terça-feira, 22 de julho de 2008

Albert Ellis e a Terapia Racional Emotiva Conduccional

Segue uma tradução de um trecho de um vídeo, disponível no Google Video, onde Albert Ellis explica sua Terapia do Comportamento Emotivo Racional. Como é uma tradução de um discurso falado, provavelmente espontâneo, a linguagem pode ser um pouco confusa; mas acredito que a leitura seja válida para conhecer algumas das idéias deste psicólogo, nas suas próprias palavras:

"A Terapia Racional ou Terapia do Comportamento Emotivo Racional, TCER, é baseada em várias proposições fundamentais, ou hipóteses.
E a primeira delas é a de que o passado não é crucial na vida de uma pessoa; o passado afeta bastante uma pessoa, mas esta pessoa afeta a si mesma muito mais do que o passado a afeta. Pois não importa o que ela aprendeu durante o seu desenvolvimento histórico, a única razão para que estas coisas que aconteceram a ela, que foram ditas a ela, continuem afetando ela agora, é por que ela continua doutrinando a si mesma com as mesmas filosofias de vida, os mesmos valores, que foram inicialmente incorporados e ensinados a ela, muito cedo, durante a sua infância.
Nós nos firmamos grandemente no presente, na Terapia do Comportamento Emotivo Racional, ao invés do passado. E nós acreditamos, que as experiências atuais do indivíduo, repletas de emoções negativas e comportamentos auto-derrotistas e ineficientes, são causadas por que o indivíduo, agora, continua doutrinando a si mesmo, com aquilo que chamamos de simples frases exclamatórias, que envolvem idéias.
Seres humanos podem introjetar idéias, em todos os tipos de linguagem - em figuras, linguagem de sinais, em expressões não verbais, equações matemáticas, por exemplo -, mas eles normalmente falam consigo na sua linguagem nativa. E quando eles falam consigo de maneira irracional ou ilógica, eles criam, literalmente, seus sentimentos negativos, ou emoções e comportamentos que se seguem.
Apenas para citar um exemplo, o indivíduo geralmente diz para si mesmo, quando está chateado, primeiro sentenças sãs, depois sentenças insanas. As sentenças sãs são algo do tipo: 'Eu não gosto daquilo que fiz, eu estou descontente com meu próprio comportamento.' E isso seria bom, mas infelizmente o que se segue são as sentenças insanas, nas quais ele diz para si mesmo: 'E porque eu não gosto do meu comportamento, eu sou uma droga, sou um inútil, eu não sou bom para nada.'
E estas sentenças razoavelmente insanas, que são sentenças de fé infundada, em fatos que não possuem evidências empíricas, que remetem a superstições ou a sistemas religiosos dogmáticos, criam o que conhecemos como ansiedade e, através da ansiedade, a depressão, a culpa e as outras formas de auto-derrotismo.
Ou então, o indivíduo diz para si mesmo as mesmas formas de sentenças sãs, quando ele pensa: 'Eu não gosto do teu comportamento.' Quando alguém agiu de forma inapropriada para com ele e, ao invés de seguir esta linha de pensamento com algo do tipo: 'E, mesmo que eu não goste do teu comportamento, eu ainda posso suportá-lo, e vou tentar modificá-lo.' Ele pensa: 'Eu não posso suportar o teu comportamento.' De uma maneira absolutamente categórica, onipotente e determinística, ele procede com: 'Você não deveria ser da maneira que você é, porque eu não gosto da maneira que você é.'
Agora, é o segundo tipo de sentença, as sentenças 'Ser', que chateiam o indivíduo. Outra maneira de se refirir à elas, é como Epitetus, o filósofo romano, disse muitos anos atrás: 'Não é o que acontece conosco que nos chateia, é SER, ou VER o que acontece conosco.' Na Terapia do Comportamento Emotivo Racional nós vamos atrás deste indivíduo, da visão do paciente, e mostramos para ele que, o que quer que ele pense que o está chateando - geralmente alguma situação externa, algo que uma outra pessoa fez - é, na verdade, o que ele está dizendo a si mesmo sobre esta situação, este evento. É isso que o chateia.
E ainda que ele jamais seja capaz de fazer algo em relação a este evento externo 'A', ele pode sim modificar o evento interno 'B', suas sentenças, suas crenças para consigo mesmo.
Na Terapia do Comportamento Emotivo Racional nós tentamos mostrar para o paciente três tipos de insight, o que nos distingue de algumas outras terapias que enfatizam apenas um insight principal. O primeiro tipo de insight que tentamos mostrar para ele é que todos os seus comportamentos, especialmente seus comportamentos negativos e derrotistas - nos quais nós estamos interessados e os quais estão chateando ele -, possuem antíteses ideológicas bem evidentes. Ele pode ter aprendido estas teses no passado, mas agora, neste momento, ele ainda continua acreditando nestas mesmas teses, caso contrário ele não conseguiria sustentar o comportamento negativo que se origina delas.
O insight número dois, que é o mais importante e que é, infelizmente, negligenciado em outros sistemas de psicoterapia, é que ele, criatura, 'o animal simbólico' como Ernst Cassirer disse certa vez, está continuamente doutrinando a si mesmo com estas ideologias, e este é o problema, é por isso que ele está agora perturbado.
E o insight número três é que, mesmo quando ele ver claramente o que ele está dizendo a si mesmo, e que o que ele está dizendo para si mesmo não faz sentido, apenas através do trabalho e da prática, continuamente repensando e reavaliando suas próprias assunções filosóficas, é que ele irá, eventualmente, melhorar.
Agora, nós damos ênfase ao fato de que AÇÃO também é necessário para mudar o indivíduo. Apenas falar sobre as coisas, e pensar sobre as coisas, é bom, mas não é a única condição necessária para que ocorra a mudança psicoterapêutica. O que o indivíduo tem de fazer, geralmente, é agir; e desta forma nos damos tarefas concretas a serem realizadas fora do ambiente terapêutico, e acompanhamos a execução destas tarefas e seus resultados conseguintes para saber se ele as está realizando.
E nosso objetivo final é fazer com que o indivíduo aprenda, e aprenda para o resto de sua vida, a desafiar e questionar seu próprio sistema de valores, seus próprios pensamentos, de maneira que ele realmente pense por si mesmo. Ele deve fazer isso, especialmente, quando ele se sentir miserável, quando ele se sentir ansioso, ou deprimido, ou culpado, ou frustrado demais, ou qualquer outra coisa que seja negativa quando ele se comportar muito ineficientemente.
Finalmente, quando ele estiver capacitado em pensar e repensar suas assunções, ele irá poder aplicar o que chamamos de o método científico às facetas da vida humana, e poderá ser verdadeiramente científico em seus comportamentos, questionando e desafiando suas próprias conclusões a maneira como fazemos na ciência, conseguindo minimizar ou, eventualmente eliminar, as terríveis ansiedades e as hostilidades atrozes que infelizmente afetam a maioria de nós nesta existência."

Faço algumas observações, neste primeiro momento, após ter assistido ao vídeo e traduzido esta introdução... A essência da Terapia do Comportamento Emotivo Racional ou, pelo menos, do sucesso nesta terapia, é justamente desprogramar ou desconstruir boa parte daquilo que a sociedade, em especial nos seus mecanismos de coerção e doutrinação, fazem com o indivíduo. Desde cedo a escola, a religião, nossos pais e a televisão nos ensinam como devemos pensar, o que devemos sentir, como devemos nos sentir em relação a cada tipo de situação ou evento e o que devemos desejar. Como boa parte destes ensinamentos, ou teses, ou hipóteses, seja lá como se queira chamar, são direcionados à interesses de terceiros, e não, realmente, aos interesses dos indivíduos envolvidos, não é de se surpreender que, a medida que estes mecanismos de doutrinação fiquem mais sofisticados, o nível de funcionamento relacional e pessoal do invidíduo fique mais e mais comprometido, sendo que a população que sofre de ansiedade, estresse e frustração é cada vez maior.
Pensar numa abordagem terapeutica para contrabalançar isso, é muito bom, mas também devemos questionar o que a própria sociedade, uma vez que esta não deixa de ser produto direto ou indireto das ações e escolhas de cada um de nós, está fazendo com os indivíduos e se esta é a sociedade que queremos.
Outra observação que faço é quanto ao nome da linha proposta por Ellis: Terapia do Comportamento Emotivo Racional. Eis ai um grande oximoro por nome! As palavras Racional e Emotivo, usadas no mesmo contexto, de maneira complementar, são quase um contra-senso... Digo quase pois, pessoalmente, não sei até que ponto é possível ser verdadeiramente emocional, ser legítimo para com suas emoções, sendo racional. Mas não faço disso uma crítica pessoal ao pensamento de Ellis, uma vez que entendo que esta seria uma interpretação totalmente equivocada do proposto por ele: reprogramar a racionalidade subjacente ao pensamento do indivído de maneira que esta faça com que a sua racionalidade manifesta e os sentimentos que brotarem dele sejam mais positivos e eficientes.

Ps.: em países de língua portuguesa, a terapia de Ellis parece se chamar Terapia Racional Emotiva Conduccional, mas prefiro a minha tradução, uma vez que o nome original em inglês é Rational Emotive Behavior Therapy.

Link para o vídeo no Google Video: Albert Ellis

Um comentário:

Unknown disse...

Olá, existem muitos rio-grandinos escrevendo na internet, quem sabe criamos uma rede indicando os locais para que nossos "leitores" conheçam o blog de outros conterrâneos? Abraços.

www.blogdoprotasio.blogspot.com