sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Resumo do Tecido Nervoso

O tecido nervoso é formado pelos neurônios e pelas células gliais ou neuróglia.
O neurônio, embora em menor número, é a unidade fundamental do tecido nervoso, com a função básica de receber, processar e enviar informação. Quanto a processar, é preciso fazer uma observação aqui: o neurônio basicamente emite ou não emite um potencial de ação, análogo a um transistor, no sentido de poder estar em dois estados diferentes: 0 (zero) e 1 (um); porém diferente de um transistor no sentido que de ele, o neurônio, emite ou não um potencial de ação dependendo da excitação que recebe de uma rede que pode ser composta por até cerca de 10.000 sinapses.
A neuróglia é formada por células que ocupam os espaços entre os neurônios, com a função de sustentação, revestimento ou isolamento, modulação da atividade neuronal e defesa.
Com exceção dos neurônios denominados grânulos, localizados no cerebelo e no bulbo olfatório, e dos neurônios sensoriais primários do epitélio olfatório, em geral os neurônios não se dividem após a diferenciação, ou seja, não são produzidos novos neurônios após o nascimento.
Obs.: novos estudos sobre a neurogênese indicam a possibilidade de existirem outras áreas onde são produzidos novos neurônios, como no hipocampo no sistema límbico. O estudo da neurogênese ainda é um campo emergente e onde novas e importantes descobertas são feitas por vários pesquisadores em todo o mundo.
A neuróglia conserva a capacidade de mitose após completa a diferenciação. Desta forma é um tecido que preenche danos ocorridos no sistema nervoso central adulto e, segundo algumas teorias, pode estar envolvido no desencadeamento de crises epilépticas.
Causas para a morte de neurônios:
  • Resultado da programação natural;
  • Efeito de toxinas;
  • Doenças ou traumatismos.

Os neurônios podem ser divididos em três regiões com diferenças morfológicas e funcionais marcantes: corpo celular (soma), dendritos (do grego déndron = árvore) e axônio (do grego áxon = eixo).
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Errata: os Nódulos de Ravier são, na verdade, os espaços não mielinizado de cerca de 0,01mm entre as baínhas de mielina.

Os neurônios são células altamente excitáveis que se comunicam entre si ou com outras células efetuadoras usando uma linguagem basicamente elétrica na forma da modificação do potencial de membrana. A membrana celular separa dois ambientes que apresentam composições iônicas próprias: o meio intracelular (citoplasma) rico em potássio (K+) e o meio extracelular rico em sódio (Na+) e cloro (Cl-). Tal composição gera cargas diferentes dentro e fora da célula, estabelecendo um potencial de membrana.
Obs.: muitos de nós não foram muito assíduos nas aulas de química do colégio, então é interessante se demorar um pouco mais no assunto.
Dentro da célula, do neurônio, temos um ambiente rico em cátions de potássio (K+). Cátions são íons de carga positiva. Um íon de carga positiva é um átomo que perdeu elétrons.
No exterior da célula temos um ambiente rico em cátions de sódio (Na+) e ânions de cloro (Cl-). Ânions são íons de carga negativa, logo átomos que ganharam elétrons.
Outra forma de explicar: Ânions são íons que possuem mais elétrons (carga -1) na camada de elétrons (ou camada de valência) do que prótons (carga +1) em seu núcleo. Ânions são negativos (possuem mais elétrons).
Cátions são íons que possuem menos elétrons na camada de elétrons do que prótons em seu núcleo. Cátions são positivos (possuem menos elétrons).
Tanto cátions quanto ânions são íons, mas cátions são íons positivos e ânions são íons negativos.
Qual a moral de saber isso? Tem haver com o potencial elétrico: a capacidade de um corpo energizado para atrair ou repelir cargas elétricas. Quanto mais negativa é a carga, ou seja, quanto mais elétrons possuir o átomo em sua camada de elétrons, menor será seu potencial elétrico... Por isso ele é negativo.
Quanto mais positiva for a carga, ou seja, quanto menos elétrons possuir o átomo em sua camada de elétrons, maior será o seu potencial elétrico e mais capacidade ele terá de atrair cargas elétricas... Por isso ele é positivo.
Nas células dos seres vivos, o potencial elétrico, ou potencial de membrana, é a diferença de voltagem entre o interior e o exterior da célula. Voltaremos neste assunto que eu acho chato, porém necessário, mais tarde...
Na maiora dos neurônios, o potencial de membrana em repouso está em torno de -60 a -70 mV (milivolts), com excesso de cargas negativas dentro da célula. O movimento de íons através da membrana permite alterações deste potencial... Enfim... Volto a abordar esse assunto quando for tratar de potencial de ação. Antes é preciso falar sobre o que encontramos no axônio e antes de falar sobre o que encontramos no axônio é preciso saber o que há dentro do soma. É, eu sei, que m.... ter lido isso tudo e não ter entendido o principal... Pelo menos foi assim que me senti e me sinto escrevendo até aqui.
Mas continuando...
O corpo celular contém o núcleo e o citoplasma com as organelas citoplasmáticas usualmente encontradas em outras células. O núcleo é geralmente vesiculoso com um ou mais nucléolos evidentes. Mas encontram-se também neurônios com núcleos densos, como é o caso dos núcleos dos grânulos do córtex cerebelar. O citoplasma do corpo celular recebe o nome de pericário (que as vezes é usado como sinônimo de corpo celular - perykarion). No pericário salienta-se a riqueza em ribossomos, retículo endoplasmático granular e agranular e aparelho de golgi, ou seja, as organelas envolvidas em síntese.
Os ribossomos podem concentrar-se em pequenas áreas citoplasmáticas onde ficam livres ou aderidos às cisternas do retículo endoplasmático. Em conseqüência disso, no microscópio, vêem-se grupos basóficos conhecidos como corpúsculos de Nissl ou substância cromidial.Mitocôndrias abundantes e geralmente pequenas estão distribuídas por todo o pericário, especialmente ao redor dos corpúsculos de Nissl, sem no entanto penetrá-los. Microtúbulos (curiosidade: ver tb. quantum mind) e microfilamentos de actina são idênticos aos de células não-neuronais, mas os filamentos intermediários (8 nm e 11 nm de diâmetro) diferem, por sua constituição bioquímica, dos das demais céulas. São os neurofilamentos.

Retículo endoplasmático liso/rugoso: retículos endoplasmáticos rugosos são túbulos achatados revestidos de membranas aos quais os ribossomos podem aderir. Retículos endoplasmáticos lisos são túbulos arredondados aos quais os ribossomos não podem aderir. O retículo endoplasmático rugoso está envolvido no transporte de proteínas sintetizadas nos ribossomos. O retículo endoplasmático liso sintetiza moléculas complexas chamadas esteróides em alguns tipos de células, armazena íons de cálcio nos músculos e degrada toxinas no fígado.

Ribossomos: sítios de síntese protéica, onde aminoácidos são ligados na seqüência determinada pelo RNA mensageiro do núcleo (tipo cAMP: adenosina monofosfato cíclico, mensageiro secundário importante para a transdução).Aparelho de Golgi: sacos achatados revestidos por membranas de cujas extremidades brotam pequenas vesículas. Coletam produtos de secreção e os empacotam para exportação ou uso pela célula, por exemplo, lisossomas.

Mitocôndria: estrutura membranosa e oblonga cuja membrana interna é sinuosa como um labirinto. A energia para o funcionamento da célula é gerada nela por reações oxidativas.

Microtúbulos e microfilamentos: formados por proteínas, dão suporte estrutural para a célula.Lipofuscina: corpos lisossômicos residuais decorrentes do processo de degradação e renovação celular, encontrados no pericário, que aumentam em número conforma a idade da célula.

O corpo celular é o centro metabólico do neurônio, responsável pela síntese de todas as proteínas neuronais, bem como pela maioria dos processos de degradação e renovação de constituíntes celulares, inclusive membranas.
A forma e o tamanho celular são extremamente variáveis, conforme o tipo de neurônio. Por exemplo, nas células de Purkinje do córtex cerebelar, os corpos são piriformes e grandes, com o diâmetro de 50 a 80 um (micras); nesse mesmo córtex, nos grânulos do cerebelo, são esferoidais, com diâmetro de 4-5 um; nos neurônios sensitivos dos gânglios espinhais são, também, esferoidais, mas com 60-120 um de diâmetro; corpos celulares estrelados e priamidais são também comuns, sendo encontrados no córtex cerebral.
Assim como os dendritos, o copor celular recebe estímulos através de contatos sinápticos. Nas áreas da membrana plasmática do corpo neuronal que não recebem contatos sinápticos, apoiam-se elementos gliais.

O axônio sai do cone de implantação, região do corpo celular quase desprovida de substância cromidal (corpúsculo de Nissl). Apresenta comprimento variável, podendo ter entre alguns milímetros até mais de um metro na espécie humana. É cilíndrico e, quando se ramifica, o faz em ângulo obtuso, originando colaterais de mesmo diâmtro do inicial.
Estrutura do axônio: membrana citoplasmática (axoplasma) contendo microtúbulos, neurofilamentos, microfilamentos, retículo endoplasmático agranular (liso) e vesículas.
O axônio é capaz de gerar em seu segmento inicial uma alteração no potencial de membrana denoninada potencial de ação ou impulso nervoso (spike em inglês). Esta alteração no potencial de membrana ocorre pela despolarização em grande amplitude da mesma (70 mV - 110 mV), do tipo "tudo ou nada", capaz de repetir-se ao longo do axônio, conservando sua amplitude até a terminação axônica.

Voltando, então, ao potencial de ação: a bomba de sódio-potássio no cérebro é mais ou menos assim: tem o ambiente intracelular, rico em cátions de potássio, e tem o ambiente extracelular, rico em cátions de sódio e ânions de cloro. Parece que existem estes canais de potássio que ficam liberando potássio no ambiente extracelular e existem canais de sódio que ficam liberando sódio no ambiente intracelular. Além disso existe um mecanismo, que na verdade é uma enzima (E 3.6.3.9), que é a bomba de sódio-potássio propriamente dita. Por ela passam três cátions de sódio para fora da célula e dois cátions de potássio para dentro da célula.
A célula repolariza ficando cada vez mais negativa a medida que os cátions de potássio saem pelos canais de potássio. Isso ocorre depois do potencial de ação. Mas aí, uma vez que os canais de potássio demoram demais para fechar, ocorre uma hiperpolarização (que, como veremos mais adiante, é o contrário do potencial de ação). Para resolver a parada, a bomba de sódio-potássio envia dois cátions de potássio para dentro da célula e três cátions de sódio para fora (transporte ativo), restaurando o potencial de repouso da membrana... Até o próximo potencial de ação. Contudo, é importante notar o seguinte: embora a bomba de sódio-potássio seja necessária para restaurar o potencial de repouso e, por tanto, para permitir que ocorra o próximo potencial de ação, ela não é responsável pelo potencial de ação em si.A alteração de grande amplitude do potencial de membrana gerada no segmento inicial do axônio, que ocorre devido a entrada de sódio (Na+) causando a despolarização, se chama potencial de ação. Com a saída do potássio (K+) pelos canais de potássio, a célula começa a repolarizar, mas como vimos anteriormente, os canais de potássio demoram demais para fechar e a célula fica hiperpolarizada. Então entra em ação o Na+/K+-ATPase, que envia o potássio para fora e joga o sódio para dentro, restaurando o potencial de repouso da membrana.

Portanto, em resumo, o axônio é especializado em gerar e conduzir o impulso (potencial de ação/spike) nervoso.

Zona gatilho: é o primeiro segmento do axônio onde a membrana citoplasmática possui canais de sódio e potássio sensíveis à voltagem.

Canais de sódio e potássio: são canais iônicos (assim chamados pois por eles passam íons de sódio ou de potássio), sensíveis à voltagem, presentes no segmento inicial do axônio (a zona gatilho), que permanecem fechados no potencial de repouso da membrana e se abrem quando despolarizações de pequena amplitude os atingem (potenciais graduáveis / gradiente vindo dos dendritos).

Os axônios, após emitir um número variável de colaterais, geralmente sofrem arborização terminal, terminando em botões sinápticos. Por meio desta porção terminal, os axônios estabelecem conexões com outros neurônios ou com células efetuadoras.

Obs.:
Alguns neurônios se especializam em secreção. Seus axônios terminam próximos a capilares sangüíneos; os capilares captam o produto liberado pela secreção dos neurônios, geralmente um polipetídeo.
Polipetídeo (do grego "pequenos disgestíveis") é o resultado da ligação de muitos aminoácidos por ligações peptídeas, resultado em uma cadeia não ramificada. É uma cadeia linear de aminoácidos. Em comparação, uma proteína é uma ou mais cadeias de cerca de 50 aminoácidos; um neuropeptídeo é um peptídeo que se ativa ao se associar com tecido neural; e um hormônio peptídeo é um peptídeo que age como um hormônio.
Neurônios especializados em secreção se chamam neurosecretores e ocorrem na região do hipotálamo.

Os dendritos são curtos, geralmente entre alguns micrômetros ou milímetros, e ramificam-se profusamente, como galhos de uma árvore, em ângulo agudo, originando dendritos de menor calibre. Apresentam contorno irregular, podendo apresentar os mesmos constituintes citoplasmáticos do pericário, sendo que o aparelho de golgi se limita às porções mais calibrosas, próximas ao pericário. Já a substância de Nissl (retículos endoplasmáticos rugosos e ribossomos) penetra nos ramos mais afastados, diminuíndo gradativamente, até ficar excluída nas menores divisões. Caracteristicamente, os microtúbulos são elementos predominantes nas porções iniciais e ramificações mais espessas.
Os dendritos são especializados em receber estímulos, traduzindo-os em alterações do potencial de repouso da membrana.
Tais alterações envolvem a entrada ou a saída de determinados íons e podem expressar-se por pequena despolarização ou hiperpolarização.

Despolarização: é excitatória e significa a redução da carga negativa do lado citoplasmático da membrana (espaço intracelular).

Hiperpolarização: é inibitória e significa o aumento da carga negativa do lado citoplasmático da membrana ou aumento da carga positiva do lado de fora (espaço extracelular).

Os distúrbios elétricos que ocorrem ao nível dos dendritos e do corpo celular constituem potenciais graduáveis (aqueles que podem somar-se), também chamados eletrotônicos, de pequena amplitude (100 uV-10mV), e que percorrem pequenas distâncias até extinguirem-se. Estes potenciais propagam-se em direção ao soma e, neste, em direção ao cone de implantação do axônio.Nos neurônios multipolares os dendritos conduzem potenciais graduáveis em direção à zona gatilho, onde é gerado o potencial de ação que se propaga à terminação axônica.

Resumindo:
Axônios: longos, colaterais, ângulo obtuso, ramificações de igual diâmetro, cilíndricos, enviam estímulos, potencial de ação, "tudo ou nada", 70-110 mV, sinais por longas distâncias.
Dendritos: curtos, muitos ramos, ângulo agudo, ramos mais finos sucessivamente, contorno irregular, recebem estímulos, potenciais graduáveis, podem somar-se, 100 uV-10mV, sinais por curtas distâncias.

Fonte: MACHADO, Angelo. Neuroanatomia Funcional. 2a Ed. São Paulo : Atheneu, 2005.

6 comentários:

Anônimo disse...

Amigo, mto bom o seu resumo...adorei tê-lo encontrado aqui na net... Tb sou aluna de psicologia!!
Parabéns pelo blog!!
Dani ^^

Caum(kha) disse...

Salvou minha vida, tenho prova de neurofisiologia na sexta feira e tinha que responder um questionário. Thanks.

Caum(kha) disse...

Salvou minha vida, tenho prova de neurofisiologia na sexta feira e preciso responder um questionário pra ganhar nota, ufah.

Unknown disse...

ameei teu resumo,briigada *--*

SilmaraLeãoBatista disse...

Salvou miah vida², tenho um trabalho de Psicologia praa amanhã e seu resumo é bem abrangente e acessível. Obrigado .

Welligton Neres disse...

O trabalho ta bom, tirando uns erros de ortografia, mas ta valendo galera,indico.