sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Compêndio de Experimentos Mentais

Abaixo, uma série de experimentos mentais adaptados de forma bem humorada para facilitar o diálogo entre meus colegas.

Instruções:

Os experimentos mentais foram idealizados para facilitar a utilização da capacidade criativa e da imaginação de nossas mentes para simular situações que nos levem a questionar conceitos e valores, além de facilitar e aprofundar a discussão sobre assuntos filosóficos e psicológicos. Alguns deles exigem que façamos extrapolações da realidade, onde situações inusitadas e irrealísticas devem ser imaginadas para que possamos fazer o exercício; em outros, como o paradoxo do mentiroso, as palavras devem ser entendidas literalmente (i.e. sempre significa sempre – ou seja, todas as vezes).
Leiam com atenção, fazendo uma pausa para simular mentalmente a situação proposta a cada experimento.

Experimento mental I: Fábio e a toxina

Um bilionário insano põe um frasco com uma toxina diante do Fábio e fala o seguinte: - Se você beber essa toxina, irá sentir-se dolorosamente doente durante um dia, mas não terá sua vida ameaçada e não haverá risco de morte ou de efeitos duradouros. Eu irei te pagar um milhão de dólares amanhã pela manhã se, a meia-noite de hoje, você intencionar beber a toxina até amanhã a tarde.

Ele enfatiza que não há necessidade de beber a toxina para receber o dinheiro; de fato, o dinheiro já estará depositado no banco horas antes do tempo limite para que a toxina seja ingerida... Caso ele seja bem sucedido. Tudo o que ele precisa fazer é ter a intenção, a meia noite de hoje, de ingerir o líquido do frasco até amanhã a tarde. Ele é perfeitamente livre para mudar de idéia e não beber a toxina após receber o dinheiro.

É possível intencionar beber a toxina, se você sabe que não precisa bebê-la?

Experimento mental II: o Taimon do Pântano

Vamos supor que o Taimon foi passear em um pântano e foi morto por um relâmpago. Ao mesmo tempo, nas proximidades, outro relâmpago rearranja espontaneamente um amontoado de moléculas de maneira que, inteiramente por coincidência, elas tomam exatamente a mesma forma que as moléculas do corpo do Taimon no momento em que ele morreu.
Sendo assim, o Taimon do Pântano possui, evidentemente, um cérebro que é estruturalmente idêntico àquele que o Taimon original tinha, logo, presumivelmente, comporta-se exatamente da mesma maneira que o Taimon iria se comportar. Ele irá sair do pântano, voltar para a Faculdade Atlântico Sul, fazer os mesmos comentários em sala de aula e interagir da mesma maneira que sempre interagiu com seus colegas e amigos.
Não havendo nenhuma diferença, já que ninguém iria perceber nada, o Taimon do Pântano iria reconhecer seus amigos, mas é impossível para ele realmente conhecê-los, uma vez que ele jamais os havia visto anteriormente. Qual é a verdadeira natureza do conhecimento?

Experimento mental III: Cid, o carro desgovernado e o médico louco

Cid estava indo para a faculdade quando vê um carro desgovernado indo em direção a 5 pessoas que foram amarradas no meio da estrada por um filósofo maluco. Felizmente ele encontra um interruptor que, se pressionado, irá fazer o carro desviar para uma outra estrada. O único problema é que na outra estrada existe uma única pessoa amarrada. Deverá o Cid acionar o interruptor?
O interruptor não funciona, o carro está se aproximando rapidamente das 5 pessoas que estão amarradas na estrada. O único modo de parar o carro é jogar um grande peso no caminho. Coincidentemente há um homem muito gordo parado na calçada do lado do Cid. Deverá ele empurrar o homem gordo para salvar as cinco pessoas?
Por fim, o Cid chega em aula mas começa a se sentir um pouco mal. Ele resolve consultar um médico. O médico que o Cid escolhe possui outros cinco pacientes, cada qual necessitando do transplante de um órgão diferente, sem o qual irão certamente morrer. Infelizmente não há órgãos disponíveis para o transplante de nenhum dos cinco pacientes. Ao examinar o Cid, o médico descobre não apenas que ele está saudável, como também que ele é um doador compatível para todos os cinco pacientes que estão morrendo. Deverá o médico realizar os transplantes?

Experimento mental IV: o Cérebro Psicologia

Supunha que toda a turma de Psicologia fosse reordenada para simular o funcionamento de um único cérebro (ou seja, agir como uma mente de nos moldes do Funcionalismo). Cada aluno age como um neurônio e comunica-se através de um rádio com os demais alunos. O estado mental atual do cérebro Psicologia é mostrado pelo data-show da sala de aula; e o cérebro Psicologia estaria conectado a um corpo controlado via rádio. Este corpo proveria as informações sensoriais (input) e manifestaria as respostas comportamentais (output) do cérebro Psicologia.
Desta maneira, o cérebro Psicologia teria todos os elementos do modelo Funcionalista de mente: informações sensoriais, respostas comportamentais, estados mentais internos casualmente relacionados a outros estados mentais. Se a turma de Psicologia pudesse ser organizada desta maneira, então, de acordo com o Funcionalismo, seria um sistema detentor de uma mente.
Deixando de lado o fato óbvio que este experimento busca demonstrar, que o modelo Funcionalista de mente não existe, é interessante imaginar os resultados de tal experimento. Qual seria o tipo de mente que nossa turma iria manifestar?

Experimento Mental V: Dilema dos Prisioneiros Fábio e Taimon

Dois suspeitos, Fábio e Taimon, foram presos pelo policial Cid tentando roubar revistinhas do Sandman utilizando punhais de gelo para ameaçar o jornaleiro. Uma vez que os punhais derreteram, Cid não possui evidências suficientes para a condenação máxima.

Tendo separado os dois prisioneiros em salas diferentes, Cid ofertou o mesmo acordo para cada um deles: se um depor para a condenação do o outro e o outro permanecer em silêncio, aquele que depor será posto em liberdade e aquele que permanecer em silêncio receberá uma sentença de 10 anos sem direito a condicional por roubo a mão armada. Se ambos permanecerem em silêncio, ambos serão sentenciados a apenas 6 meses de prisão por furto qualificado. Se ambos se acusarem, ambos receberão uma sentença de 5 anos.

Fábio e Taimon devem escolher entre cagüetar o companheiro ou permanecer em silêncio, sem saber qual será a atitude do outro. Então este é o dilema: como você agiria se fosse um dos prisioneiros?

Aspecto psicológico do jogo: Se esse jogo fosse repetido múltiplas vezes por jogadores dotados de memória e raciocínio, os jogadores acabariam aprendendo a estimar a tendência do outro jogador e sua própria experiência seria influenciada pelo comportamento do outro jogador. Estimativas mostram que jogadores inexperientes tendem, em geral, a conseguir interações atipicamente boas ou ruins com os demais jogadores.

As transações iniciais experienciadas por um jogador novato irão ter um maior impacto em suas futuras jogadas do que terão nas jogadas de um jogador experiente, determinado se o jogador novato irá adotar uma estratégia mais ou menos agressiva no futuro.

O jogo é útil para demonstrar como as experiências passadas na infância e na adolescência influenciam as atitudes do futuro adulto e os mecanismos que agem quando uma pessoa que sofreu agressão em tenra idade se torna um agressor.

Um comentário:

Sergio Victor disse...

Sobre a toxina, nessa situação, eu agiria da seguinte maneira.
Eu quero ganhar o dinheiro, mas pra isso, eu preciso intencionar beber a toxina. Pra mim, a única maneira de ter certeza de que eu terei tido sucesso em intencionar é tendo bebido a toxina. Assim eu vou beber a toxina, mesmo sabendo que não precisaria beber.