Dissonância cognitiva, ou cognição dissonante, é um estado psicológico que descreve o sentimento desconfortável que emerge da discrepância entre aquilo que o indivíduo acredita ser verdade e aquilo que o indivíduo sabe ser verdade. Similar à ambivalência, o termo dissonância cognitiva descreve pensamentos conflitantes com as crenças pessoais. Na literatura acadêmica o termo se refere às tentativas de reduzir o desconforto de pensamentos conflitantes por meio de ações que são contrárias às crenças individuais.
Em termos simples, pode se dizer que se trata da filtragem de informações que entram em contradição com as informações nas quais o indivíduo já acredita, num esforço para ignorar as novas informações e reforçar suas crenças; é a percepção de incompatibilidade entre duas cognições, onde cognição é definido como qualquer elemento do conhecimento, incluindo atitudes, emoções, crenças e comportamentos.
A teoria da dissonância cognitiva afirma que cognições contraditórias servem como força motora que compele a mente a adquirir ou inventar novos pensamentos ou crenças, ou a modificar crenças existentes, de maneira a reduzir a quantidade de dissonância (conflito) entre as cognições.
Sustentar princípios conflituosos (por exemplo, crenças incompatíveis) ou rejeitar um comportamento racional para evitar um conflito, pode causar uma má adaptação gradualmente mais aguda a medida que a distância entre as crenças individuais e a realidade aumenta. O uso popular da dissonância cognitiva tende a enfatizar os aspectos que causam uma má adaptação, sendo comumente associada à tendência das pessoas em resistir à informações sobre as quais não querem pensar, evitando o surgimento do conflito e o rompimento com velhos hábitos. Neste caso a pessoa retém uma consciência parcial da informação, sem ter cedido à aceitação por inteiro, de maneira a permanecer em um estado de negação quanto a mesma. Esta inabilidade irracional para incorporar informação racional é, talvez, a maneira mais comum como é percebida a dissonância cognitiva.
O experimento clássico de Festinger e Carlsmith
Em 1959, em um exemplo de estudo de cumplicidade induzida, estudantes voluntários foram submetidos à várias tarefas tediosas e sem sentido, tais como girar pinos em quartos de volta e colocar papéis em uma gaveta, esvaziar a gaveta e colocar novamente papéis na gaveta. Após um longo período de execução, era informado aos estudantes que o experimento havia chegado ao fim e que eles poderiam ir. Ao completarem as tarefas, os participantes as qualificaram de maneira bastante negativa.
Contudo, após o "término" do experimento, o responsável pedia ao estudante um pequeno favor, para que ele substituísse um assistente de pesquisa em dificuldades que encontrava-se incapaz de colaborar com o experimento, e que tentasse persuadir a um outro estudante (que na verdade era um colaborador da pesquisa) de que as tarefas monótonas as quais havia acabado de realizar eram, na verdade, interessantes e desafiadoras. Alguns estudantes receberam US$ 20,00 pelo favor, outros receberam US$ 1,00, e a um grupo de controle não foi feito pedido de favor algum.
Algum tempo depois, os participantes verdadeiros foram novamente inquiridos quanto a tarefa de girar os pinos, e aqueles que receberam US$ 1,00 a qualificaram de maneira mais positiva do que aqueles que receberam US$ 20,00 e do que aqueles pertencentes ao grupo de controle. Essa "adaptação" foi interpretada por Festinger e Carlsmith como uma evidência ratificadora da dissonância cognitiva. Os experimentadores teorizaram que as pessoas experienciaram dissonância entre as cognições conflituosas de "Eu disse para alguém que a tarefa era interessante." e "Na verdade eu achei a tarefa tediosa."
Ao receberem apenas US$ 1,00, os estudantes foram forçados a internalizar a atitude a qual foram induzidos a expressar, pois eles não possuíam outra justificativa para tanto. Aqueles que receberam US$ 20,00, conforme foi argumentado, possuíam uma justificativa externa evidente para comportarem-se desta maneira. A internalização de um comportamento, para os experimentadores, é a única explicação para a maneira como mais tarde os estudantes do grupo de US$ 1,00 qualificaram a tarefa de girar os pinos.
A pesquisa continuou nos anos que se seguiram e atualmente acredita-se no conflito entre "Eu não sou um mentiroso." e o reconhecimento de que "Eu menti." Assim, é feita uma aproximação da verdade por parte dos participantes que recebem a menor recompensa e a apreciação da tarefa é elevada.
Os pesquisadores foram além, e especularam que, com apenas US$ 1,00, os participantes se depararam com uma justificativa insuficiente e, por tanto, uma dissonância cognitiva. Então, quando lhes foi pedido para mentir a respeito das tarefas, ele vieram a amenizar este estresse hipotético mudando suas atitudes. Por meio deste processo eles passaram a acreditar genuinamente (internalizaram) que as tarefas não eram tão monótonas.
Em termos simples, os pesquisadores concluíram que muitos indivíduos, quando persuadidos a mentir sem ter uma justificativa suficiente para tanto, irão ter de lidar com a tarefa de convencer a si mesmos da falsidade, ao invés de simplesmente expressar algo que sabem ser falso.
O experimento do brinquedo proibido de Aronson e Carlsmith
Em um novo experimento de justificação cognitiva para cumplicidade forçada com crianças, em 1963, o pesquisador mostrava diversos brinquedos para uma criança e pedia para que ela apontasse aqueles brinquedos que lhe despertassem maior interesse e aqueles brinquedos que lhe despertassem menor interesse. O pesquisador então escolhia o brinquedo que julgava ser o predileto da criança e a levava para uma sala vazia juntamente com o brinquedo. Antes de sair da sala o pesquisador informava para metade das crianças participantes do experimento de que elas sofreriam uma punição grave caso viessem a brincar com o brinquedo, e para a outra metade o pesquisador informava que elas sofreriam uma punição moderada caso viessem a brincar com o brinquedo.
Mais tarde, o pesquisador repetia o procedimento, com as mesmas crianças e os mesmos brinquedos, porém informava a todas de que não haveria punição alguma caso elas brincassem com os brinquedos.
O resultado foi de que as crianças ameaçadas inicialmente de sofrer punição moderada eram menos propensas a brincar, mesmo sabendo que não haveriam de ser punidas.
Quando questionadas, as crianças que foram ameaçadas de receber punição moderada expressaram um maior desinteresse no brinquedo do que seria esperado, uma vez que elas haviam inicialmente demonstrado predileção por ele.
Em contraste - e curiosamente, o interesse pelo brinquedo foi ampliado naquelas crianças que foram ameaçadas de punição severa.
Este estudo culminou na elaboração do efeito da superjustificação e da justificação insuficiente na cognição. Na superjustificação as crenças pessoas e atitudes de uma pessoa não mudam por terem uma boa razão externa para suas ações: as crianças ameaçadas com punições severas detinham uma boa razão externa para não brincar com o brinquedo pois elas sabiam que as conseqüências seriam terríveis, contudo elas continuavam desejando o brinquedo e, uma vez que a punição era removida elas eram mais inclinadas a brincar com ele.
Por outro lado, as crianças que receberam uma ameaça moderada justificaram para si mesmas motivos pelos quais não iriam querer brincar com o brinquedo, uma vez que o motivador externo, o grau de punição, não era forte o suficiente por si mas, ainda assim, indesejável. Como resultado disso, elas convenceram a si mesmas de que o brinquedo não era mais interessante de maneira que mesmo com a remoção da ameaça de punição elas continuavam exibindo desinteresse pelo brinquedo.
Fonte:
Cognitive dissonance, Wikipedia.
Para saber mais:
Em termos simples, pode se dizer que se trata da filtragem de informações que entram em contradição com as informações nas quais o indivíduo já acredita, num esforço para ignorar as novas informações e reforçar suas crenças; é a percepção de incompatibilidade entre duas cognições, onde cognição é definido como qualquer elemento do conhecimento, incluindo atitudes, emoções, crenças e comportamentos.
A teoria da dissonância cognitiva afirma que cognições contraditórias servem como força motora que compele a mente a adquirir ou inventar novos pensamentos ou crenças, ou a modificar crenças existentes, de maneira a reduzir a quantidade de dissonância (conflito) entre as cognições.
Sustentar princípios conflituosos (por exemplo, crenças incompatíveis) ou rejeitar um comportamento racional para evitar um conflito, pode causar uma má adaptação gradualmente mais aguda a medida que a distância entre as crenças individuais e a realidade aumenta. O uso popular da dissonância cognitiva tende a enfatizar os aspectos que causam uma má adaptação, sendo comumente associada à tendência das pessoas em resistir à informações sobre as quais não querem pensar, evitando o surgimento do conflito e o rompimento com velhos hábitos. Neste caso a pessoa retém uma consciência parcial da informação, sem ter cedido à aceitação por inteiro, de maneira a permanecer em um estado de negação quanto a mesma. Esta inabilidade irracional para incorporar informação racional é, talvez, a maneira mais comum como é percebida a dissonância cognitiva.
O experimento clássico de Festinger e Carlsmith
Em 1959, em um exemplo de estudo de cumplicidade induzida, estudantes voluntários foram submetidos à várias tarefas tediosas e sem sentido, tais como girar pinos em quartos de volta e colocar papéis em uma gaveta, esvaziar a gaveta e colocar novamente papéis na gaveta. Após um longo período de execução, era informado aos estudantes que o experimento havia chegado ao fim e que eles poderiam ir. Ao completarem as tarefas, os participantes as qualificaram de maneira bastante negativa.
Contudo, após o "término" do experimento, o responsável pedia ao estudante um pequeno favor, para que ele substituísse um assistente de pesquisa em dificuldades que encontrava-se incapaz de colaborar com o experimento, e que tentasse persuadir a um outro estudante (que na verdade era um colaborador da pesquisa) de que as tarefas monótonas as quais havia acabado de realizar eram, na verdade, interessantes e desafiadoras. Alguns estudantes receberam US$ 20,00 pelo favor, outros receberam US$ 1,00, e a um grupo de controle não foi feito pedido de favor algum.
Algum tempo depois, os participantes verdadeiros foram novamente inquiridos quanto a tarefa de girar os pinos, e aqueles que receberam US$ 1,00 a qualificaram de maneira mais positiva do que aqueles que receberam US$ 20,00 e do que aqueles pertencentes ao grupo de controle. Essa "adaptação" foi interpretada por Festinger e Carlsmith como uma evidência ratificadora da dissonância cognitiva. Os experimentadores teorizaram que as pessoas experienciaram dissonância entre as cognições conflituosas de "Eu disse para alguém que a tarefa era interessante." e "Na verdade eu achei a tarefa tediosa."
Ao receberem apenas US$ 1,00, os estudantes foram forçados a internalizar a atitude a qual foram induzidos a expressar, pois eles não possuíam outra justificativa para tanto. Aqueles que receberam US$ 20,00, conforme foi argumentado, possuíam uma justificativa externa evidente para comportarem-se desta maneira. A internalização de um comportamento, para os experimentadores, é a única explicação para a maneira como mais tarde os estudantes do grupo de US$ 1,00 qualificaram a tarefa de girar os pinos.
A pesquisa continuou nos anos que se seguiram e atualmente acredita-se no conflito entre "Eu não sou um mentiroso." e o reconhecimento de que "Eu menti." Assim, é feita uma aproximação da verdade por parte dos participantes que recebem a menor recompensa e a apreciação da tarefa é elevada.
Os pesquisadores foram além, e especularam que, com apenas US$ 1,00, os participantes se depararam com uma justificativa insuficiente e, por tanto, uma dissonância cognitiva. Então, quando lhes foi pedido para mentir a respeito das tarefas, ele vieram a amenizar este estresse hipotético mudando suas atitudes. Por meio deste processo eles passaram a acreditar genuinamente (internalizaram) que as tarefas não eram tão monótonas.
Em termos simples, os pesquisadores concluíram que muitos indivíduos, quando persuadidos a mentir sem ter uma justificativa suficiente para tanto, irão ter de lidar com a tarefa de convencer a si mesmos da falsidade, ao invés de simplesmente expressar algo que sabem ser falso.
O experimento do brinquedo proibido de Aronson e Carlsmith
Em um novo experimento de justificação cognitiva para cumplicidade forçada com crianças, em 1963, o pesquisador mostrava diversos brinquedos para uma criança e pedia para que ela apontasse aqueles brinquedos que lhe despertassem maior interesse e aqueles brinquedos que lhe despertassem menor interesse. O pesquisador então escolhia o brinquedo que julgava ser o predileto da criança e a levava para uma sala vazia juntamente com o brinquedo. Antes de sair da sala o pesquisador informava para metade das crianças participantes do experimento de que elas sofreriam uma punição grave caso viessem a brincar com o brinquedo, e para a outra metade o pesquisador informava que elas sofreriam uma punição moderada caso viessem a brincar com o brinquedo.
Mais tarde, o pesquisador repetia o procedimento, com as mesmas crianças e os mesmos brinquedos, porém informava a todas de que não haveria punição alguma caso elas brincassem com os brinquedos.
O resultado foi de que as crianças ameaçadas inicialmente de sofrer punição moderada eram menos propensas a brincar, mesmo sabendo que não haveriam de ser punidas.
Quando questionadas, as crianças que foram ameaçadas de receber punição moderada expressaram um maior desinteresse no brinquedo do que seria esperado, uma vez que elas haviam inicialmente demonstrado predileção por ele.
Em contraste - e curiosamente, o interesse pelo brinquedo foi ampliado naquelas crianças que foram ameaçadas de punição severa.
Este estudo culminou na elaboração do efeito da superjustificação e da justificação insuficiente na cognição. Na superjustificação as crenças pessoas e atitudes de uma pessoa não mudam por terem uma boa razão externa para suas ações: as crianças ameaçadas com punições severas detinham uma boa razão externa para não brincar com o brinquedo pois elas sabiam que as conseqüências seriam terríveis, contudo elas continuavam desejando o brinquedo e, uma vez que a punição era removida elas eram mais inclinadas a brincar com ele.
Por outro lado, as crianças que receberam uma ameaça moderada justificaram para si mesmas motivos pelos quais não iriam querer brincar com o brinquedo, uma vez que o motivador externo, o grau de punição, não era forte o suficiente por si mas, ainda assim, indesejável. Como resultado disso, elas convenceram a si mesmas de que o brinquedo não era mais interessante de maneira que mesmo com a remoção da ameaça de punição elas continuavam exibindo desinteresse pelo brinquedo.
Fonte:
Cognitive dissonance, Wikipedia.
Para saber mais:
13 comentários:
Oi, tudo bem? Escrevi um texto sobre Dissonância Cognitiva, abordando o outro experimento de Festinger: http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-festinger-e-a-dissonancia-cognitiva.html
Ele faz parte de uma série sobre os mais famosos Experimentos em Psicologia do século passado (http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-introducao.html).
Espero que goste! Atenciosamente, Rodolfo.
Estranho citar Skinner em dissonância cognitiva no artigo original, não achou?
Na verdade não acho nada estranho. Skinner foi um dos psicólogos mais influentes que já existiu e contribuiu de forma definitiva para a psicologia moderna. Basta olhar para a chamada "terceira onda das terapias cognitivas" para ver que o cisão entre a base teórica da Psicologia Comportamental e da Psicologia Cognitiva não é tão absoluta quanto os livros de introdução e de história fazem crer.
Legal ter uma resposta... a maioria dos blogueiros não responde. Obrigada.
Poderia me enviar referências de Skinner sobre dissonância?
Gostei do seu blog e vou acompanhar.
Valeu!!
Obrigado! =)
O Google descontinuou o desenvolvimento de várias ferramentas extremamente úteis, mas o Google Scholar ainda está funcionando. Alguns autores exploraram o fenômeno da dissonância cognitiva a partir da análise comportamental, veja: https://scholar.google.com.br/scholar?q=Skinner+%E2%80%9Ccognitive+Dissonance%E2%80%9C&hl=pt-BR&as_sdt=0&as_vis=1&oi=scholart&sa=X&ei=U9_oVMPDIMGgNt-BgoAG&ved=0CBgQgQMwAA
Voltei, rs
Peço desculpas, Claudio!
Na verdade foi em outro blog onde havia a citação de uma postagem original em inglês, onde relaciona Skinner à dissonância cognitiva, como se fora ele o autor do estudo, quando na realidade, como o sr. cita, os louros pertencem a Festinger. Então minha pergunta deveria ser/era dirigida ao autor do blog http://www.memedecarbono.com.br/memes/distorcoes-cognitivas-que-nos-impedem-de-ver-o-mundo-real/.
Original em inglês http://io9.com/5974468/the-most-common-cognitive-biases-that-prevent-you-from-being-rational
De qualquer forma agradeço imensamente o artigo que indicou.
Ola
Obrigada pelo esclarecimento da investigação.
Sou estudante de psicologia e graças a seu texto consegui compreender a teoria do Festinger. Obrigada!
Abçs
www.eiguria.com.br
Otimo texto, muito didatico e esclarecedor. Parabens!! :)
A dissonância cognitiva não poderia ser equiparada com a negação psicanalítica?
Sim, existem paralelos mas diferenças significativas quanto a forma de compreender um fenômeno no qual o sujeito subtrai ou distorce parte da realidade.
Existe como diagnosticar e tratar esse problema ?
Se um fenômeno humano pode ser descrito de forma objetiva, com critérios que demonstrem sua presença ou ausência, então pode ser diagnosticado ou, no caso da dissonância cognitiva, apontado, já que esta não constitui um transtorno.
Excelente! Foi de extrema utilidade a leitura para mim, sou da área jurídica e vou utilizar Festinger em um artigo sobre imparcialidade do juiz. Obrigada!
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