quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Maturidade

A maturidade se dá a conhecer de uma forma surpreendente. Sabemos que estamos maduros quando notamos uma mudança considerável em diversos conceitos centrais. A maturidade acontece quando descobrimos que ser radical é tentar fazer a coisa certa, mesmo que a coisa certa seja penosa, maçante, ou seja reprovada de forma mais ou menos indireta por nossos pares.
Exemplo de escolhas que determinam aquilo que vejo como o fim da adolescência e o início da vida adulta de fato:
1. A aceitação da responsabilidade pessoal pelo bem estar de pessoas próximas, não só aquelas diretamente dependentes emocionalmente, economicamente ou fisicamente de você, mas também daquelas que podem ser, de alguma forma beneficiadas pelas suas atitudes, ainda que estas atitudes não sejam as que mais lhe convém.
2. A busca por uma vida em que exista maior harmonia, disciplina ou equilíbrio, tanto no escopo interno, pessoal, quanto no escopo familiar, social e ambiental.
3. A escolha por atitudes nem sempre prazerosas ou por caminhos nem sempre fáceis, incluindo a aceitação de que algumas coisas na vida são raras e de que outras coisas na vida são demoradas e trabalhosas.
Acredito que algumas das decisões que tomei refletem esta transição para uma maior maturidade, na minha experiência individual, como ser humano:
1. Abdicar completamente do consumo de carne e, no momento, evitar tanto quanto possível o consumo de derivados do ovo e do leite, reflete uma preocupação com meu próprio bem estar psicológico, no tocante a minha aceitação para comigo mesmo, e com meu próprio bem estar físico, pois penso ser esta uma maneira fácil de se alimentar de forma mais salutar; tanto quanto reflete uma preocupação para com aqueles que me são próximos, servindo de exemplo e mostrando que é possível uma vida saudável e alegre sem o consumo de derivados da violência; e também uma preocupação para com aqueles que não me são tão próximos, uma vez que acredito que uma parcela enorme da humanidade perece na fome e na miséria para que uma pequena parcela possa se indulgenciar consumindo proteína animal - uma fonte economicamente e ecologicamente insustentável de alimentação. Tal atitude se estende além da espécie humana, uma vez que trás em si um desejo consciente de uma coexistência pacífica com as demais espécies animais.
2. Me dedicar seriamente à busca de um futuro a longo-prazo, com metas que superam os meus anos já vividos. Pretendo seguir fazendo meu curso de Psicologia com o maior empenho possível, tendo em consideração minhas capacidades intelectuais e meu estado emocional corrente, visando a ter a chance de me dedicar à vida acadêmica e de atuar de forma competente para com as pessoas que vierem a confiar nos meus serviços. O desejo de fazer uma boa pós-graduação é um plano de longo prazo, assim como o de ingressar e permanecer num ambiente de docência e pesquisa, e certamente existem incertezas e imprevistos; mas a cada momento que constituir o meu presente até o momento em que este futuro que almejo se torne presente, é minha intenção e serão minhas ações voltadas para este intento.
Assim, entendo que ser radical é rejeitar um pedaço de carne, mesmo quando todos estão comendo e insistem para que você faça igual, ou deixar de ir a uma festa para ficar estudando mesmo quando as provas ainda estão meio "distantes no horizonte".
Entendo que ser radical é acreditar que é possível concluir um curso de nível superior sem recorrer à "cola", mesmo que isso implique em arcar, em alguns momentos, com notas inferiores às daquelas pessoas que recorrem a este subterfúgio;
É acreditar que todo estudante, do momento em que pisa na escola e começa a aprender os rudimentos da ciência, todo acadêmico docente ou discente de qualquer nível de instrução - básico, médio, técnico, superior ou pós-graduado, é responsável pela construção e disseminação do saber científico; e deve agir ativamente para tornar este saber acessível e transparente a todos, realizando permanentemente reflexões a respeito do que estuda;
É mais do que contestar aquilo que se pensa estar errado, mas assumir a sua parte na mudança, ainda que ninguém mais o faça. Ainda que te tomem - erroneamente - por associal quando são feitas certas escolhas.
E é no momento em que comecei a entender estas coisas, que descobri o real significado da maturidade.
Nos últimos meses venho considerado eliminar da minha vida o consumo social do álcool: não vejo benefícios salutares no consumo de bebidas alcoólicas, duvido que um copo de suco de uva natural não traga os mesmos benefícios que uma taça do vinho mais fino; e não sinto a necessidade de ingerir álcool para interagir de forma adequada com as pessoas, levando em consideração que as pessoas devem aceitar a minha personalidade como ela é, e não conforme ela se mostra quando embotada por um depressor do sistema nervoso central.
Por outro lado, vejo algumas desvantagens no consumo de álcool: é difícil reconhecer quando consumo moderado, ou adequado, se torna passado, refletindo no comportamento de forma que as ações se tornem inconseqüentes, pois um dos efeitos mais característicos da ingestão de etílicos é o déficit no julgamento - típico exemplo de círculo vicioso; e os danos a saúde são evidentes, também, pois os tecidos vivos são danificados pelo contato com o álcool.
O álcool é responsável por muitos acidentes de trânsito, por grande parte dos comportamentos violentos, e por muitas das tragédias individuais, sociais e familiares, e isso é notável em todas as sociedades, ao longo de toda história da humanidade.
Enfim, são conclusões óbvias de afirmação dos malefícios do álcool e são negações aos supostos benefícios do álcool, benefícios que vejo como irreais e, no mínimo, baseados em conclusões parciais ou precipitadas.
Esta é a realidade conforme eu vejo. Espero que meus pares entendam e respeitem a minha visão de realidade quando eu estiver em alguma futura festa ou confraternização - eventos dos quais tomo parte com muito gosto, pois adoro estar no meio de pessoas queridas - e decline o convite para uma cervejinha ou qualquer outra bebida alcoólica.
Também penso que é mais um passo em direção ao que considero maturidade, pois o álcool, assim como outras formas de alteração da consciência, é uma forma de fuga de diversos problemas e frustrações. Acredito que ser radical, no sentido adulto da palavra, é encarar os problemas e as frustrações, sabendo que estes não irão desaparecer depois que a ebriedade passar, e saber que mais eficaz do que buscar esta alteração, é buscar a ajuda daqueles que estão dispostos e são capazes de ajudar - bons amigos, por exemplo.
Penso que é importante ressaltar que tais atitudes, para se refletirem em maturidade, devem vir de dentro do indivíduo, por convencimento próprio; e não por agentes coercitivos externos, como religiões ou grupos que exercem pressões para a adoção de um comportamento semelhante ao descrito acima. Não há convencimento maior e mais duradouro do que aquele convencimento que parte do próprio indivíduo, e não existem verdades absolutas, ou verdades codificadas em sistemas, que possam ser impostas uniformemente a todos os seres humanos.
Muitas vezes é melhor errar por convicção própria e ter a chance de aprender com o erro, do que acertar sem saber os reais motivos pelos quais se acerta, por obediência a uma verdade não racionalizada, a negação da experiência. Por isso não condeno a adolescência, nem os exageros que são cometidos durante esta fase que - por motivos sócio-históricos e econômicos - se tornou tão prolongada nos nossos dias.
Também não condeno as pessoas que não compartilham da mesma visão de mundo que eu, que não se sentem preparadas para abdicar de velhos hábitos por considerarem que a mudança será muito penosa ou por qualquer outra razão. Cada um possui o seu tempo...
Só peço que não esqueçam que o tempo, na vida, é finito, assim como os recursos dos quais a vida depende.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá. Estava lendo um post sobre as modificações que você fez no plugin Eliza p / o aMSN. Tem como você me enviar uma cópia do arquivo, ou pelo menos as palavras e respostas?

Obrigada.

Sol

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Oi Sol!

Eu não possuo mais o arquivo que eu havia modificado... acredite, formatei o computador para atualizar o sistema operacional e não fiz backup do Eliza. :P
Contudo, você pode me mandar o teu endereço de e-mail por aqui (eu leio e depois apago o comentário sem publicar) que eu te mando uma mensagem explicando passo a passo como modificar o arquivo de maneira que você possa criar o teu próprio chatbot.
Não é difícil, só um pouco trabalhoso - deve levar umas duas horas para fazer um, mas vale a pena, pois podes deixar o bot do jeito que você mais gostar.

C.