quinta-feira, 18 de junho de 2009

Escalas antes impensadas

No desenho animado "Grim & Evil" (2001), um computador dotado de superinteligência afirma que "a vida não tem sentido, apenas máquinas inteligentes são realmente importantes em uma escala cósmica". Quem compreende que mesmo aquilo que concebemos como o Universo um dia irá acabar e que é possível estender a experiência da consciência - seja na forma que for, provavelmente não na forma de organismos baseados em carbono - por meio de máquinas inteligentes, sabe o quanto esta frase é significativa. Porém, mesmo com a extensão permitida por um processamento de informações ultraveloz, não irá fazer com que a experiência da consciência dure para sempre. No exemplo ilustrativo, no qual poucos segundos são dilatados em centenas de milhares de anos, é preciso considerar que tais segundos irão se esgotar e, com eles, a extensão.
Então, se houvesse um Master Control 2.o (versão atualizada da máquina que elaborou a resposta acima), tal máquina poderia responder da seguinte forma:

"Nem a vida, nem máquinas inteligentes possuem sentido; apenas informação, na sua forma mais primal, possui sentido em uma escala que transcende o cosmos que podemos conhecer."

Ah... É quase um paradoxo, ao incluir na mesma sentença a palavra 'informação' e algo que transcende o que é possível conhecer.
Mas então, o que seria a informação na sua forma mais primal? E como esta transcenderia o cosmos que podemos conhecer? E o que isso quer dizer?
Bom, formas de vida baseadas em carbono e estruturas inteligentes baseadas em silício estão - até onde sabemos - restritas a este Universo, a esta dimensão, pois sua complexidade estrutural em nível atômico dificilmente resistiria aos possíveis meios de viagens interdimensionais: as forças envolvidas em hipotéticos buracos de minhoca ou qualquer outra entidade cósmica que possibilitasse algo como que uma viagem para fora desta dimensão iriam lhes acrescentar entropia demais para que continuassem funcionais ao chegar em seu destino.
Pensei então em um sinal, capaz de transmitir informação por distâncias astronômicas, baseado em partículas subatômicas elementares ou algo assim. Um sinal que pudesse ser direcionado para um buraco de minhoca com um enorme pulso de energia concentrado e que talvez pudesse chegar ao outro lado carregando pedaços de informação sem perdas. Não sei se tal coisa seria possível nem teoricamente... Talvez não faça nem muito sentido... Mas a ideia básica é que não seria necessário enviar o portador da consciência para o outro lado do portal, apenas o código que carregasse as instruções necessárias para que esta consciência viesse a aflorar quando lá chegasse. Algo como um RNA, como um vírus... Algo que como uma transmissão de dados pela linha telefônica, que precisa vencer o ruído, fosse capaz de vencer a entropia causada pelas enormes forças desses artefatos singulares...
Acho que essa ideia me ocorreu pois a vários dias atrás li sobre a possibilidade de um sinal extraterrestre captado pelo programa SETI@Home conter um vírus. Tal sinal teria sido enviado por uma inteligência extraterrestre de forma a ser detectado e classificado como comunicação por alguma outra inteligência no Universo - neste caso nós, seres humanos. Ao detectarmos este sinal, iriamos começar a rodar programas para tentar decifrá-lo, para tentar compreender as informações contidas nele. Sem nos darmos por conta, estaríamos executando um código que eventualmente se apossaria da máquina que está tentando decifrá-lo e usaria tal máquina e qualquer conectividade que esta lhe permitisse para qualquer fim diabólico, como subjugar a espécie humana e se apoderar do planeta e seus recursos, talvez por meio de nanomáquinas que transformassem o planeta em uma gigantesca fazenda de processamento de dados ou algo assim.
Desta forma, os extraterrestres não precisariam vir até nós, precisariam apenas nos mandar pacotes de informações que tentássemos decifrar com recursos de processamento conectados a uma grande rede, que permitisse acesso a dispositivos capazes de executar ações de montagem.
Esta ideia remete ao conceito de "motif of harmful sensation", que foi excluído da Wikipédia na língua inglesa para o meu grande desgosto. Mas, se pensarmos em memes virais, vírus de computador e mecanismos genéticos, o que são estas coisas se não pedaços de informações que num determinado contexto conseguem alterar a realidade?
Indo além, tendo em vista a insolitude da ideia de codificar informações em um sinal de altíssima energia composto por partículas subatômicas elementares, outra ideia me ocorreu... Talvez um Master Control 3.0 sugerisse que o SETI@Home deva abandonar suas enormes antenas e voltar sua atenção para o espaço subatômico onde os eventos quânticos acontecem.
Eventos estranhos ocorrem em matérias estranhas na física quântica. Partículas surgindo aqui e ali, sem que se possa definir quando e onde ao mesmo tempo, esse tipo de coisa. Será que seria algo muito excêntrico imaginar que talvez, nestes eventos, estejam codificadas mensagens enviadas de outra dimensão por uma inteligência muito superior à nossa?
Claro que eventos quânticos são ocorrências naturais, inerentes à nossa realidade. Mas o mesmo pode se dizer das ondas de rádio. Corpos estrelares emitem ondas de rádio que não são dotadas de músicas ou notícias, porém seres humanos elaboraram instrumentos capazes de enviar e receber ondas de rádios dotadas desse tipo de informação. Não poderiam eventos na escala subatômica conter informações vindas - quem sabe? - de outra dimensão? Novamente, talvez isso não faça sentido nenhum para a física teórica, mas não deixa de ser uma ideia curiosa e, no mínimo, daria um bom conto de ficção-científica. (:


Quem sabe o "Hello Earth!" não será encontrado em meio aos experimentos do CERN no LHC? Quem sabe não será encontrado um Aleph de Borges ao se olhar com cuidado para os dados? (:

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