Um neurônio espelho é um neurônio que dispara tanto quando um animal executa uma ação quanto quando um animal observa a mesma ação ser executada por outro animal (especialmente da mesma espécie). Assim, o neurônio espelha o comportamento de outro animal, como se o observador estivesse agindo. Estes neurônios têm sido diretamente observados nos primatas e acredita-se que existem nos seres humanos e em alguns pássaros. Nos seres humanos, atividade cerebral consistente com neurônios espelho tem sido encontrada no córtex pré-motor e no córtex parietal inferior.
Alguns cientistas consideram os neurônios espelho uma das descobertas mais importantes da neurociência na última década. Entre eles consta V. S. Ramachandran, que acredita que eles possam ser muito importantes na imitação e na aquisição da linguagem. Contudo, apesar da popularidade deste campo, até o momento nenhum modelo neural ou computacional plausível foi apresentado para descrever como a atividade dos neurônios espelho dá suporte à funções cognitivas tais como a imitação.
Além disso, é geralmente aceito que não há um conjunto de neurônios que seja isoladamente responsável por este fenômeno. Mais provável é que toda uma rede de neurônios é ativada quando uma ação é observada.
A função do sistema de espelho é objeto de muita especulação. Estes neurônios podem ser importantes para o entendimento das ações de outras pessoas e para a aprendizagem de novas habilidades por meio da imitação. Alguns pesquisadores também especulam que o sistema espelho podem simular ações observadas e, desta forma, contribuir para a teoria das habilidades mentais, enquanto outros relacionam os neurônios espelho à habilidades lingüísticas. Também foi proposto que problemas no sistema espelho podem estar relacionados à desordens cognitivas, em particular ao autismo. A conexão entre uma disfunção nos neurônios espelho e o autismo permanece especulativa e é pouco provável que os neurônios espelho estejam relacionados a muitas das características importantes desta síndrome.
A descoberta dos neurônios espelho se deu nas décadas de 80 e 90, quando Giacomo Rizzolatti estava trabalhando com Luciano Fadiga, Leonardo Fogassi e Vittorio Gallese na Universidade de Parma, na Itália. Estes cientistas haviam posto eletrodos no córtex frontal inferior de macacos para estudar os neurônios especializados no controle do movimento das mãos; por exemplo, segurando e manuseando um objeto. Durante cada experimento, eles gravavam a atividade de um único neurônio no cérebro do macaco enquanto ele manuseava pedaços de comida, de maneira que os pesquisadores pudessem medir a resposta daquele neurônio para certos movimentos. Eles descobriram que alguns neurônios, cuja a atividade havia sido gravada, respondiam tanto quando o macaco observava uma pessoa pegar um pedaço de comida, quanto quando o macaco pegava a comida. Experimentos posteriores confirmaram que aproximadamente 10% dos neurônios do córtex frontal inferior e do córtex parietal inferior do macaco possuíam propriedades "espelho" e davam respostas similares às ações realizadas pela mão e às ações observadas. Mais recentemente, Christian Keysers e seus colegas demonstraram que tanto nos humanos quanto nos macacos, o sistema espelho também responde aos sons de ações.
Alguns cientistas consideram os neurônios espelho uma das descobertas mais importantes da neurociência na última década. Entre eles consta V. S. Ramachandran, que acredita que eles possam ser muito importantes na imitação e na aquisição da linguagem. Contudo, apesar da popularidade deste campo, até o momento nenhum modelo neural ou computacional plausível foi apresentado para descrever como a atividade dos neurônios espelho dá suporte à funções cognitivas tais como a imitação.
Além disso, é geralmente aceito que não há um conjunto de neurônios que seja isoladamente responsável por este fenômeno. Mais provável é que toda uma rede de neurônios é ativada quando uma ação é observada.
A função do sistema de espelho é objeto de muita especulação. Estes neurônios podem ser importantes para o entendimento das ações de outras pessoas e para a aprendizagem de novas habilidades por meio da imitação. Alguns pesquisadores também especulam que o sistema espelho podem simular ações observadas e, desta forma, contribuir para a teoria das habilidades mentais, enquanto outros relacionam os neurônios espelho à habilidades lingüísticas. Também foi proposto que problemas no sistema espelho podem estar relacionados à desordens cognitivas, em particular ao autismo. A conexão entre uma disfunção nos neurônios espelho e o autismo permanece especulativa e é pouco provável que os neurônios espelho estejam relacionados a muitas das características importantes desta síndrome.
A descoberta dos neurônios espelho se deu nas décadas de 80 e 90, quando Giacomo Rizzolatti estava trabalhando com Luciano Fadiga, Leonardo Fogassi e Vittorio Gallese na Universidade de Parma, na Itália. Estes cientistas haviam posto eletrodos no córtex frontal inferior de macacos para estudar os neurônios especializados no controle do movimento das mãos; por exemplo, segurando e manuseando um objeto. Durante cada experimento, eles gravavam a atividade de um único neurônio no cérebro do macaco enquanto ele manuseava pedaços de comida, de maneira que os pesquisadores pudessem medir a resposta daquele neurônio para certos movimentos. Eles descobriram que alguns neurônios, cuja a atividade havia sido gravada, respondiam tanto quando o macaco observava uma pessoa pegar um pedaço de comida, quanto quando o macaco pegava a comida. Experimentos posteriores confirmaram que aproximadamente 10% dos neurônios do córtex frontal inferior e do córtex parietal inferior do macaco possuíam propriedades "espelho" e davam respostas similares às ações realizadas pela mão e às ações observadas. Mais recentemente, Christian Keysers e seus colegas demonstraram que tanto nos humanos quanto nos macacos, o sistema espelho também responde aos sons de ações.
Este trabalho foi então publicado e tem sido confirmado com neurônios espelho encontrados tanto nas regiões frontal-inferior e parietal-inferior do cérebro. Recentemente, evidências coletadas por meio de ressonância magnética funcional, TMS, EEG e comportamentais sugerem a presença de sistemas similares em seres humanos, nas quais regiões do cérebro que respondem tanto a ações quanto a observações foram identificadas. Não surpreendentemente, estas regiões do cérebro correspondem às mesmas regiões que foram encontradas no cérebro dos macacos.
O único animal no qual os neurônios espelho foram estudados individualmente é o macaco. Neles, os neurônios espelho são encontrados no giro frontal inferior (região F5) e no lóbo parietal inferior.
Acredita-se que os neurônios espelho mediam a compreensão do comportamento de outros animais. Por exemplo, um neurônio espelho que dispara quando o macaco rasga um pedaço de papel irá também disparar quando o macaco observa uma pessoa rasgando um pedaço de papel, ou quando um macaco ouve um pedaço de papel ser rasgado (sem estímulos visuais). Estas propriedades levaram os pesquisadores a acreditar que os neurônios espelho codificam conceitos abstratos de ações como "rasgar papel", enquanto a ação é realizada pelo macaco ou por outro animal.
A função dos neurônios espelho nos macacos ainda é desconhecida. Macacos adultos não parecem aprender por imitação. Experimentos recentes sugerem que macacos jovens podem imitar os movimentos faciais humanos, embora apenas os neonatos tenham demonstrado tal habilidade e apenas durante uma limitada janela temporal. Contudo, não é conhecido se os neurônios espelho são responsáveis por este comportamento.
Em macacos adultos, neurônios espelho podem habilitar o macado a entender o que outro macaco está fazendo, ou para reconhecer a ação de um outro macaco.
Nos seres humanos, geralmente, não é possível estudar a atividade de um único neurônio no cérebro, então os cientistas não podem ter certeza se os seres humanos possuem neurônios espelho. Contudo, os resultados de experimentos usando ressonância magnética funcional têm mostrado que o córtex frontal inferior e o lobo parietal superior humanos são ativados quando a pessoa realiza uma ação e, também, quando a pessoa observa outro indivíduo realizando uma ação. Assim, estas regiões do cérebro provavelmente contém neurônios espelho e foram definidas como sistemas espelho neuronais humanos. Diversas medidas indiretas tem sido usadas para estudar o sistema espelho nos humanos. Por exemplo, quando uma pessoa observa a ação de outra pessoa, seu córtex motor torna-se mais excitável. Esta excitabilidade pode ser medida pelo registro do tamanho do potencial motor evocado (MEP) induzido pela estimulação magnética transcranial. As mudanças no tamanho do MEP são tomadas como medida da atividade do sistema espelho, pois os MEPs provém do córtex motor primário que está intimamente relacionado às regiões nas quais se acredita que existam neurônios espelho no cérebro. Dados recentes sugerem que estas mudanças no tamanho do MEP podem ser fortemente influenciadas por treinamento em diferentes mapeamentos de estímulo-resposta, com grandes aumentos para mapeamentos já bem aprendidos.
A óculometria dá outra medida indireta que pode refletir o processamento dos neurônios espelho. Quando alguém move as mãos, os olhos movem-se adiante da mão para focalizar o objeto a ser manuseado. Similarmente, quando observando as ações de alguma outra pessoa, os olhos do observador também devem antecipar o que a outra pessoa irá fazer.
A óculometria infantil sugere que o sistema espelho se desenvolve antes dos 12 meses de idade e que este sistema pode ajudar bebês a entender as ações de outras pessoas. Uma questão crítica é sobre como os neurônios espelho adquirem suas propriedades. Dois modelos relacionados postulam que os neurônios espelho são treinados por meio da aprendizagem Hebbian ou Associativa. Contido, se os neurônios pré-motores recisam ser treinados pela ativação para que possam adquirir propriedades espelho, não fica claro, então, como bebês recém nascidos são capazes de mimetizar os gestos faciais de outras pessoas (imitação de ações não vistas), como sugerido pelo trabalho de Meltzoff & Moore (a não ser que seja um tipo especial de imitação não suportada pelos neurônios espelho).
Muitos estudos relacionam os neurônios espelho ao entendimento de objetivos e intenções. Fogassi e outros registraram a atividade de 41 neurônios no lobo parietal inferior de dois macacos rhesus. O lobo parietal inferior tem sido a muito tempo reconhecido como um córtex de associação que integra a informação sensorial. Os macacos observaram um experimentador pegando uma maçã e levando a maçã até a boca ou pegando um objeto e colocando o objeto dentro de um copo. No total, 15 neurônios espelho disparam vigorosamente enquanto os macacos observavam o movimento de "pegar e comer", porém não foi registrada qualquer atividade quando foram expostos à condição de "pegar e colocar". Para quatro outros neurônios espelho, o contrário era verdade: eles eram ativados em resposta ao experimentador eventualmente colocando a maçã no copo, mas não quando ele levava a maçã a boca. Apenas o tipo de ação, e não a força cinética com a qual os modelos manipulavam os objetos, determinava a atividade neural. Também é significante que os neurônios disparavam antes do macaco observar o modelo humano começar o segundo ato motor (levar o objeto à boca ou por o objeto no copo). Assim, neurônios do lobo parietal inferior codificaram o mesmo ato (agarrar) de diferentes formas de acordo com o objetivo final da ação na qual o ato estava envolvido***. Eles podem ser a base neural para previsão das ações subseqüêntes de outros indivíduos e para a inferência de intenções.
Neurônios espelho também foram relacionados à empatia, pois certas regiões do cérebro (em particular a ínsula anterior e o córtex frontal inferior são ativados quando uma pessoa experiencia uma emoção (nojo, alegria, dor, etc...) e quando observa outra pessoa experienciar uma emoção. Contudo, estas regiões do cérebro não são exatamente as mesmas que espelham ações manuais, e neurônios espelho para estados emocionais ou empatia não foram ainda descritos em macacos. Mais recentemente, Christian Keysers, do Laboratório Cerebral Social (Social Brain Lab), e seus colegas, demonstrou que pessoas que são mais empáticas conforme as respostas de questionários que foram aplicados, possuem ativações mais fortes em ambos os sistemas para ações manuais quanto para emoções, provendo mais suporte direto à idéia de que o sistema espelho esteja relacionado à empatia.
Foram encontrados neurônios espelho próximos à área de Broca, região de processamento da lingüagem e produção da lingüagem. Isso levou à sugestões de que a linguagem humana evoluiu de um sistema de realização e compreensão gestual implementado em neurônios espelho. Neurônios espelho têm sido relacionados ao potencial de prover um mecanismo para a compreensão de ações, imitação por aprendizgem e para a simulação do comportamento de outras pessoas. Contudo, como muitas teorias de evolução da linguagem, ainda existem poucas evidências diretas neste sentido.
Na filosofia da mente, os neurônios espelho têm sido agitado os teoristas da teoria da mente, que se refere à habilidade humana para inferir o estado mental de outra pessoa (tais como desejos e crenças) a partir das experiências e comportamentos da pessoa em questão. Segundo a teoria da simulação, a teoria da mente está disponível pois nós nos colocamos subconscientemente "nos sapatos" de outra pessoa a quem estejamos observando e, tendo em conta as diferenças relevantes, imaginamos o que iríamos desejar e acreditar em tal cenário. Neurônios espelho têm sido interpretados como o mecanismo pelo qual nós podemos simular os outros de modo a melhor entendê-los e, desta maneira, a descoberta destes neurônios tem sido tomada, por alguns, como a validação da teoria da simulação (que apareceu uma década antes da descoberta dos neurônios espelho). Mais recentemente, as teorias da mente e simulação têm sido vistas como sistemas complementares.
Fonte: Mirror Neuron. In: Wikipedia, the free encyclopedia.
Para saber mais: NOVA | scienceNOW | Mirror Neurons: Monkey Do, Monkey See | PBS
Ver também: Recortes: A História Humana - Uma nova história da evolução da humanidade
*** Obs.: A codificação de diferentes informações motoras observadas em diferentes áreas relacionadas a áreas motoras cerebrais parece condizente com um modelo de memória distribuída na qual uma única ação, ou evento, ou melhor dizendo, uma única memória, envolvendo diferentes aspectos tais como movimento, visão, cheiros e sons, é codificada em locais diferentes do cérebro que se associam intimamente tanto quanto na codificação neuronal desta memória quanto na sua evocação meramente mental ou resultante em ação verbal ou física posterior. Por exemplo, alguém que recebe um buquê de flores pode ter a memória deste evento codificada em locais de associação tanto nos quanto relacionados aos córtex visual (que reteria a informação visual do evento), quanto no córtex motor e sensitivo (que reteria as informações motoras de segurar e de tato e olfato ao buquê), quanto em áreas associativas da linguagem (receber, buquê, etc e tal...). Essa suposição pode ser confirmada ou refutada com base em pessoas que sofreram algum dano em alguma destas áreas do cérebro e que tenham que lembrar-se e descrever um evento deste tipo que envolva a ativação de várias áreas do cérebro. Caso algum aspecto do evento não seja acessível a memória, e seja correspondente a área afetada, fica estabelecido um indicador favorável a esta hipótese. E mesmo que a memória seja descrita inicialmente na íntegra, esta hipótese não fica totalmente descartada, uma vez que isso possa ser resultado da integridade das áreas de linguagem do cérebro. Contudo, imagino que seria difícil realizar um contra-teste... Caso a pessoa houvesse perdido o sentido do olfato em razão de um dano cerebral e ainda assim fosse capaz de descrever verbalmente o cheiro do buquê, o contra-teste que consigo imaginar seria a apresentação de diferentes cheiros para a pessoa para que ela reconhecesse qual corresponde ao cheiro do buquê, o que obviamente não seria possível pois ela haveria perdido o sentido do olfato. Assim, não imagino, neste momento, como isto poderia ser testado, mas também vejo que levanta uma outra hipótese interessante, de que a linguagem possa ser um repositório de memórias... Mas isso parece não proceder, uma vez que uma pessoa com um dano nos corpos mamilares pode ter total compreensão e domínio da linguagem e ser incapaz de reter a memória de eventos ocorridos após o dano. A idéia de uma memória distribuída em diferentes sistemas, onde cada aspecto de cada memória fica armazenado no sistema correspondente ao aspecto em questão, é interessante para a compreensão da experiência subjetiva.
** Update: "Por exemplo, em um paciente sob meus cuidados, uma trombose repentina na circulação posterior do cérebro causou a morte imediata das várias partes visuais do cérebro. Dali por diante, este paciente tornou-se totalmente cego, porém sem o saber. Ele parecia cego, mas não se queixava [levando em consideração os relatos de danos no SNC e de danos no SNP que já li, me parece que para danos no SNP que levam a perda parcial ou total de alguma função, e para danos no SNC que levam a perda parcial de uma função, os pacientes tendem a reclamar mais de suas condições, talvez por ter maior consciência da perda. Porém para danos no SNC que levam a perda completa de alguma função, os pacientes parecem permanecer alheios a tal perda, como se, de alguma forma, jamais houvessem possuído tal função. Inicialmente eu imaginava isso como um mecanismo psicológico de negação, uma defesa para tal estado; mas agora sou levado a considerar a possibilidade de que uma parte da consciência destes indivíduos foi eliminada... ]. Perguntas e exames mostraram, sem sombra de dúvida, que ele estava central ou "corticalmente" cego, mas que também perdera todas as suas imagens ou memórias visuais, que as perdera totalmente, embora não tivesse idéia de perda alguma. De fato, ele perdera a própria idéia [conceito] de visão e não só era incapaz de descrever algo visualmente, como, também, ficava confuso quando eu usava as palavras "enxergar" e "luz". Em essência, ele se tornara um ser não visual. Todo seu tempo de vida como pessoa que exergava, seu tempo de visualidade, fora efetivamente [parcialmente, uma vez que foram só as imagens e não os demais aspectos das lembranças!] roubado. De fato, toda sua vida visual fora apagada - e apagada permanentemente - no momento do ataque. Essa amnésia visual e (por assim dizer) cegueira para a cegueira, amnésia para amnésia [isso é redundante, uma vez que é comum, como visto no caso relatado neste capítulo deste livro que cito], constitui efetivamente uma síndrome de Korsakov "total" restrita à visualidade." SACKS, Oliver. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. pg. 56-7
Bom, com esse relato incrível do Oliver Sacks - e todos os relatos do Oliver Sacks tornam-se incríveis mais do que pela situação que descrevem, mas pela habilidade dele com as palavras, é sem dúvida um neurologista e um escritor genial - parece ser uma nova força para a hipótese de que cada memória é armazenada em diversos locais do cérebro, sendo que cada aspecto de cada memória é armazenado separadamente na área responsável pela aquisição daquela memória. Se assim procede, e levando em conta algo que li num outro livro, não me lembro se do LeDoux ou do Damásio - olha minha memória aí... -, de que as áreas que desempenha suas funções adquiridas hereditariamente, formadas por especialização celular conforme os planos genéticos de cada espécie, tendem a adaptar a sua performance aos estímulos que recebem - o que faz sentido, lembrando dos casos de pessoas que são privadas da visão e a recobram anos depois ou que são privadas de contato com a linguagem, no primeiro caso se diz que elas precisam reaprender a usar a visão, no segundo caso já foi constatado um déficit no desenvolvimento das áreas da linguagem, mesmo déficit que possivelmente poderia ou pode ser constatado no caso da visão, do primeiro caso. Isso tem grandes implicações para a questão dos qualia, da experiência subjetiva. A maneira como usamos os sistemas responsáveis pela experiência consciênte dos nossos sentidos e faculdades, os estímulos que estes sistemas recebem do meio, irão moldar tais sistemas e, conseqüêntemente, a própria experiência subjetiva, ou o quale de cada um deles... Eu me dei conta disso depois de ler esse negócio sobre como os estimulos modificam os diferentes sistemas, e depois de ler uma citação de um livro do Francis Crick no blog do Ken Mogi. Agora com mais esse relato do Oliver Sacks, isso tudo parece fazer muito sentido... Preciso explorar mais essa idéia. :D
* Na verdade só fiz essa tradução por que eu queria colocar a foto do macaquinho fazendo careta no blog, por que achei muito legal a foto. (:
O único animal no qual os neurônios espelho foram estudados individualmente é o macaco. Neles, os neurônios espelho são encontrados no giro frontal inferior (região F5) e no lóbo parietal inferior.
Acredita-se que os neurônios espelho mediam a compreensão do comportamento de outros animais. Por exemplo, um neurônio espelho que dispara quando o macaco rasga um pedaço de papel irá também disparar quando o macaco observa uma pessoa rasgando um pedaço de papel, ou quando um macaco ouve um pedaço de papel ser rasgado (sem estímulos visuais). Estas propriedades levaram os pesquisadores a acreditar que os neurônios espelho codificam conceitos abstratos de ações como "rasgar papel", enquanto a ação é realizada pelo macaco ou por outro animal.
A função dos neurônios espelho nos macacos ainda é desconhecida. Macacos adultos não parecem aprender por imitação. Experimentos recentes sugerem que macacos jovens podem imitar os movimentos faciais humanos, embora apenas os neonatos tenham demonstrado tal habilidade e apenas durante uma limitada janela temporal. Contudo, não é conhecido se os neurônios espelho são responsáveis por este comportamento.
Em macacos adultos, neurônios espelho podem habilitar o macado a entender o que outro macaco está fazendo, ou para reconhecer a ação de um outro macaco.
Nos seres humanos, geralmente, não é possível estudar a atividade de um único neurônio no cérebro, então os cientistas não podem ter certeza se os seres humanos possuem neurônios espelho. Contudo, os resultados de experimentos usando ressonância magnética funcional têm mostrado que o córtex frontal inferior e o lobo parietal superior humanos são ativados quando a pessoa realiza uma ação e, também, quando a pessoa observa outro indivíduo realizando uma ação. Assim, estas regiões do cérebro provavelmente contém neurônios espelho e foram definidas como sistemas espelho neuronais humanos. Diversas medidas indiretas tem sido usadas para estudar o sistema espelho nos humanos. Por exemplo, quando uma pessoa observa a ação de outra pessoa, seu córtex motor torna-se mais excitável. Esta excitabilidade pode ser medida pelo registro do tamanho do potencial motor evocado (MEP) induzido pela estimulação magnética transcranial. As mudanças no tamanho do MEP são tomadas como medida da atividade do sistema espelho, pois os MEPs provém do córtex motor primário que está intimamente relacionado às regiões nas quais se acredita que existam neurônios espelho no cérebro. Dados recentes sugerem que estas mudanças no tamanho do MEP podem ser fortemente influenciadas por treinamento em diferentes mapeamentos de estímulo-resposta, com grandes aumentos para mapeamentos já bem aprendidos.
A óculometria dá outra medida indireta que pode refletir o processamento dos neurônios espelho. Quando alguém move as mãos, os olhos movem-se adiante da mão para focalizar o objeto a ser manuseado. Similarmente, quando observando as ações de alguma outra pessoa, os olhos do observador também devem antecipar o que a outra pessoa irá fazer.
A óculometria infantil sugere que o sistema espelho se desenvolve antes dos 12 meses de idade e que este sistema pode ajudar bebês a entender as ações de outras pessoas. Uma questão crítica é sobre como os neurônios espelho adquirem suas propriedades. Dois modelos relacionados postulam que os neurônios espelho são treinados por meio da aprendizagem Hebbian ou Associativa. Contido, se os neurônios pré-motores recisam ser treinados pela ativação para que possam adquirir propriedades espelho, não fica claro, então, como bebês recém nascidos são capazes de mimetizar os gestos faciais de outras pessoas (imitação de ações não vistas), como sugerido pelo trabalho de Meltzoff & Moore (a não ser que seja um tipo especial de imitação não suportada pelos neurônios espelho).
Muitos estudos relacionam os neurônios espelho ao entendimento de objetivos e intenções. Fogassi e outros registraram a atividade de 41 neurônios no lobo parietal inferior de dois macacos rhesus. O lobo parietal inferior tem sido a muito tempo reconhecido como um córtex de associação que integra a informação sensorial. Os macacos observaram um experimentador pegando uma maçã e levando a maçã até a boca ou pegando um objeto e colocando o objeto dentro de um copo. No total, 15 neurônios espelho disparam vigorosamente enquanto os macacos observavam o movimento de "pegar e comer", porém não foi registrada qualquer atividade quando foram expostos à condição de "pegar e colocar". Para quatro outros neurônios espelho, o contrário era verdade: eles eram ativados em resposta ao experimentador eventualmente colocando a maçã no copo, mas não quando ele levava a maçã a boca. Apenas o tipo de ação, e não a força cinética com a qual os modelos manipulavam os objetos, determinava a atividade neural. Também é significante que os neurônios disparavam antes do macaco observar o modelo humano começar o segundo ato motor (levar o objeto à boca ou por o objeto no copo). Assim, neurônios do lobo parietal inferior codificaram o mesmo ato (agarrar) de diferentes formas de acordo com o objetivo final da ação na qual o ato estava envolvido***. Eles podem ser a base neural para previsão das ações subseqüêntes de outros indivíduos e para a inferência de intenções.
Neurônios espelho também foram relacionados à empatia, pois certas regiões do cérebro (em particular a ínsula anterior e o córtex frontal inferior são ativados quando uma pessoa experiencia uma emoção (nojo, alegria, dor, etc...) e quando observa outra pessoa experienciar uma emoção. Contudo, estas regiões do cérebro não são exatamente as mesmas que espelham ações manuais, e neurônios espelho para estados emocionais ou empatia não foram ainda descritos em macacos. Mais recentemente, Christian Keysers, do Laboratório Cerebral Social (Social Brain Lab), e seus colegas, demonstrou que pessoas que são mais empáticas conforme as respostas de questionários que foram aplicados, possuem ativações mais fortes em ambos os sistemas para ações manuais quanto para emoções, provendo mais suporte direto à idéia de que o sistema espelho esteja relacionado à empatia.
Foram encontrados neurônios espelho próximos à área de Broca, região de processamento da lingüagem e produção da lingüagem. Isso levou à sugestões de que a linguagem humana evoluiu de um sistema de realização e compreensão gestual implementado em neurônios espelho. Neurônios espelho têm sido relacionados ao potencial de prover um mecanismo para a compreensão de ações, imitação por aprendizgem e para a simulação do comportamento de outras pessoas. Contudo, como muitas teorias de evolução da linguagem, ainda existem poucas evidências diretas neste sentido.
Na filosofia da mente, os neurônios espelho têm sido agitado os teoristas da teoria da mente, que se refere à habilidade humana para inferir o estado mental de outra pessoa (tais como desejos e crenças) a partir das experiências e comportamentos da pessoa em questão. Segundo a teoria da simulação, a teoria da mente está disponível pois nós nos colocamos subconscientemente "nos sapatos" de outra pessoa a quem estejamos observando e, tendo em conta as diferenças relevantes, imaginamos o que iríamos desejar e acreditar em tal cenário. Neurônios espelho têm sido interpretados como o mecanismo pelo qual nós podemos simular os outros de modo a melhor entendê-los e, desta maneira, a descoberta destes neurônios tem sido tomada, por alguns, como a validação da teoria da simulação (que apareceu uma década antes da descoberta dos neurônios espelho). Mais recentemente, as teorias da mente e simulação têm sido vistas como sistemas complementares.
Fonte: Mirror Neuron. In: Wikipedia, the free encyclopedia.
Para saber mais: NOVA | scienceNOW | Mirror Neurons: Monkey Do, Monkey See | PBS
Ver também: Recortes: A História Humana - Uma nova história da evolução da humanidade
*** Obs.: A codificação de diferentes informações motoras observadas em diferentes áreas relacionadas a áreas motoras cerebrais parece condizente com um modelo de memória distribuída na qual uma única ação, ou evento, ou melhor dizendo, uma única memória, envolvendo diferentes aspectos tais como movimento, visão, cheiros e sons, é codificada em locais diferentes do cérebro que se associam intimamente tanto quanto na codificação neuronal desta memória quanto na sua evocação meramente mental ou resultante em ação verbal ou física posterior. Por exemplo, alguém que recebe um buquê de flores pode ter a memória deste evento codificada em locais de associação tanto nos quanto relacionados aos córtex visual (que reteria a informação visual do evento), quanto no córtex motor e sensitivo (que reteria as informações motoras de segurar e de tato e olfato ao buquê), quanto em áreas associativas da linguagem (receber, buquê, etc e tal...). Essa suposição pode ser confirmada ou refutada com base em pessoas que sofreram algum dano em alguma destas áreas do cérebro e que tenham que lembrar-se e descrever um evento deste tipo que envolva a ativação de várias áreas do cérebro. Caso algum aspecto do evento não seja acessível a memória, e seja correspondente a área afetada, fica estabelecido um indicador favorável a esta hipótese. E mesmo que a memória seja descrita inicialmente na íntegra, esta hipótese não fica totalmente descartada, uma vez que isso possa ser resultado da integridade das áreas de linguagem do cérebro. Contudo, imagino que seria difícil realizar um contra-teste... Caso a pessoa houvesse perdido o sentido do olfato em razão de um dano cerebral e ainda assim fosse capaz de descrever verbalmente o cheiro do buquê, o contra-teste que consigo imaginar seria a apresentação de diferentes cheiros para a pessoa para que ela reconhecesse qual corresponde ao cheiro do buquê, o que obviamente não seria possível pois ela haveria perdido o sentido do olfato. Assim, não imagino, neste momento, como isto poderia ser testado, mas também vejo que levanta uma outra hipótese interessante, de que a linguagem possa ser um repositório de memórias... Mas isso parece não proceder, uma vez que uma pessoa com um dano nos corpos mamilares pode ter total compreensão e domínio da linguagem e ser incapaz de reter a memória de eventos ocorridos após o dano. A idéia de uma memória distribuída em diferentes sistemas, onde cada aspecto de cada memória fica armazenado no sistema correspondente ao aspecto em questão, é interessante para a compreensão da experiência subjetiva.
** Update: "Por exemplo, em um paciente sob meus cuidados, uma trombose repentina na circulação posterior do cérebro causou a morte imediata das várias partes visuais do cérebro. Dali por diante, este paciente tornou-se totalmente cego, porém sem o saber. Ele parecia cego, mas não se queixava [levando em consideração os relatos de danos no SNC e de danos no SNP que já li, me parece que para danos no SNP que levam a perda parcial ou total de alguma função, e para danos no SNC que levam a perda parcial de uma função, os pacientes tendem a reclamar mais de suas condições, talvez por ter maior consciência da perda. Porém para danos no SNC que levam a perda completa de alguma função, os pacientes parecem permanecer alheios a tal perda, como se, de alguma forma, jamais houvessem possuído tal função. Inicialmente eu imaginava isso como um mecanismo psicológico de negação, uma defesa para tal estado; mas agora sou levado a considerar a possibilidade de que uma parte da consciência destes indivíduos foi eliminada... ]. Perguntas e exames mostraram, sem sombra de dúvida, que ele estava central ou "corticalmente" cego, mas que também perdera todas as suas imagens ou memórias visuais, que as perdera totalmente, embora não tivesse idéia de perda alguma. De fato, ele perdera a própria idéia [conceito] de visão e não só era incapaz de descrever algo visualmente, como, também, ficava confuso quando eu usava as palavras "enxergar" e "luz". Em essência, ele se tornara um ser não visual. Todo seu tempo de vida como pessoa que exergava, seu tempo de visualidade, fora efetivamente [parcialmente, uma vez que foram só as imagens e não os demais aspectos das lembranças!] roubado. De fato, toda sua vida visual fora apagada - e apagada permanentemente - no momento do ataque. Essa amnésia visual e (por assim dizer) cegueira para a cegueira, amnésia para amnésia [isso é redundante, uma vez que é comum, como visto no caso relatado neste capítulo deste livro que cito], constitui efetivamente uma síndrome de Korsakov "total" restrita à visualidade." SACKS, Oliver. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. pg. 56-7
Bom, com esse relato incrível do Oliver Sacks - e todos os relatos do Oliver Sacks tornam-se incríveis mais do que pela situação que descrevem, mas pela habilidade dele com as palavras, é sem dúvida um neurologista e um escritor genial - parece ser uma nova força para a hipótese de que cada memória é armazenada em diversos locais do cérebro, sendo que cada aspecto de cada memória é armazenado separadamente na área responsável pela aquisição daquela memória. Se assim procede, e levando em conta algo que li num outro livro, não me lembro se do LeDoux ou do Damásio - olha minha memória aí... -, de que as áreas que desempenha suas funções adquiridas hereditariamente, formadas por especialização celular conforme os planos genéticos de cada espécie, tendem a adaptar a sua performance aos estímulos que recebem - o que faz sentido, lembrando dos casos de pessoas que são privadas da visão e a recobram anos depois ou que são privadas de contato com a linguagem, no primeiro caso se diz que elas precisam reaprender a usar a visão, no segundo caso já foi constatado um déficit no desenvolvimento das áreas da linguagem, mesmo déficit que possivelmente poderia ou pode ser constatado no caso da visão, do primeiro caso. Isso tem grandes implicações para a questão dos qualia, da experiência subjetiva. A maneira como usamos os sistemas responsáveis pela experiência consciênte dos nossos sentidos e faculdades, os estímulos que estes sistemas recebem do meio, irão moldar tais sistemas e, conseqüêntemente, a própria experiência subjetiva, ou o quale de cada um deles... Eu me dei conta disso depois de ler esse negócio sobre como os estimulos modificam os diferentes sistemas, e depois de ler uma citação de um livro do Francis Crick no blog do Ken Mogi. Agora com mais esse relato do Oliver Sacks, isso tudo parece fazer muito sentido... Preciso explorar mais essa idéia. :D
* Na verdade só fiz essa tradução por que eu queria colocar a foto do macaquinho fazendo careta no blog, por que achei muito legal a foto. (:
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