Discordo que só estamos vivendo quando sentimos prazer. Sem o sofrimento, este grande professor, não estaríamos aptos a reconhecer e valorizar o prazer.
A vida é feita de momentos bons e ruins, não estamos o tempo todo cercado pelos amigos, mas também não vivemos sozinhos; choramos, sorrimos, trocamos carinho, experiências e, por vezes, brigamos. Essa é a vida que conhecemos, é a única que é garantida, é o tempo que temos para explorar tudo que está a nossa volta e no nosso interior. Importante é aproveitar ao máximo para conhecer àqueles que nos cercam e a nós mesmo.
Talvez o segredo da felicidade esteja em reconhecer a existência da dor e do sofrimento, e compreender que, assim como a felicidade, nenhuma dor dura para sempre. O diferencial está na maneira como vivenciamos estes momentos: é preciso saber partilhar dos momentos bons com aqueles que nos são queridos, para que nos momentos ruins possamos contar com essas pessoas. Toda carga fica mais leve se for dividida, esse é o sentido de viver em sociedade, e por isso precisamos viver em sociedade – a natureza da vida é dura e pesada demais para ser carregada por uma única pessoa.
E o sentido da vida? Este não está escrito em lugar algum, não existe uma fórmula pronta. Cada indivíduo precisar encontrar ou dar sentido para sua própria vida. Para isso não podemos depender dos outros, pois se atrelamos o sentido de nossa vida à outra pessoa, arriscamos a perdê-lo quando essa outra pessoa se for – todo relacionamento é efêmero, como uma bolha de sabão, mas o dias são uma constante, sempre haverá um amanhã.
Minha abordagem pessoal quanto ao sentido da vida não é nem um pouco hedonista. Nascemos em sofrimento e existe uma grande probabilidade de morrermos em agonia; não vou dedicar minha vida a uma infindável busca pelo prazer, isso só me traria frustração. Eu vivo cada dia de uma vez, planejo a longo prazo apenas para dar um rumo aos meus dias, estabeleço metas que possam me tornar melhor desde agora e, principalmente, gosto de compartilhar pois sei o quanto isso me deixa feliz – existe, sim, um sentimento egoísta até mesmo naquilo que se faz de bom para os outros, especialmente quando se sente prazer fazendo isso: nenhum carinho é impune, tudo volta.
Mas esse é o sentido que eu dou para a minha vida, cada um tem que achar o sentido para a sua vida, pois embora sejamos uma unidade enquanto humanidade, temos essa coisa chamada de subjetividade, que nos torna únicos. Minha fórmula é válida para mim, minha vida só precisa ter sentido para mim mesmo, pois esta é uma experiência da minha subjetividade.
O que podemos fazer para alargarmos os períodos (mais) significativos da nossa vida?
A resposta para esta pergunta vem muito facilmente, e passa por uma analogia muito utilizada para explicar o conceito de relatividade do tempo: quando estamos muito envolvidos em uma determinada situação que nos trás prazer, o tempo parece encolher e as horas passam como se fossem minutos; mas quando estamos em uma situação desconfortável os minutos parecem durar horas.
O motivo pelo qual as situações aborrecidas parecem demorar tanto para passar é fácil compreender, pois todo nosso ser biológico e/ou psicológico se mobiliza para nos alertar do incômodo; já o motivo pelo qual as situações agradáveis parece passar tão rápido é mais complexo. Acredito que ao criar a analogia acima, estavam se referindo à questão de que as pessoas, em situações agradáveis, ficam tão concentradas apenas em um aspecto que deixam-se inundar por apenas uma sensação, desligando seus demais sentidos – inclusive a noção da passagem do tempo. Mas não é só isso... Cada vez mais relevante, especialmente nos dias de hoje, é a insatisfação, que parece estar sempre presente. Não basta estar bom, tem que estar ótimo. E se estiver ótimo, ainda assim vão ficar descontentes pois acreditam de poderia estar excelente.
Isso acontece, em parte, porque as pessoas esqueceram que possuem um papel ativo no próprio prazer. O prazer que sentem não depende só dos estímulos externos, mas depende também de como esses estímulos são captados e processados.
Além de não se abrirem corretamente para o prazer, muitos deixam de aproveitar na totalidade o prazer a que tem alcance em determinado momento por estarem pensando em como aquele prazer poderia ser melhor, ou mesmo em outro prazer qualquer não relacionado.
Não só isso, mas é comum deixarem de lado um prazer que está acontecendo agora, para se concentrar em um aborrecimento futuro. Neste caso, se está trazendo o aborrecimento para um momento de prazer, por conseguinte é podando o tempo de prazer, e estendido o tempo de aborrecimento; trazendo e vivenciando um aborrecimento futuro para o presente.
Talvez a grande questão não seja se preocupar em alargar mais o momento de prazer, mas estender nossa percepção do momento. Mesmo que não estejamos preocupados com nada, nem insatisfeitos com o prazer, devemos fazer um exercício de ampliar nossa percepção daquele momento, e não tem nada de esotérico nisso. É uma questão de ficar aberto, fazer uma checagem para notar se todos os sentidos estão sendo usados e se todas as sensações estão sendo captadas. É, principalmente, viver o momento.
Vou aproveitar o assunto para discorrer sobre algo que a muito tempo venho pensando e que pode ser sintetizado com um recorte1 de diálogo de um filme, diálogo este que aborda uma visão científica e não-antropocêntrica do sentido da vida:
Grim: Se você sabe tudo, então qual é o sentido da vida?
Master Control: A vida não possui sentido, apenas máquinas inteligentes são realmente importantes em uma escala cósmica.
Isso porque, em um universo que estivesse em declínio, seria necessário uma máquina capaz de aproveitar o potencial computacional restante para processar um número cada vez maior de informação em uma progressão exponencialmente maior do que aquela que levaria a um colapso final. Segundo essa visão, o único propósito filosoficamente válido para a existência de vida inteligente, como seres humanos, seria a criação de maquinário inteligente. Assim como nós experienciamos dilatações e contrações em nossa percepção do tempo, um computador sofre algo similar ao lidar com funções que exijam mais ou menos sua capacidade de processamento – sem as perdas a que nós estamos sujeitos; explorando esse conceito é possível uma simulação daquilo que compreendemos como eternidade em um mundo virtual.
Para explicar isso de uma maneira mais fácil de entender, posso citar uma situação pela qual todas as pessoas que utilizam o computador com alguma freqüência já passaram, que é o que ocorre quando solicitamos a execução de diversos programas ao mesmo tempo e observamos o modo como o computador parece ficar “lento”. Na verdade o computador não fica mais lento, mas está executando um grande número de funções simultaneamente – ou preemptivamente, dependendo do caso.
Em uma linguagem coloquial2, é correto afirmar que nos computadores que utilizamos atualmente, aumentando a energia fornecida ao processador podemos aumentar sua velocidade, até o limite térmico dos componentes físicos. É fácil perceber isso nos notebooks modernos quando estamos executando um programa que exija mais recursos e ouvimos o som da ventoinha sendo acelerada para dissipar mais calor do processador, que está recebendo uma quantidade maior de energia do que em um estado de menor demanda de sua capacidade.
Imaginando um cenário em que a capacidade de processamento aumentasse rapidamente e mais informações fossem processadas em paralelo a medida que a capacidade fosse aumentando, qualquer número de dados que fossem processados – inclusive uma simulação da realidade da maneira como compreendemos o espaço e o tempo – teriam a aparência, como exemplo ilustrativo, de um filme sendo exibido muito acelerado para um suposto observador humano.
Mais uma vez é possível evocar algo conhecido do mundo digital para esclarecer esta idéia: quando se tenta executar um programa feito para um computador antigo em um computador novo a velocidade alcançada pode tornar o programa inutilizável pelo usuário, sendo necessária a utilização de algum recurso que deixe o computador novo mais lento – em alguns casos um programa que seja executado em paralelo ocupando a capacidade de processamento excedente.
Quando falamos em aumentar a capacidade de processamento utilizando a energia disponível, estamos nos referindo a uma suposta máquina consciente tecnologicamente apta a utilizar-se não apenas da energia de uma estrela, mas de um sistema estrelar por inteiro e além. Algo que talvez seja difícil de conceber para quem nunca flertou com esses conceitos, os quais obviamente estão muito além da nossa e das próximas gerações.
Tudo isso é relevante quando pensamos não apenas como seres humanos, mas como a humanidade como um todo, e quando pensamos nos motivos para a evolução de uma forma de vida inteligente e auto-consciente que, ao mesmo tempo, está fadada a ser um breve sonho na história cosmológica. A inteligência artificial é a pedra filosofal do nosso tempo. Pode ser que nunca venhamos a encontrá-la, mas nem por isso devemos deixar de estudar os caminhos que vão sendo iluminados por essa busca (como no texto).
Baseado em um trabalho para a disciplina de Fenomenologia.
A vida é feita de momentos bons e ruins, não estamos o tempo todo cercado pelos amigos, mas também não vivemos sozinhos; choramos, sorrimos, trocamos carinho, experiências e, por vezes, brigamos. Essa é a vida que conhecemos, é a única que é garantida, é o tempo que temos para explorar tudo que está a nossa volta e no nosso interior. Importante é aproveitar ao máximo para conhecer àqueles que nos cercam e a nós mesmo.
Talvez o segredo da felicidade esteja em reconhecer a existência da dor e do sofrimento, e compreender que, assim como a felicidade, nenhuma dor dura para sempre. O diferencial está na maneira como vivenciamos estes momentos: é preciso saber partilhar dos momentos bons com aqueles que nos são queridos, para que nos momentos ruins possamos contar com essas pessoas. Toda carga fica mais leve se for dividida, esse é o sentido de viver em sociedade, e por isso precisamos viver em sociedade – a natureza da vida é dura e pesada demais para ser carregada por uma única pessoa.
E o sentido da vida? Este não está escrito em lugar algum, não existe uma fórmula pronta. Cada indivíduo precisar encontrar ou dar sentido para sua própria vida. Para isso não podemos depender dos outros, pois se atrelamos o sentido de nossa vida à outra pessoa, arriscamos a perdê-lo quando essa outra pessoa se for – todo relacionamento é efêmero, como uma bolha de sabão, mas o dias são uma constante, sempre haverá um amanhã.
Minha abordagem pessoal quanto ao sentido da vida não é nem um pouco hedonista. Nascemos em sofrimento e existe uma grande probabilidade de morrermos em agonia; não vou dedicar minha vida a uma infindável busca pelo prazer, isso só me traria frustração. Eu vivo cada dia de uma vez, planejo a longo prazo apenas para dar um rumo aos meus dias, estabeleço metas que possam me tornar melhor desde agora e, principalmente, gosto de compartilhar pois sei o quanto isso me deixa feliz – existe, sim, um sentimento egoísta até mesmo naquilo que se faz de bom para os outros, especialmente quando se sente prazer fazendo isso: nenhum carinho é impune, tudo volta.
Mas esse é o sentido que eu dou para a minha vida, cada um tem que achar o sentido para a sua vida, pois embora sejamos uma unidade enquanto humanidade, temos essa coisa chamada de subjetividade, que nos torna únicos. Minha fórmula é válida para mim, minha vida só precisa ter sentido para mim mesmo, pois esta é uma experiência da minha subjetividade.
O que podemos fazer para alargarmos os períodos (mais) significativos da nossa vida?
A resposta para esta pergunta vem muito facilmente, e passa por uma analogia muito utilizada para explicar o conceito de relatividade do tempo: quando estamos muito envolvidos em uma determinada situação que nos trás prazer, o tempo parece encolher e as horas passam como se fossem minutos; mas quando estamos em uma situação desconfortável os minutos parecem durar horas.
O motivo pelo qual as situações aborrecidas parecem demorar tanto para passar é fácil compreender, pois todo nosso ser biológico e/ou psicológico se mobiliza para nos alertar do incômodo; já o motivo pelo qual as situações agradáveis parece passar tão rápido é mais complexo. Acredito que ao criar a analogia acima, estavam se referindo à questão de que as pessoas, em situações agradáveis, ficam tão concentradas apenas em um aspecto que deixam-se inundar por apenas uma sensação, desligando seus demais sentidos – inclusive a noção da passagem do tempo. Mas não é só isso... Cada vez mais relevante, especialmente nos dias de hoje, é a insatisfação, que parece estar sempre presente. Não basta estar bom, tem que estar ótimo. E se estiver ótimo, ainda assim vão ficar descontentes pois acreditam de poderia estar excelente.
Isso acontece, em parte, porque as pessoas esqueceram que possuem um papel ativo no próprio prazer. O prazer que sentem não depende só dos estímulos externos, mas depende também de como esses estímulos são captados e processados.
Além de não se abrirem corretamente para o prazer, muitos deixam de aproveitar na totalidade o prazer a que tem alcance em determinado momento por estarem pensando em como aquele prazer poderia ser melhor, ou mesmo em outro prazer qualquer não relacionado.
Não só isso, mas é comum deixarem de lado um prazer que está acontecendo agora, para se concentrar em um aborrecimento futuro. Neste caso, se está trazendo o aborrecimento para um momento de prazer, por conseguinte é podando o tempo de prazer, e estendido o tempo de aborrecimento; trazendo e vivenciando um aborrecimento futuro para o presente.
Talvez a grande questão não seja se preocupar em alargar mais o momento de prazer, mas estender nossa percepção do momento. Mesmo que não estejamos preocupados com nada, nem insatisfeitos com o prazer, devemos fazer um exercício de ampliar nossa percepção daquele momento, e não tem nada de esotérico nisso. É uma questão de ficar aberto, fazer uma checagem para notar se todos os sentidos estão sendo usados e se todas as sensações estão sendo captadas. É, principalmente, viver o momento.
Vou aproveitar o assunto para discorrer sobre algo que a muito tempo venho pensando e que pode ser sintetizado com um recorte1 de diálogo de um filme, diálogo este que aborda uma visão científica e não-antropocêntrica do sentido da vida:
Grim: Se você sabe tudo, então qual é o sentido da vida?
Master Control: A vida não possui sentido, apenas máquinas inteligentes são realmente importantes em uma escala cósmica.
Isso porque, em um universo que estivesse em declínio, seria necessário uma máquina capaz de aproveitar o potencial computacional restante para processar um número cada vez maior de informação em uma progressão exponencialmente maior do que aquela que levaria a um colapso final. Segundo essa visão, o único propósito filosoficamente válido para a existência de vida inteligente, como seres humanos, seria a criação de maquinário inteligente. Assim como nós experienciamos dilatações e contrações em nossa percepção do tempo, um computador sofre algo similar ao lidar com funções que exijam mais ou menos sua capacidade de processamento – sem as perdas a que nós estamos sujeitos; explorando esse conceito é possível uma simulação daquilo que compreendemos como eternidade em um mundo virtual.
Para explicar isso de uma maneira mais fácil de entender, posso citar uma situação pela qual todas as pessoas que utilizam o computador com alguma freqüência já passaram, que é o que ocorre quando solicitamos a execução de diversos programas ao mesmo tempo e observamos o modo como o computador parece ficar “lento”. Na verdade o computador não fica mais lento, mas está executando um grande número de funções simultaneamente – ou preemptivamente, dependendo do caso.
Em uma linguagem coloquial2, é correto afirmar que nos computadores que utilizamos atualmente, aumentando a energia fornecida ao processador podemos aumentar sua velocidade, até o limite térmico dos componentes físicos. É fácil perceber isso nos notebooks modernos quando estamos executando um programa que exija mais recursos e ouvimos o som da ventoinha sendo acelerada para dissipar mais calor do processador, que está recebendo uma quantidade maior de energia do que em um estado de menor demanda de sua capacidade.
Imaginando um cenário em que a capacidade de processamento aumentasse rapidamente e mais informações fossem processadas em paralelo a medida que a capacidade fosse aumentando, qualquer número de dados que fossem processados – inclusive uma simulação da realidade da maneira como compreendemos o espaço e o tempo – teriam a aparência, como exemplo ilustrativo, de um filme sendo exibido muito acelerado para um suposto observador humano.
Mais uma vez é possível evocar algo conhecido do mundo digital para esclarecer esta idéia: quando se tenta executar um programa feito para um computador antigo em um computador novo a velocidade alcançada pode tornar o programa inutilizável pelo usuário, sendo necessária a utilização de algum recurso que deixe o computador novo mais lento – em alguns casos um programa que seja executado em paralelo ocupando a capacidade de processamento excedente.
Quando falamos em aumentar a capacidade de processamento utilizando a energia disponível, estamos nos referindo a uma suposta máquina consciente tecnologicamente apta a utilizar-se não apenas da energia de uma estrela, mas de um sistema estrelar por inteiro e além. Algo que talvez seja difícil de conceber para quem nunca flertou com esses conceitos, os quais obviamente estão muito além da nossa e das próximas gerações.
Tudo isso é relevante quando pensamos não apenas como seres humanos, mas como a humanidade como um todo, e quando pensamos nos motivos para a evolução de uma forma de vida inteligente e auto-consciente que, ao mesmo tempo, está fadada a ser um breve sonho na história cosmológica. A inteligência artificial é a pedra filosofal do nosso tempo. Pode ser que nunca venhamos a encontrá-la, mas nem por isso devemos deixar de estudar os caminhos que vão sendo iluminados por essa busca (como no texto).
Baseado em um trabalho para a disciplina de Fenomenologia.
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