"A morte está sempre no caminho, mas o fato de que não sabemos quando ela irá chegar, parece nos remover da finitude da vida. É aquela precisão terrível que nós odiamos tanto. Mas, uma vez que não sabemos, pensamos que a vida é uma fonte inesgotável; ainda que, na verdade, tudo aconteça apenas um número limitado de vezes e numa quantidade bastante reduzida. Alguns momentos são tão profundamente enraizados naquilo que somos que nem ao menos conseguimos conceber nossa vida sem eles. Quantas vezes mais você irá recordar-se daqueles momentos da sua infância? Talvez quatro ou cinco vezes mais. Talvez nem isso. Quantas vezes mais você irá observar a lua cheia cruzando o céu? Talvez vinte vezes. E ainda assim parecerão ilimitadas."
Paul Bowles
As palavras de Paul Bowles nos fazem pensar, especialmente sobre as coisas boas da nossa vida, as experiências agradáveis. Agora, em março, a cidade em que moro tem apresentado noites tomadas por um ar incrível, por vezes uma brisa muito agradável, céu estrelado onde a lua brilha com uma clareza excepcional. Quantas vezes mais irei sair de casa e me deparar com este clima, que é mais comum nesta época e mais raro no restante do ano? Quantas vezes mais vou sentir o ar agradável, na temperatura certa, a brisa movendo este ar contra meus cabelos, me acariciando a fronte? Talvez uma, talvez dez vezes... Espero que sejam muitas vezes ainda. Aqui ou em qualquer outro lugar.
Mas, além destas experiências boas, sobre as quais as palavras acima citadas nos fazem refletir, penso que, quando realmente nos deparamos com a possibilidade concreta da aniquilação de nossa existência em um tempo qualquer porém bastante tangível, quando realmente olhamos na face daquilo que está além da nossa fragilidade e finitude, na face de nossa destruição enquanto seres humanos, é aí, neste momento, que somos capazes de valorizar não apenas os momentos bons e agradáveis, mas de olhar para os momentos desconfortáveis, momentos que antes nos causaram angústia, tristeza ou raiva, e sentir algo completamente supreendente: saudosismo por estes momentos. Ao valorizar, valorizar de verdade, aquilo que a experiência humana tem de pior para oferecer, valorizar aquilo de pior que sentimos na pele, no peito, em nosso âmago, aí então é que valorizamos o todo da experiência humana.
Não acredito que é possível chegar neste ponto apenas tomando consciência de nossa finitude. Mas esta tomada de consciência já é um primeiro passo. Valorizar cada momento bom, sabendo que são limitados, possibilita uma nova atitude perante estes momentos, e uma vivência bem mais intensa do que é bom.
Mas perceber que os momentos ruins também nos dizem que estamos vivos, que estamos sentindo e que somos capazes de sentir, e que estes momentos também são finitos, isso sim, dá a possibilidade de vivenciar a totalidade da experiência humana. Que tipo de ser humano seríamos se estivéssemos além de qualquer sofrimento?
Pena que o custo para chegar a tal certeza seja tão alto. Por outro lado, só quem já chegou lá pode sofrer de amor, sofrer com o desprezo, sofrer com a maldade dos outros, e ainda assim, apreciar este sofrimento como algo positivo para si. Não de uma forma masoquista, nada que leve a uma busca pelo sofrimento. Mas mais do que uma forma de aceitação pelo sofrimento, uma compreensão sobre o mesmo de que se sofro, sou humano, se sofro, sou capaz de amar e capaz de desejar algo melhor. Quando deixar de sofrer, terei deixado de viver. E ao encarar isto, olharei para trás, e sentirei falta não apenas das minhas alegrias, mas também de todo o sofrimento pelo qual passei. No dia que a precisão terrível se apresenta...
Mas, além destas experiências boas, sobre as quais as palavras acima citadas nos fazem refletir, penso que, quando realmente nos deparamos com a possibilidade concreta da aniquilação de nossa existência em um tempo qualquer porém bastante tangível, quando realmente olhamos na face daquilo que está além da nossa fragilidade e finitude, na face de nossa destruição enquanto seres humanos, é aí, neste momento, que somos capazes de valorizar não apenas os momentos bons e agradáveis, mas de olhar para os momentos desconfortáveis, momentos que antes nos causaram angústia, tristeza ou raiva, e sentir algo completamente supreendente: saudosismo por estes momentos. Ao valorizar, valorizar de verdade, aquilo que a experiência humana tem de pior para oferecer, valorizar aquilo de pior que sentimos na pele, no peito, em nosso âmago, aí então é que valorizamos o todo da experiência humana.
Não acredito que é possível chegar neste ponto apenas tomando consciência de nossa finitude. Mas esta tomada de consciência já é um primeiro passo. Valorizar cada momento bom, sabendo que são limitados, possibilita uma nova atitude perante estes momentos, e uma vivência bem mais intensa do que é bom.
Mas perceber que os momentos ruins também nos dizem que estamos vivos, que estamos sentindo e que somos capazes de sentir, e que estes momentos também são finitos, isso sim, dá a possibilidade de vivenciar a totalidade da experiência humana. Que tipo de ser humano seríamos se estivéssemos além de qualquer sofrimento?
Pena que o custo para chegar a tal certeza seja tão alto. Por outro lado, só quem já chegou lá pode sofrer de amor, sofrer com o desprezo, sofrer com a maldade dos outros, e ainda assim, apreciar este sofrimento como algo positivo para si. Não de uma forma masoquista, nada que leve a uma busca pelo sofrimento. Mas mais do que uma forma de aceitação pelo sofrimento, uma compreensão sobre o mesmo de que se sofro, sou humano, se sofro, sou capaz de amar e capaz de desejar algo melhor. Quando deixar de sofrer, terei deixado de viver. E ao encarar isto, olharei para trás, e sentirei falta não apenas das minhas alegrias, mas também de todo o sofrimento pelo qual passei. No dia que a precisão terrível se apresenta...
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