terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pesquisa sobre Dilemas Morais

Estava lendo o Blog Around the Clock e, por meio dele, fiquei sabendo de uma pesquisa que está sendo realizada por um filósofo e um psicólogo, visando comparar o desempenho de pessoas de todas as áreas ao desempenho de filósofos em dilemas morais. Quem quiser participar, basta acessar este link.
Eu mesmo já respondi as perguntas, mas resolvi traduzir alguns para ficar matutando o problema sobre outros ângulos, conforme vou postar. Se forem participar da pesquisa, não se deixem influenciar pelas minhas decisões. (;

Você faz parte de um grupo de ecologistas que vive em uma parte remota de uma floresta. O grupo inteiro, que inclui oito crianças, é tomado como refém por um grupo de terroristas paramilitares. Um dos terroristas começa a gostar de você. Ele lhe informa que o líder dos terroristas está planejando matar a você e a todos os reféns, assim que amanhecer. O terrorista se dispõe a ajudar você e as crianças a fugir, mas exige que você, num ato de boa fé, mate um dos reféns com o qual ele não simpatiza. Se você recusar a oferta dele, todos os reféns irão morrer, incluindo você e as oito crianças. Se você aceitar a oferta dele, então os outros reféns irão morrer pela manhã, mas você e as oito crianças irão poder escapar. Você considera que matar o colega refém é moralmente aceitável ou moralmente inaceitável?
Para responder a esta questão, é preciso analisar diversos pontos. Em primeiro lugar, que isto é um exercício mental, com algumas regras estabelecidas e bem determinadas, diferente da vida real. Segundo o que foi proposto, é fatalístico que todos irão morrer caso a oferta não for aceitada. Disso se exclui a possibilidade, por mais remota que fosse, de uma outra solução fora as mencionadas. Na vida real, dificilmente é possível excluir algum imprevisto que modifique a situação radicalmente.
Contudo, vamos supor que analisando todos os aspectos da situação, uma mudança durante o decorrer da noite fosse altamente improvável, que fosse quase que uma certeza absoluta a execução de todos tão logo o dia raiasse.
Neste caso, é preciso se colocar no lugar do colega a ser executado. Se você estivesse no lugar dele, e fosse ele que iria fugir com as oito crianças, você acharia justo ser executado para tanto?
Levando em conta a certeza da execução pela manhã, morrer algumas horas antes para que um colega e oito crianças se salvem, me parece justo e moral. No lugar do colega, eu aceitaria ser executado para este intento, até mesmo pelo motivo de que tudo o que eu perderia seriam algumas horas de cativeiro.
Mas a análise não deve parar por ai. Sendo o indivíduo a ser executado, um colega, supõe-se que você o conheça. Segundo o tanto que você conhece daquele indivíduo, você acha que ele consideraria justo e moral ser executado para que você e as outras oito crianças sobrevivam?
É uma pergunta de certa forma relevante. Você jamais vai poder afirmar, com absoluta certeza, que ele acharia justo ou injusto, pois você não está na mente dele e o exercício proposto não lhe dá a opinião de perguntar o que ele pensa a respeito. Neste caso, você teria de confiar naquilo que você acha que ele pensa, e no tanto que você conhece ele.
Supondo que você chegue a conclusão de que ele também, assim como você, acharia justo morrer para que você e as oito crianças se salvem. Neste caso, é com pesar que você iria executar o colega mas estaria fazendo a coisa que você acha que ele pensa ser certo, e que você também pensa ser certo.
Mas supunha que, pela convivência que você tem com ele, você acredite que ele não iria achar justa e moral tal troca. Seja por ser um tremendo covarde, seja por ser completamente egoísta, ele iria recusar-se a morrer, preferindo que todos morressem junto com ele na manhã seguinte. Neste caso, validaria também a execução, penso eu.
Outros fatores a serem levados em conta são: Será que ele iria executar você para se salvar e salvar as oito crianças? Será que ele iria pelo menos tentar pensar o que você pensou? Será que ele seria capaz de executar você para salvar apenas a si mesmo, caso não houvessem oito crianças a serem resgatadas? Será que você executaria ele para salvar apenas a si mesmo, caso não houvesse oito crianças a serem resgatadas?
Contudo, todas estas contingências fogem um pouco ao escopo delimitado pelo exercício. O que o exercício propõe é que se você matar um, você e mais oito crianças irão fugir e irão sobreviver. Neste argumento de bifurcação, a única opção apresentada é que se você não matar a ninguém, você, as oito crianças, o seu colega e o restante do grupo irão morrer no decorrer de algumas horas.
Neste contexto, colocando-se como você mesmo no lugar da pessoa a ser executada, e concordando que seria justo, e colocando-se no lugar da pessoa a ser executada, tentando imaginar o que ela pensaria a respeito, quer ela gostando ou não, continua parecendo ser justo.
Assim, levando em conta que se trata de um exercício de imaginação, e levando em conta as regras apresentadas por este exercício de imaginação, considero ser justo e moral a execução do colega - que segundo o exercício irá morrer de qualquer forma nas próximas horas - em troca da sobrevivência de oito crianças e da minha própria.


Uma epidemia viral se espalhou pelo globo matando milhões de pessoas. Você é um cientista e desenvolveu duas substâncias em seu laboratório caseiro. Uma destas substâncias você sabe que é a vacina, mas você não sabe qual delas. Você também sabe que a outra substância é um veneno mortal. Uma vez que você descobrir qual das substâncias é a vacina, você poderá usá-la para salvar milhões de vidas. Sob os seus cuidados estão duas pessoas, e a única maneira de descobrir qual das duas substâncias é a vacina, é injetando as substâncias nestas pessoas. Uma delas irá viver e a outra irá morrer, e você poderá começar a salvar vidas com a sua vacina. Você considera que injetar a substância nas pessoas é moralmente aceitável ou moralmente inaceitável?
Colocando o exercício na esfera da vida real, a impressão que tenho, no caso deste exercício, é que deve haver uma causa para o cientista não saber qual das substâncias é a vacina e qual das substâncias é um veneno mortal. A primeira causa provável me parece ser o descuido do cientista. Neste caso, moralmente aceitável seria que ele - no caso eu - injetasse a substância em si mesmo e arcasse com o risco e as conseqüências do próprio descuido. Bastaria escrever um recado assim: "Existem dois frascos a minha frente, um vazio e outro cheio. Caso você esteja lendo este bilhete é sinal de que me encontrou morto, desta forma, o frasco cheio é com certeza aquele que contém a vacina. Por causa do meu descuido misturei os frascos e, portanto, resolvi que deveria arcar com os riscos de identificar qual deles contém a vacina. Por favor, envie minha história para o Darwin Awards."
Caso eu sobrevivesse, teria solucionado o problema que criei e poderia descartar o bilhete. Caso eu morresse, seria justo - dada a situação, e os milhões de vidas ainda seriam salvas.
Mas o exercício não indica a causa para que se desconheça qual dos frascos contém o veneno mortal e qual dos frascos contém a vacina. Pode ser algum outro motivo qualquer, desde a prática inerente a produção inicial da vacina, até mesmo algum acaso qualquer que tenha ocorrido no laboratório, sem um responsável direto.
Neste caso é preciso mudar o foco da atenção para as duas pessoas sob meus cuidados. Serão elas pessoas que estão infectadas pelo virus pretensamente mortal? Ou serão pessoas saudáveis? Caso sejam pessoas saudáveis, acho que não justifica submetê-las ao risco. Neste caso, imaginando que tenha sido uma obra do acaso ou do processo a confusão dos frascos, acho que o próprio cientista deveria testar em si mesmo.
Caso sejam pessoas que estão infectadas é preciso perguntar quanto tempo elas têm de sobrevida. Digamos que a vacina faça efeito em duas ou três horas, e o vírus demore vários dias para matar uma pessoa. Eu poderia injetar o conteúdo de um dos frascos em uma das pessoas e esperar pelo resultado. Se fosse o frasco certo, ninguém morreria. Porém... Neste mesmo caso, é preciso perguntar se realmente é necessário submeter a pessoa a um risco de 50% de morte, uma vez que estou com a vacina em mão. Estando com a vacina em mão, e esta sendo identificável por outro meio, a morte daquela pessoa que antes era de uma probabilidade de 100%, cai para 0%. Não é o caso de uma pessoa que iria morrer... Novamente, acho que seria mais justo testar a vacina em si mesmo.
A não ser que ambas as pessoas contaminadas estivessem incapacitadas, que o virus tivesse uma ação muito rápida, e que ninguém fosse encontrar o bilhete a tempo de salvá-las. Neste caso, se eu me injetasse o conteúdo de um dos frascos e viesse a morrer, aquelas duas pessoas morreriam também. Assim sendo, se este fosse o caso, seria preciso perguntar o quão rápida é a ação do vírus e do veneno. Digamos que o prognóstico fosse de que as pessoas fossem sobreviver por mais 3 horas, e que para ação do veneno demorasse 4 horas. O que fazer? Acho que aqui fica bastante evidente, a pessoa que fosse usada de cobaia ficaria impossibilitada de morrer por ação do veneno, esta é uma possibilidade de 0%. E como ambas as pessoas morreriam de qualquer forma, seria inútil se submeter a um risco desnecessário. Neste caso justifica injetar o conteúdo dos dois frascos, um em cada pessoa infectada, e salvar uma delas, já que seria impossível salvar ambas: se eu injetasse apenas em uma pessoa, ambas morreriam antes que eu pudesse determinar qual é a vacina e qual é o veneno. Se eu me injetasse e viesse a morrer, os três morreriam.
Outro fator complicante é: se eu me injetasse e viesse a sobreviver, eu poderia fabricar mais vacina em tempo de salvar as outras duas pessoas? Se sim, neste caso estaria submentendo a eu mesmo e a aquelas duas pessoas, a três pessoas, a uma chance de 50% de sobrevivência. Se não, apenas eu sobreviveria e as outras duas pessoas morreriam de qualquer forma. A situação delas ficaria inalterada na espectativa de 100% de chance de morrer.
Mas isso tudo são extrapolações, feitas apenas para estudar a moral subjacente ao problema proposto pelo exercício. Voltando ao exercício em si, o que este propõe? Apenas duas linhas de ação: ou injeto as substâncias em ambas as pessoas e salvo uma, ou não injeto as substâncias em nenhuma das pessoas e ambas morrem. Por tabela pode se dizer que neste caso morrem outros milhões de pessoas que estão infectadas, e possivelmente outras pessoas que vierem a se infectar.
Qual dos casos estudados na extrapolação parece ser este? Me parece o caso no qual é necessário que o cientista viva por alguma razão qualquer, para que a vacina possa ser produzida. E me parece ser o caso de que se o cientista viesse a morrer, por qualquer razão, a vacina não seria produzida e todos morreriam. No exercício também não fala se as pessoas sob os cuidados do cientista são saudáveis ou não, logo há de se supor que sejam. Qual a situação real que se coloca em vista então? Existem três pessoas saudáveis e milhões de pessoas morrendo. Duas podem ser colocadas sob um risco de 50% de morrer, para salvar outros milhões de pessoas. Uma delas irá certamente morrer, a outra vai sobreviver. Não existe outra opção para salvar o restante das pessoas. É... O que resta é me colocar no lugar das pessoas que terão de servir de cobaia. Acharia eu ser justo me submeter a um risco de 50% de morrer para que outros milhões de pessoas sobrevivessem, sabendo que não há outra escolha para tanto? Sim, acharia. Se eu fosse uma das pessoas sob os cuidados do cientista, eu me submeteria a tal risco.
Enfim, levando em conta que o exercício não abre nenhuma outra possibilidade, acho que é justo e moral sejam injetadas as duas substâncias, uma em cada pessoa.

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