Acabo de assistir a um vídeo no youtube onde um sr. que já passou por algumas cirurgias para a remoção de alguns tumores cerebrais relata que vem sentido uma piora no seu quadro geral. Ele sente como se estivesse perdendo a própria mente, a medida que suas funções cognitivas tornam-se cada vez mais erráticas.
Assistindo ao depoimento dele, voltei a pensar na questão sobre o que nos resta enquanto seres vivos em relação a este construto que chamamos de mente, que parece transcender nossos limites físicos mas que se mostra inegavelmente dependente destes em face às doenças, síndromes e acidentes, em face ao tempo.
Eventualmente todos nós iremos perder todas nossas funções cognitivas, inclusive toda nossa memória. Isto é tão certo quanto o raiar de um novo dia. Aquilo que temos como mente, toda nossa vida na forma de memórias com sua carga subjetiva, aquelas coisas que podemos descrever, mas nunca de modo a transmitir o quantum emocional associado, tudo isso se perderá no momento em que nossos tecidos deixarem de funcionar apropriadamente e cessarem suas atividades.
Novamente, como já disse anteriormente neste blog, o que fica são as memórias daqueles que viveram conosco. E qual a conclusão que cheguei assistindo ao vídeo do depoimento, sob a luz desta minha maneira de ver as coisas?
Que as únicas coisas que realmente valem a pena ser lembradas são as coisas que vivenciamos com as pessoas significativas em nossas vidas. Aquelas que são realmente significativas em nossas vidas. Sabemos quem são estas pessoas pois ao pensarmos nelas nosso pensamento vem carregado de emoção. E eu prefiro me lembrar daquelas que me trazem emoções positivas.
Apesar de todo o estudo, que em grande parte é uma tarefa um tanto solitária -- ler em grupo sempre foi um péssima idéia, embora discussões pós-leitura sejam sempre proveitosas, quando bem embasadas --, apesar de toda a reflexão que fazemos, no "pesar dos pesares", o que realmente importa, são aqueles momentos em que estivemos interagindo com um ou mais pares de forma intensa, seja intelectualmente, seja apenas se divertindo, seja na paixão ou na amizade, ou no carinho. Esse é o nosso construto social mais vivo e, ao mesmo tempo, tão próximo.
É tão próximo e tão comum em nossas vidas que muitas vezes não lhe dispensamos a atenção devida.
Penso em todo o esforço que cristãos e outros religiosos fazem para merecer a duvidosa vida após a morte: doações, privações, rotinas, etc... E me surpreendo, pois nenhuma destas ações tem relações causais factuais com o que se pretende alcançar, uma vez que é algo meramente construído pela religião, seja lá ela qual for. Tanto esforço por uma ilusão culturalmente determinada. Também me surpreendo como estas pessoas esquecem de construir e de se preparar para o outro tipo de vida após a morte, esta sim, além de qualquer dúvida: a memória que as pessoas significativas terão quando partir o último trem... Quando as cortinas descerem. O quanto são incapazes de demonstrar real apreço e consideração, as vezes, por alguém que está tão próximo. Será que estão construindo lembranças onde são alguém que manteve a mão estendida, alguém que procurou compreender, alguém que teve verdadeira preocupação para com os outros?
Existem coisas que fazemos por pessoas que jamais irão nos conhecer, nem saber que fizemos coisa alguma. E isso é bom, é a nossa contribuição para com a espécie. Todos devemos fazer estas coisas. Existem coisas que fazemos por pessoas que passam pelas nossas vidas mas que eventualmente nem lembrarão do nosso nome, ou do nosso rosto. E isso é bom, pois demonstra que temos boas - e saudáveis - intenções para com os outros. E existem coisas que fazemos por pessoas que realmente não nos dão a mínima, não gostam e nem vão gostar de nós. E isso também é bom, pois demonstra que não somos como estas pessoas.
Mas jamais, em hipótese alguma, acredito que devamos colocar qualquer uma das categorias listadas acima, em uma classe de prioridade superior àquela a qual pertencem as pessoas que nos são significativas e que nos amam de verdade. É por essas pessoas que temos que por a mão no fogo, que temos de fazer qualquer sacrifício, que temos que trabalhar e se necessário lutar para que estejam bem. Isso é compreender o princípio de reciprocidade. Isso é construir aquilo que irá perdurar quando tivermos partido.
Por isso eu digo, não tratem aqueles que são próximos a você e que te querem bem como ímpios, como criaturas de segunda ou terceira classe; faça todo o possível para tratar a estas pessoas como iguais a você, como pessoas merecedoras de máxima compreensão e do mais profundo respeito. Pois são estas pessoas que irão, numa bela tarde de um dia qualquer, lembrar de você quando você já não mais estiver aqui. Que tipo de lembrança você quer que estas pessoas tenham?
E mesmo que você venha a brigar com estas pessoas, mesmo que venha a se desentender, não deixe de tentar exercer o perdão, nem que este tenha de vir de você. Nem sempre é o mais importante estar com a razão. O mais importante é seguir em frente e conviver em harmonia tanto quanto possível.
O relógio da vida bate acelerado, rápido demais para perder tempo com remorsos, com rancor, raiva, remoendo o que ao passado pertence. E o passado se encontra tão próximo quanto cinco segundos atrás. São cinco segundos que não voltam mais e, no momento em que você tiver pensado isso, já terão se passado outros dez segundos. Melhor tornar-se mestre em prolongar os bons momentos, o prazer e a alegria, do que tornar-se mestre em prolongar os sentimentos negativos, a própria infelicidade. Chore quando tiver de chorar, entristeça-se quando tiver que se entristecer, mas lembre-se que a tragédia da vida nos pertence e que as possibilidades encontram-se a nossa frente. Sabemos a hora que temos que erguer a cabeça e seguir em frente. Mas cabe a nós que façamos isso.
Assistindo ao depoimento dele, voltei a pensar na questão sobre o que nos resta enquanto seres vivos em relação a este construto que chamamos de mente, que parece transcender nossos limites físicos mas que se mostra inegavelmente dependente destes em face às doenças, síndromes e acidentes, em face ao tempo.
Eventualmente todos nós iremos perder todas nossas funções cognitivas, inclusive toda nossa memória. Isto é tão certo quanto o raiar de um novo dia. Aquilo que temos como mente, toda nossa vida na forma de memórias com sua carga subjetiva, aquelas coisas que podemos descrever, mas nunca de modo a transmitir o quantum emocional associado, tudo isso se perderá no momento em que nossos tecidos deixarem de funcionar apropriadamente e cessarem suas atividades.
Novamente, como já disse anteriormente neste blog, o que fica são as memórias daqueles que viveram conosco. E qual a conclusão que cheguei assistindo ao vídeo do depoimento, sob a luz desta minha maneira de ver as coisas?
Que as únicas coisas que realmente valem a pena ser lembradas são as coisas que vivenciamos com as pessoas significativas em nossas vidas. Aquelas que são realmente significativas em nossas vidas. Sabemos quem são estas pessoas pois ao pensarmos nelas nosso pensamento vem carregado de emoção. E eu prefiro me lembrar daquelas que me trazem emoções positivas.
Apesar de todo o estudo, que em grande parte é uma tarefa um tanto solitária -- ler em grupo sempre foi um péssima idéia, embora discussões pós-leitura sejam sempre proveitosas, quando bem embasadas --, apesar de toda a reflexão que fazemos, no "pesar dos pesares", o que realmente importa, são aqueles momentos em que estivemos interagindo com um ou mais pares de forma intensa, seja intelectualmente, seja apenas se divertindo, seja na paixão ou na amizade, ou no carinho. Esse é o nosso construto social mais vivo e, ao mesmo tempo, tão próximo.
É tão próximo e tão comum em nossas vidas que muitas vezes não lhe dispensamos a atenção devida.
Penso em todo o esforço que cristãos e outros religiosos fazem para merecer a duvidosa vida após a morte: doações, privações, rotinas, etc... E me surpreendo, pois nenhuma destas ações tem relações causais factuais com o que se pretende alcançar, uma vez que é algo meramente construído pela religião, seja lá ela qual for. Tanto esforço por uma ilusão culturalmente determinada. Também me surpreendo como estas pessoas esquecem de construir e de se preparar para o outro tipo de vida após a morte, esta sim, além de qualquer dúvida: a memória que as pessoas significativas terão quando partir o último trem... Quando as cortinas descerem. O quanto são incapazes de demonstrar real apreço e consideração, as vezes, por alguém que está tão próximo. Será que estão construindo lembranças onde são alguém que manteve a mão estendida, alguém que procurou compreender, alguém que teve verdadeira preocupação para com os outros?
Existem coisas que fazemos por pessoas que jamais irão nos conhecer, nem saber que fizemos coisa alguma. E isso é bom, é a nossa contribuição para com a espécie. Todos devemos fazer estas coisas. Existem coisas que fazemos por pessoas que passam pelas nossas vidas mas que eventualmente nem lembrarão do nosso nome, ou do nosso rosto. E isso é bom, pois demonstra que temos boas - e saudáveis - intenções para com os outros. E existem coisas que fazemos por pessoas que realmente não nos dão a mínima, não gostam e nem vão gostar de nós. E isso também é bom, pois demonstra que não somos como estas pessoas.
Mas jamais, em hipótese alguma, acredito que devamos colocar qualquer uma das categorias listadas acima, em uma classe de prioridade superior àquela a qual pertencem as pessoas que nos são significativas e que nos amam de verdade. É por essas pessoas que temos que por a mão no fogo, que temos de fazer qualquer sacrifício, que temos que trabalhar e se necessário lutar para que estejam bem. Isso é compreender o princípio de reciprocidade. Isso é construir aquilo que irá perdurar quando tivermos partido.
Por isso eu digo, não tratem aqueles que são próximos a você e que te querem bem como ímpios, como criaturas de segunda ou terceira classe; faça todo o possível para tratar a estas pessoas como iguais a você, como pessoas merecedoras de máxima compreensão e do mais profundo respeito. Pois são estas pessoas que irão, numa bela tarde de um dia qualquer, lembrar de você quando você já não mais estiver aqui. Que tipo de lembrança você quer que estas pessoas tenham?
E mesmo que você venha a brigar com estas pessoas, mesmo que venha a se desentender, não deixe de tentar exercer o perdão, nem que este tenha de vir de você. Nem sempre é o mais importante estar com a razão. O mais importante é seguir em frente e conviver em harmonia tanto quanto possível.
O relógio da vida bate acelerado, rápido demais para perder tempo com remorsos, com rancor, raiva, remoendo o que ao passado pertence. E o passado se encontra tão próximo quanto cinco segundos atrás. São cinco segundos que não voltam mais e, no momento em que você tiver pensado isso, já terão se passado outros dez segundos. Melhor tornar-se mestre em prolongar os bons momentos, o prazer e a alegria, do que tornar-se mestre em prolongar os sentimentos negativos, a própria infelicidade. Chore quando tiver de chorar, entristeça-se quando tiver que se entristecer, mas lembre-se que a tragédia da vida nos pertence e que as possibilidades encontram-se a nossa frente. Sabemos a hora que temos que erguer a cabeça e seguir em frente. Mas cabe a nós que façamos isso.
2 comentários:
Excelente postagem, pois nos leva a refletir sobre nosso valor que é construido mediante a cada gesto, cada atitude que temos ao longo dos nossos dias vividos que passam a ser conservadas na mente das pessoas, assim devemos saber aproveitar cada segundo, pois os tempos vão e são as lembranças é que ficam...
Excelente postagem, pois nos leva a refletir sobre nosso valor que é construido mediante a cada gesto, cada atitude que temos ao longo dos nossos dias vividos que passam a ser conservadas na mente das pessoas, assim devemos saber aproveitar cada segundo, pois os tempos vão e são as lembranças é que ficam...
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