domingo, 30 de setembro de 2007

Carl Rogers

Partindo do meu entendimento da experiência terapêutica, vim a sentir que se eu fosse capaz de criar o clima apropriado, a relação apropriada, as condições apropriadas; o processo do movimento terapêutico irá, quase que inevitavelmente, acontecer em meu cliente.
Você pode se perguntar: O que é este clima? Que condições são estas? Irão elas existir com a mulher que estou prestes a falar; uma mulher que eu nunca havia visto antes? Deixe-me contar-lhe o que são estas condições da maneira como eu as vejo.
Primeiro de tudo, uma questão é: Posso ser sincero no relacionamento? Esta é uma questão que veio a ter uma importância cada vez maior para mim com o passar dos anos. Sinto que poder ser genuíno é outra maneira de descrever uma qualidade que eu gostaria de ter.
Gosto do termo congruência, com o qual quero dizer que o que estou experienciando no meu interior está presente na minha awareness, e emerge por meio da minha comunicação, no sentido de que, quando tenho essa qualidade, estou integralmente na relação. Há outra palavra que gosto de usar para descrever isso, sinto que gostaria ser transparente, para permitir que meu cliente pudesse ver através de mim, e que soubesse que não há nada, nada escondido. Quando sou sincero desta maneira que estou tentando descrever, sei que meus próprios sentimentos irão gerar uma awareness e serão expressos de maneiras que irão se impor no meu cliente.
Então a segunda questão é: Eu vou ser capaz de prezar esta pessoa? Vou ser capaz de me importar com essa pessoa? De maneira que não seja necessário fingir que me importo; mas que se eu persistir em não gostar do meu cliente eu venha a comunicar isso para ele. Eu sei que é muito mais provável que uma mudança construtiva venha a acontecer se eu vir a prezar espontaneamente este indivíduo em meu trabalho; prezar este ser que é único. Você pode chamar essa qualidade de aceitação, ou de cuidado, ou de um amor não possessivo, se quiser. Qualquer um desses termos serve para descrever essa qualidade. Sei que a relação irá provar-se mais construtiva se isso estiver presente.
A terceira questão é: Irei ser capaz de entender o mundo interno deste indivíduo? Serei capaz de ver através dos seus olhos? Serei capaz de ser suficientemente sensível para movimentar-me dentro do mundo dos seus sentimentos de maneira que eu saiba como é ser ele; de maneira que eu possa sentir não apenas suas motivações superficiais, mas algumas motivações que, de algum modo, permanecem sob a superfície? Sei que se eu puder me sensibilizar acuradamente dentro do mundo de experiência dessa pessoa, a mudança no movimento terapêutico é muito mais provável.
Então supunha que eu seja afortunado e venha a experienciar algumas destas atitudes na relação, e então? Bom, neste caso uma variedade de coisas podem acontecer. Tanto minha experiência clínica, quanto minha investigação em pesquisas, indicam que se atitudes como as que foram descritas estiverem presentes, um grande número de coisas irão acontecer. O cliente irá explorar alguns sentimentos e atitudes mais profundamente, irá descobrir alguns aspectos de si mesmo dos quais ainda não fora capaz de captar. Talvez se ele venha a sentir uma sinceridade em mim, ele poderá ser um pouco mais verdadeiro consigo mesmo. Suspeito que irá haver uma mudança na maneira como ele se expressa, pelo menos esta tem sido minha experiência em outras instâncias.
Partindo de estar, de certo modo, distanciado de sua própria vivência interior, é possível que ele possa se aproximar mais dessa vivência, e desta maneira ser capaz de sentir e expressar melhor o que está sentido no momento presente. Do sentimento de desaprovação para consigo mesmo, é bem provável que ele possa desenvolver um maior grau de aceitação de si mesmo. De uma relação baseada, de certo modo, no medo, ele possa ser capaz de se relacionar mais diretamente comigo, e de me confrontar mais diretamente.
Se antes o cliente construía sua vida dentro de padrões rígidos e monocromáticos, ele pode começar a experimentar novas maneiras de construir sua vivência e de ver os significados inerentes a esta vivência. De um locus de avaliação que é exterior a ele mesmo, o cliente pode começar a ver uma maior capacidade interior para fazer julgamentos e para chegar a conclusões.
Estas são algumas das mudanças que nós temos encontrado. Acredito que todas elas são mudanças características do processo terapêutico. Se eu tiver algum sucesso em criar o tipo de condições que descrevi inicialmente, então poderemos ver algumas dessas mudanças neste cliente, mesmo sabendo de antemão que este contato vai ser muito breve.


Esta é a tradução de uma entrevista concedida por Carl Rogers, em uma série de três entrevistas de três abordagens Fenomenológicas, que precediam, cada uma, um encontro de 30 minutos com uma cliente. A entrevista está disponível no Google Video no endereço: http://video.google.com/videoplay?docid=2085790194779298727

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