalas e, mais do que isso, precisamos associar tudo isso que pode ser percebido pelos nossos sentimentos para enxergar seu lirismo.
A experiência pode ser tomada de muitas maneiras diferentes, tal qual a experiência daquele que planta uma flor no jardim, na frente de sua casa, e rega a flor, a vê crescer, pensando no dia em que irá colhê-la para fazer um agrado para a pessoa que é objeto do seu amor. Esta experiência encontra um impasse imprevisto quando, em uma madrugada qualquer, um boêmio de coração partido se depara com esta mesma flor e associa suas pétalas molhadas pelo sereno ao beijo de um amor perdido. Será que ela irá ser colhida na antevéspera do destino planejado pela mão que a plantou?
As associações subjetivas que o ser humano faz não são determinísticas, sendo que a previsibilidade da experiência humana é muito menor do que aquela que pode ser obtida em um laboratório estéril. Além disso, os contextos se transformam e as experiências não podem ser replicadas, como quer o método científico.
Daí a necessidade da atenção, privilegiada pela novidade nem sempre percebida no contar dos dias e, justamente por isso, prejudicada pelo nosso nível de atenção consciente e limites de projeção quanto ao que irá nos somar felicidade no futuro.
Quando estudamos concentramos nossa atenção no objeto de estudo, mas dificilmente temos a chance de vivenciar tal objeto com mais do que um ou dois de nossos sentidos conscientes, daí a necessidade de por a prova as informações adquiridas pelos métodos normais de assimilação e aprendizagem. Isso é especialmente verdade em relação aos conhecimentos instrumentais que só trarão algum retorno quando utilizados na resolução de problemas do mundo real, ao contrário daquele conhecimento subjetivo que possui a capacidade trazer gratificação pela associação à nossa própria experiência subjetiva.
Quanto mais objetos assimilamos à nossa estrutura do conhecer, maior a nossa capacidade de experienciar, assim foi demonstrado no caso de Hellen Keller, mulher com um “déficit” cognitivo que adquiriu autonomia a medida que lhe foram estruturadas as ferramentas básicas de organização e interpretação daquilo que sua percepção lhe propiciava – organizando sua vida psíquica ela pôde dar rumo a sua vida em sociedade.

5. Como entendes a diferença entre “ser” inferior e “estar” inferior? Há ligações possíveis com os assuntos abordados em aula?
Aquilo que “é” não possui plasticidade, não pode ser alterado, adaptado e nem pode ser substituído. É estático, imutável e determinado.
Muitas vezes as pessoas que apresentam deficiências de fundo físico ou psicológico são tidas como sendo aquilo que é manifestado sintomaticamente por suas doenças, em desrespeito à capacidade humana de adaptação e superação.
A estas pessoas são restringidos os recursos de atualização que o meio proporciona àquilo que Piaget chamou de estruturas nada programadas. Por outro lado, a prática de profissionais dedicados e casos como o de Hellen Keller demonstram que é possível promover a atualização de tais estruturas básicas ao processo de assimilação quando os recursos apropriados são direcionados às necessidades especiais que tais pessoas apresentam, de modo que tais estruturas geneticamente inerentes ao ser humano sejam requisitadas.
A deficiência é o estado daquele que não obteve do meio a interação necessária para que a experiência construtiva ocorresse em sua vivência diária, não são formados os esquemas. Segundo Piaget, faltou-lhes a solicitação para que a acomodação, necessária à adaptação, fosse viável.

6. Qual a tua opinião sobre os três tipos de estruturas do organismo humano propostas por Piaget? Justifica.
No texto são citadas as seguintes estruturas do organismo da teoria de Jean Piaget: estruturas totalmente programadas, estruturas parcialmente programadas e estruturas nada programadas. As estruturas totalmente programadas são previsíveis e geneticamente determinadas, as estruturas parcialmente programadas dependem da ação para o desenvolvimento e para a construção do conhecimento por meio da interação com o ambiente, e as estruturas nada programadas são aquelas determinantes ao ato de conhecer, como estruturas mentais.
As estruturas são interdependentes e relacionam-se entre si, uma vez que as estruturas necessárias ao ato de conhecer precisam ser ativadas por solicitação do meio, e as estruturas para interação com o meio dependem do desenvolvimento das estruturas nada programadas dentro de um contexto provido, por sua vez, pelo próprio meio.
A teoria construtivista de Piaget pode ser resumida da seguinte forma: “A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento.” (Silvia F. M. Brandão)
A teoria na sua forma estrutural parece fazer sentido e encontra respaldo na sua aplicação em diversas áreas, do ensino infantil ao estudo de formas de inteligência artificial.

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