segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Princípios Básicos do Humanismo Secular

Crença na Razão Humana e no Método Científico: O nosso conhecimento do Universo é limitado e como tal existem fenômenos para os quais a humanidade ainda não encontrou uma explicação. No entanto, o fato de desconhecermos qual a explicação para um fenômeno, não significa que esse seja um fenômeno sobrenatural. Significa simplesmente que estamos perante algo que merece a nossa investigação.

O Ser Humano como um produto da Natureza: O ser humano é um ser constituído por matéria e é produto da Natureza. A consciência do homem está ligada aos mecanismos da sua mente. Como tal, o Humanismo não aceita que o ser humano tenha uma alma eterna ou consciência após a morte.

Cada ser humano como uma criação única: Cada ser humano tem algo de único e valioso que o distingue dos demais e que deve ser valorizado. O verdadeiro Humanista é alguém tolerante, que valoriza a diversidade e a diferença existentes em cada indivíduo.

Fé na Humanidade: O Humanismo acredita nas capacidades da humanidade para resolver os seus problemas, com base na Razão e na Ciência, sem recurso a qualquer ente superior. Dado que racionalmente não é possível provar a existência ou inexistência de um Deus, os Humanistas são geralmente Agnósticos ou Ateus.

Oposição ao Determinismo, Fatalismo e Predestinação: Os seres humanos, apesar de condicionados pelo seu passado, possuem capacidade para decidir e alterar o seu futuro.

Crença numa Ética e Moralidade humanas: A Ética e Moral, enquanto ferramentas essenciais para o funcionamento de uma sociedade harmoniosa, devem ter como base a razão humana. Um Humanista não aceita que lhe imponham valores morais escritos num qualquer livro sagrado ou determinados por suposta inspiração divina. A regra de Ouro de qualquer humanista será "Trata os outros como gostarias que tratassem a ti próprio".

Tem como objetivo a Felicidade e o Progresso da Humanidade: A todos os níveis e para toda a humanidade, sem exceções.

Luta pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade: Como membros da espécie humana, é nossa responsabilidade lutar para que estes valores se tornem uma realidade.

Contribuição para a Comunidade: O Humanismo acredita que o indivíduo pode alcançar uma vida feliz, equilibrando a sua satisfação pessoal, com o empenho em contribuir para o bem estar de todos.

Apreciação da beleza das realizações humanas: A mente humana tem produzido Arte e Conhecimento do qual se deve orgulhar. O contato com o produto do gênio humano é algo que enriquece e aumenta o prazer pela vida. Todos os seres humanos devem ter a oportunidade de se aperceberem do seu potencial e de o utilizarem em atividades onde se sintam realizados.

Separação entre o Estado e a Igreja: Todos devem ser livres para seguir a sua fé, qualquer que ela seja. Como tal, para que não haja a imposição das crenças de alguns sobre os outros, fato que demasiadas vezes gerou conflitos e mortes desnecessárias, a fé não deve ser autorizada a imiscuir-se nos assuntos do Estado.

Ênfase na Qualidade de Vida: Apesar de os Humanistas defenderem uma prosperidade material crescente, o bem estar material não é suficiente para garantir a felicidade e realização de ninguém. Conseqüentemente, o Humanismo discorda do materialismo e da tecnologia pela tecnologia.

Conforme o texto de Miguel Duarte.

Então, que negócio é esse de Humanismo?
Humanismo, ao meu ver, é buscar uma maior compreensão quanto a humanidade, quanto a como é possível melhorar as condições de vida para todos os seres humanos, quanto ao papel dos seres humanos em sua interação com o meio-ambiente, com as demais espécies.
Humanismo é aceitar que a humanidade já foi capaz das maiores atrocidades que podem ser imaginadas, seja em dramas individuais ou em tragédias que atingem toda uma gama de indivíduos e transpassam a própria espécie humana; mas não perder a fé na capacidade da humanidade em se aprimorar, em evoluir seu comportamento para algo mais adequado, ético e sustentável.
Os erros que foram cometidos pela humanidade devem servir de lição, para que não sejam repetidos ou reeditados. E os erros que ainda são cometidos pela humanidade não devem fazer com que nós, humanos, olhemos para a espécie da qual fazemos parte com desesperança ou com sentimentos negativos, mas devem ser motivo para nossa ação em busca de tentar mudar o que está errado.
Quanto ao determinismo, entendo que é fútil lutar contra a lógica: o ser humano é determinado pelas suas ações, pelas oportunidades que teve, pelo conhecimento que detêm. Entendo que ninguém faz algo que considera ser realmente ruim, a não ser por ignorância. Todos fazem o melhor que são capazes de fazer, a todo momento. Quando alguém faz algo muito reprovável, algo realmente lamentável, entendo que a cadeia de eventos na vida daquele indivíduo o levou a tomar tal atitude, incluindo os determinantes genéticos, familiares, sociais, culturais e econômicos que estão envolvidos na dinâmica da vida de cada ser vivo. Se alguém faz algo de louvável ou grandioso, entendo que isso é produto da cadeia de eventos na vida dele, mais do que seu mérito individual.
Por acreditar nesta visão de existência, penso que todos devem ter o direito de uma vida repleta de oportunidades, em pleno contato com o conhecimento, e livre de qualquer forma de violência.
Por acreditar nesta visão defendo que o conhecimento é um bem maior, que deve ser de livre e fácil acesso para todos. Neste sentido, a propriedade intelectual, da maneira como é praticada nos dias atuais, é um grande mal. Existem meios de assegurar a responsabilidade por aquilo que é produzido intelectualmente, obter sustento disso e, ainda assim, permitir que o que é produzido seja amplamente utilizado por todos, inclusive por aqueles que não possuem condições para arcar com maiores despesas.
Por acreditar que todos devem ter direito a uma vida de qualidade e que o ser humano deve preservar a natureza, da qual depende para sobreviver, sou contra o consumo de carne, um hábito que, além de ser uma violência desnecessária para com as demais espécies, é insustentável e é razão para uma maior desigualdade social. Para que alguns possam degustar a carne de animais mortos, muitos passam fome, e muitos dos recursos naturais são exauridos.
Hoje em dia pode ser uma utopia pensar num mundo livre do consumo de carnes, mas isso não me impede de argumentar que tal mundo seria, possivelmente, livre da fome, teria uma menor desigualdade social, uma menor incidência de epidemias e pandemias, e seria um mundo menos violento.
A religião também já deixou de ser a bengala moral da humanidade. Acho que é correto afirmar, dentro de qualquer entendimento racional, que o ser humano é capaz de ser ético e justo sem a necessidade do temor à ira de uma entidade sobrenatural. A religião, ao longo da história da humanidade, tem sido motivo de guerras, de vinganças e de muitas formas de atitudes descabidas. E por mais que se argumente que a religião é motivo para uma vida mais correta, as diferentes religiões sempre vão ser motivo de desigualdade, uma desigualdade baseada em algo que simplesmente não existe.
Talvez um mundo sem religião também seja uma utopia. Mas são utopias como estas que fazem um indivíduo agir de forma diferente e fazer a sua parte. Eu sou um ser humano, como você. Eu tenho vontades e desejos, tenho necessidades, aspiro por algo melhor a todo momento. Mas sempre tento aspirar por algo melhor para mim, para você e para todos.
Por influência de amigos, e depois de muito refletir sobre o assunto, deixei de consumir carne; tomei esta decisão por ter sido levado e ter sido capaz de entender que isso é o melhor que posso fazer por mim, pelo resto da humanidade, pelas demais espécies, e pela natureza.
Também fiz a opção de que tudo que eu venha a produzir intelectualmente e que possa ser útil, deva ser de livre acesso para todos. Espero que respeitem a fonte, ao citar "baseado em", mas isso não é mais importante; o mais importante é disseminar informação e tentar levar a outras pessoas a oportunidade de racionalizar sobre algo que possa ser útil em suas vidas.
Fiz a opção de não responsabilizar uma entidade divina pelo o que me acontece de bom, nem a mim mesmo pelo que faço mal. Se eu faço algo de bom, é por que tive a sorte de ter nascido saudável, ter tido os pais que tenho, deles terem podido e terem me dado as oportunidades que me deram. Se fiz algo de mal, foi por ignorância, por pura incapacidade de fazer melhor. Mas compreender os erros me torna capaz de não repeti-los. Assim como compreender os acertos me torna capaz de torná-los cada vez melhores.
Essa é a minha responsabilidade enquanto ser humano: compreender minhas ações, compreender o que sou, compreender como interajo em meu meio, e de posse do conhecimento que puder obter dentro da minha limitada compreensão, fazer o melhor que eu puder.
Digo limitada, pois não somos seres oniscientes, nem mesmo onipotentes. Somos educados e, individualmente, temos nossas diferenças quanto ao que podemos aprender, o quanto podemos aprender e o quão rápido podemos aprender. As vezes é preciso errar uma, duas, três vezes, para identificar o erro; isso se chama aproximação. Na sociedade atual são dadas muitas chances de errar para alguns, e poucas chances de errar para outros, e o critério para esta distribuição não pode ser chamado de justo.
Finalizo dizendo que não espero que ninguém seja perfeito, certamente eu ainda cometo muitos erros e espero estar sempre atento, de forma que possa identificá-los e identificar meios de não mais cometê-los. Também não espero que ninguém viva em privação. Algumas das minhas escolhas tornaram minha vida mais trabalhosa, mas nem por isso menos feliz.
Tive de aprender uma porção de coisas ao modificar minha alimentação, mas me alimento muito bem; tive de aprender uma porção de coisas ao optar por um sistema operacional livre, de código aberto, mas nem por isso deixo de produzir o que é necessário para o meu crescimento pessoal, meus trabalhos acadêmicos, minhas buscas por informação, e até mesmo este blog onde tento partilhar um pouco do que encontro.
Religião? Não me tornei menos humano ou menos sensível ao aceitar que a vida tem um começo, um meio e um fim.
A crença no fim, para mim, é uma boa justificativa para permitir, se for possível que meu corpo sirva como meio para que outros indivíduos tenham uma vida melhor, quando eu morrer. Por isso sou doador de órgãos. De que me adianta deixar que meus órgãos, que já não mais me servirão quando da minha morte, apodrecer sob a terra, quando eles podem ser vitais para alguém que luta pela vida?
A crença no fim faz com que eu me esforce de todo coração para ser um bom pai, para que esta pessoa que botei sobre a terra tenha os meios e as oportunidades para ser alguém melhor do que eu fui.
É na memória desta pessoa, e é na memória das pessoas que me conheceram, dos meus amigos, das pessoas com quem interagi, que irei viver quando meu corpo for reciclado pela ordem natural das coisas. É em busca desta vida, não eterna, mas certamente muito além dos meus anos humanos, que me esforço para trazer alguma coisa de boa em cada contato que travo com alguém. Nem que seja um sorriso, ou um silêncio companheiro.
E quanto ao que publico aqui, as vezes depois de passar horas traduzindo e juntando informação, não ganharia nada em guardar só para mim, mas perderia muito em não compartilhar. Sinceramente, eu prefiro ser "apenas mais um" em meio várias pessoas excepcionais, do que ser "grande coisa" em meio a várias pessoas medíocres.
Assim faço o meu humanismo. Certamente deve ser diferente da visão de outras pessoas que se dizem humanistas, provavelmente não é melhor e nem pior do que a visão destas outras pessoas, mas é o melhor que minha compreensão é capaz de produzir no momento.

Para saber mais sobre o Humanismo: Declaração Humanista Secular / Humanismo Secular Portugal.

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