terça-feira, 13 de maio de 2008

Divagações sobre a verdade

A verdade

O falso e o verdadeiro não estão na coisa mesma, mas no juízo, no valor de verdade da afirmação, no qual se estabelece o vínculo entre sujeito e objeto. Há verdade ou não dependendo de como aparece para o sujeito que conhece. Por isso dizemos que algo é verdadeiro quando é o que parece ser.


...

"A verdade não existe." Se a afirmação anterior é verdadeira, então ela é falsa. Porém, se for falsa, não se torna verdadeira. É um argumento auto-refutável.
A verdade natural existe, apenas não é diretamente apreensível para nós humanos... Contudo, o mesmo não é verdadeiro no tocante às verdades das criações humanas. Por exemplo: podemos afirmar com certeza que "kabum" é uma onomatopéia, enquanto figura simbólica de linguagem representativa de um som. Esta é uma verdade lingüística e pode ser assim estabelecida porque a linguagem é uma criação humana.
Porém não podemos afirmar que o símbolo é representativo da totalidade da qualidade sonora de uma explosão. Da mesma forma que não podemos afirmar que, porque nossos sentidos auditórios se desenvolveram da maneira como se desenvolveram, a única maneira de apreender o som é por meio da audição. O mesmo vale para a representação do som, que pode se dar de diversas formas gráficas, como em osciloscópios, escalas de decibéis, escalas musicais ou onomatopéias pronunciadas ou escritas, e mesmo em formas que nem imaginamos. Algumas são mais fidedignas e ilustram uma maior quantidade de qualidades do som, como intensidade, tempo e tom, mas serão estas todas as qualidades do som? Ou terão qualidades que nos escapam por nossos sentidos não serem capazes de captá-las? Nossas formas de representar o som são baseadas nas qualidades que captamos dos mesmos. Em última instância até damos forma ao som com radares e ultrassons, coisa que não passava de mera abstração intelectual antes do advento destas tecnologias.
Então, somos capazes de conhecer a verdade dentro do limite que nossos sentidos e tecnologia nos permitem explorar a natureza, mas esta realidade é sintética, é criada dentro de nossa escala morfológica e dependente dos nossos sentidos e capacidade de simbolizar. E somos capazes de conhecer a verdade, enquanto verdade real e última, no que diz respeito às nossas próprias criações.
Mas então fica a pergunta... Seria a verdade da criação para o criador a mesma verdade daqueles que utilizarão sua criação? Até que ponto todo conhecimento é apenas interpretação sobre interpretação sobre interpretação? Concordaria Platão com aquilo que é dito sobre sua filosofia nos dias de hoje? Estariam os estudiosos de Platão mais corretos sobre a teoria de Platão do que o próprio Platão?
Se sim, então todo conhecimento é interpretativo. E não existe verdade nem no âmbito da criação humana, uma vez que esta morre com o criador.
Mas não parece ser assim, compreendemos que as teorias são passadas como verdades absolutas e que, ainda que se provem erradas e ultrapassas, acabamos acreditando que aquilo que entendemos dos seus conceitos são a verdade quanto aquilo que seus conceitos queriam dizer, sobre a representação que estes eram do insight do seu criador. Só que muitas vezes aquilo que nos parece natural e evidente se prova apenas um recurso evolutivo-adaptativo ou mera precipitação do nosso julgamento. Um destes casos pode se provar correto, ou ironicamente verdadeiro?, quanto a verdade e a certeza do arcabouço intelectual humano acumulado ao longo de gerações. Mas ninguém gostaria realmente de falar sobre isso, gostaria?
Quando Wittgenstein afirma que o nome não morre junto com o seu portador, devemos entender que o significado único daquele nome para cada pessoa que conheceu direta ou indiretamente o portador e para a qual, portanto, este faz parte do real, permanece "vivo" (nome-palavra-significado), ainda que com o acréscimo da informação "morto" (corporeus). Desta forma a verdade também morre, ficando apenas as palavras que não são mais do que uma mumificação das idéias que um dia viveram na mente de alguém que já não é mais.

Nenhum comentário: