quarta-feira, 4 de março de 2009

A Hipótese TES

É uma mente que está ilesa pela religião, filosofia e condicionamento cultural. É ir nu para as estrelas.

A hipótese TES é óbvia, fundamental e em harmonia com o estado mental que valoriza tanto a ciência quanto a consciência cósmica. Esta hipótese declara que o universo e todas as suas manifestações é uma criação do tempo-energia-espaço, TES (Time Energy Space). Até mesmo os fenômenos etéreos de compaixão são um produto desta entidade universal singular. Existem formas de energia e dimensões do espaço que ainda não foram quantificadas pela ciência. Estas realidades misteriosas também estão dentro do escopo da TES. Nada no universo é verdadeiramente sobrenatural e além das leis da natureza. Tudo o que existe é criado por meio de ciclos do tempo-espaço-energia, tanto em grandes escalas físicas envolvendo a formação das estrelas, galáxias e planetas, e nas intangíveis dimensões envolvendo a evolução do cérebro humano e da consciência.

Obs.: Hum? Consciência cósmica? Fenômenos etéreos de compaixão? Realidades misteriosas e formas de energia e dimensões que ainda não foram quantificadas pela ciência??? Ah para... Por quê isto está sendo traduzido e postado neste blog? Calma... Explicações virão... (:

A palavra hindu "Atman" significa alma da vida e essência do ser. O Atman não é a mente humana individual, mas é definida como a alma universal que existe em todos os lugares. Para os propósitos desta discussão, iremos usar a palavra Atman de forma mais estrita, para designar aquela parte da TES que se torna consciente de si como um todo, em escala cósmica. Definimos, aqui, Atman como sendo a consciência cósmica universal.

A maior parte da TES existe inconscientemente, sem sentimentos ou vida. Esta porção é feita por espaço vazio, estrelas e planetas sem vida. Formas primitivas de vida que existem em uma minoria dos planetas possuem uma consciência utilitária que lhes permite sobreviver interagindo com seu ambiente. O inconsciente TES, matéria bruta e energia, origina TES parcialmente consciente, os planetas e animais. Com a evolução de animais superiores, a TES intensamente consciente - o Atman - surge. Esta consciência de proporções oceânicas é o resultado normal da TES e inerentemente imortal. Quando seres humanos atingem a iluminação, suas consciências se tornam um com o Atman, mas eles nunca atingem habilidades mágicas fora das leis naturais ou das propriedades da TES. Seres iluminados permanecem fisicamente mortais, mas suas consciências se unem com a consciência primordial da própria natureza. Este Atman sempre existiu, e sempre irá existir no futuro.

Nenhum ser humano jamais conheceu a parte inconsciente da TES diretamente, pois tudo o que conhecemos pertence a este mundo de consciência. Nós nos tornamos cientes do reino inconsciente da TES apenas pela inferência. Quando observamos uma árvore, não estamos vendo uma árvore diretamente, mas uma representação da árvore criada em nossos cérebros. Nossas experiências de cores, cheiros, sabores e sons, são todas criações subjetivas de nossa evolução neurológica enquanto mamíferos. Estão a questão: "Se uma árvore cair em uma floresta não houver ninguém lá para ouvir,existirá som?"

Obs.: É evidente que tudo o que vemos e tudo o que sentimos são representações criadas pelo sentidos e processadas no cérebro. É como uma linguagem neurológica. Quando dizemos "árvore", não criamos uma árvore com as ondas sonoras que propagamos no ar, da mesma forma que os impulsos nervosos que transmitem a estimulação da visão da árvore, e os impulsos nervosos que nos fazem "perceber" uma árvore, não estão criando uma árvore de verdade, com madeira, folhas, clorofila, etc, em nossos cérebros. Se haverá som na floresta na ausência de um observador? Depende da definição de som. Se som é apenas a propagação de vibrações no ar, então é evidente que haverá. Se a definição de som depende de um observador - ou ouvinte, no caso - para que seja "som", e não apenas vibrações propagadas no ar, então não haverá som algum. Acho que a questão que realmente importa, neste caso, é a seguinte: Se tudo que adquirimos do meio são representações em nossa mente, como seria se adquiríssemos de outra forma? Como seria realmente "apreender" uma árvore? Aliás, do que esta pergunta está falando? Das moléculas materiais da árvore? De sua essência? Pensa sobre isso.. Se forem as moléculas materiais, a resposta seria o quê? Para apreender precisaríamos deglutir a árvore? Isso não faria sentido algum. Precisaríamos absorver as moléculas da árvore em nosso cérebro como um buraco negro? Isso também não faz sentido... De qualquer forma que eu pense na questão, parece ser a natureza da consciência e da apreensão do mundo a nossa volta, algo simbólico, uma linguagem, manifesta e codificada na forma de impulsos nervosos e sinapses. Mas isso não leva a uma consciência de natureza material e individual? Pois uma consciência universal e imaterial teria de ser, segundo a pergunta supõe, nada menos que um buraco negro.
Outra observação relevante deve ser feita em relação ao que parece ser uma negação à evolução na afirmação de que nenhum ser humano - e logo, presumivelmente nenhuma forma de vida - conheceu a parte inconsciente desta coisa que este texto chama de "entidade universal"... Claro, isso tomando ser humano enquanto humanidade como um todo, criatura biológica resultado da evolução. A evolução pressupõe um início onde não havia vida e de onde a vida surgiu, por meio de alguma reação química... Abiogênese. Se, enquanto humanidade, ou mais abrangente, enquanto entidades dotadas de vida - o que inclui tudo, árvores, bactérias, humanos, etc - evoluímos de matéria sem vida, então conhecemos "a parte inconsciente" desta "entidade universal"... Seguindo com a tradução...

Enquanto nos sentirmos, nós existimos enquanto indivíduos, e sofremos pois esta percepção é baseada em ilusões neurológicas temporárias. Esta ilusão de um "Eu" individual é tão vulnerável que até mesmo o sono a destrói. Toda vez que entramos em sono profundo nossa consciência é temporariamente absente e nossa identidade individual desaparece com ela. Livre-se do sentimento do "Eu existo" e você se livrará daquilo que cria tensão, sofrimento e sentimentos de perigo. Quando você foca a sua consciência naquilo que é limitado, você se torna pequeno e vulnerável. Quando você abre sua consciência para experienciar a totalidade do universo, você se torna vasto, sem limites, sem angústias mentais. Daí a arte da meditação ser a arte da astronomia interna.

Obs.: A vida é feita de coisas pequenas e limitadas: acordar, escovar os dentes, estudar, namorar, trabalhar. Os relacionamentos são finitos, amizades se conquistam e se perdem, amores vêm e vão, pessoas nascem, vivem e morrem. Ficam as lembranças, até que nem mais as pessoas lembrem-se de você. E sendo uma pessoa comum - 99,9% das pessoas que passaram pela terra - você provavelmente será esquecido em uma questão de anos, décadas ou não mais que um ou dois séculos depois da sua morte. Talvez algum registro sobreviva em algum lugar, mas mesmo as pinturas feitas nas cavernas, um dia irão sofrer erosão, ou irão desaparecer por causa de um terremoto ou qualquer outra causa natural. Ainda assim, é bom acordar todos os dias, é bom estudar, namorar, ter amigos. É bom e importante manter a consciência nestas coisas, pois é por meio delas que estamos realmente vivos. Vida é movimento e interação. Por outro lado, é interessante ter a noção de nossa própria finitude e da continuidade do universo, da natureza. A vida segue, pelo menos enquanto o sol a sustentar. O dia que a vida no planeta Terra se extinguir, o universo ainda vai existir, com seus fenômenos cósmicos, assim como as leis físicas que o regem. Devemos dar valor a nossa vida e a toda vida, com certeza, e não devemos subestimar este valor. Mas precisamos ter em mente que somos apenas um piscar de olhos em relação ao plano maior. Você tem vivido? Tem aproveitado seus dias? Tem experimentado com a vida, utilizando a vida como um grande laboratório onde novas possibilidades são testadas dia a dia? Então você está vivendo. Não se preocupe com o que virá depois, pois a verdade é que ninguém poderá lhe dar nenhuma garantia real de um depois. Viva de forma que, se você descobrir que irá morrer amanhã, pelo menos seja capaz de olhar para trás e dizer: "É, valeu a pena, foi bom, foi divertido, foi interessante!" Vim, vivi e morri. O que levei foram as lições, os sorrisos, as alegrias, os abraços, os apertos de mão, os beijos. E as tristezas? Estas foram pedras com as quais calcei meu caminho, não sem tropeços, não sem lágrimas, mas que pelo menos trabalhei para que fossem úteis e me levassem a algum lugar.
Quanto a meditação? Pessoalmente prefiro leituras, contemplação, dialética, etc... Mas cada um precisa achar as ferramentas mais adequadas para as suas necessidades.

A experiência máxima da TES é tão vasta que não há nada com que se possa comparar. Sem comparação possível, a experiência de "tudo" é sentida como a experiência do "nada". Como pode o infinito ter um tamanho ou uma forma quando, por definição, não possui limites? A TES é tão repleta de espaço que se parece com o completo esquecimento, a total obliteração, por isso muitos professores iluminados a chamaram de o Vazio. Este sentimento de extinção total de todas as coisas é cósmicamente erótico e, numa estranha contradição de termos, é rico e positivamente carregado de experiência. Cientificamente falando, até esta última experiência é, também, uma ilusão subjetiva, pois matéria e energia e espaço e tempo existem, mesmo que seres humanos iluminados não os percebam em sua forma física bruta.

Se alguém estudar a fundo as religiões orientais, os conceitos hinduístas e budistas de libertação pessoal máxima, o nirvana ou moksha, verá que é impossível apreender a idéia de forma literal. Pergunte-se as duas questões fundamentais: Quem irá ser libertado? e Do que ele irá ser libertado onde? Na verdade o quem e o o quê são a mesma coisa. Pergunte-se qual ser estava por trás dos olhos do Buda? A resposta é tempo-energia-espaço, a TES. Então pergunte-se qual ser estava por trás dos olhos de Adolf Hitler? A resposta ainda é tempo-energia-espaço, a TES. Indivíduos existe e possuem realidade, mas eles são apenas produtos temporários da TES, que é nossa identidade imortal fundamental.

Obs.: Hum... Podia ser também carbono e água, ou átomos... Energia e matéria existem, ok, o tempo parece mais ser uma convenção - principalmente - humana. Enquanto energia e matéria se pressupõe finitos, o tempo é infinito. O tempo é impalpável, mas seu passar causa seus efeitos... Será que causa? A matéria se transforma, alguns dizem que se degrada ou mesmo decai, com o "passar do tempo". Porém manipulando variáveis ambientais, podemos apressar ou diminuir a velocidade dessa transformação. Não passa da energia ou da matéria agindo sobre a matéria ou da matéria e energia interagindo. Onde entra o tempo? Apenas como uma convenção de medida. O tempo se torna mais palpável na teoria da relatividade de Einstein, que pressupõe algumas coisas bem estranhas, como dois tempos diferentes em uma mesma realidade para observadores diferentes. Ainda assim, depende de forças que estão relacionadas à matéria. Talvez o tempo seja um resultado, um produto, da observação. De qualquer forma, qualquer que seja o ser - ou o não ser - por trás dos olhos de Buda ou por trás dos olhos de Hitler, embora constituído da mesma matéria e embora temporal, não é o mesmo ser. Precisamos concordar que são configurações completamente diferentes, ainda que sejam dos mesmos blocos.

A TES está sempre criando novas vidas e novas personalidades a partir de si. O indivíduo está sempre em perigo de ser destruído, mas a presença cósmica que nos anima é eterna. A não ser que toda a TES seja destruída, a liberação dos ciclos de vida e de morte é impossível. A TES cria um ser humano e as experiências individuais de prazer e sofrimento deste ser, mas é a TES que está tendo estas experiências no enredo de um sonho que a própria TES cria. A TES está dentro de cada célula do nosso corpo e é nossa verdadeira identidade pessoal, não nossa personalidade mortal e temporária que carrega uma carteira de identidade no bolso da calça. Desta forma, o objetivo da religião não deveria ser uma libertação impossível dos ciclos inevitáveis da vida, mas sim como fazer o fato da continuidade da vida, que não pode ser parada, mais estático.

Obs.: No original estava escrito assim: "Therefore, the goal of religion should not be an impossible liberation from the inevitable cycles of life, but rather how to make the unstoppable fact of life more ecstatic." - Pessoalmente não compreendi muito bem o ponto... Seria algo como permitir uma maior apreciação da continuidade, da sequência, vivencial?

A palavra "TES" é uma criação temporária, como são todas as palavras santas de escrituras antigas. Estas palavras são nomes utilizados para designar aquilo que está além da linguagem. É um esforço para expressar aquilo que não pode ser expressado por uma montanha de escrituras escolásticas. Nenhum nome pode captar, e nenhuma filosofia pode definir de forma perfeitamente verdadeira, pois você não pode "colar um adesivo de parachoques numa onda das marés"[??]. Você não pode condensar uma supernova em uma biblioteca.

Em tempo, toda a evidência de animais humanos existiram neste planeta será apagada e novas civilizações irão nascer em outros mundos para tomar nosso lugar. Estes novos seres conscientes irão descobrir a unidade da TES, a qual eles chamarão por outro nome em uma linguagem jamais falada por nenhum ser humano. O significado, contudo, será exatamente o mesmo.


Uma não-religião do século 21?
Aqui estão dez preceitos básicos para uma não-religião da TES.

1) A TES basicamente concorda com a hipótese TES, que é uma suave, amavelmente estética e respeitadora da ciência, forma de panteísmo, um caminho minimalista para uma mente aberta e tolerante.

2) Os seguidores da TES acreditam no máximo de meditação com o mínimo de filosofia. Quando se tratar de filosofia, quanto menos, melhor. Quando se trata de meditação, geralmente quanto mais, melhor.

3) A não-religião TES não possui papas, hierarquia, teocracia, instituições ou gurus gordos andando em Rolls-Royces. Para os seguidores da TES, mesmo aqueles que se tornarem iluminados, continuarão sendo seres humanos ordinários em todos os demais aspectos.

4) Seguidores da TES não usam drogas, álcool, mantras, encantamentos ou as - assim chamadas - "meditações de visualização". Um seguidor da TES não deve nublar sua consciência.

5) Seguidores da TES acreditam que devemos ajudar os outros fisicamente, no mundo real, e não apenas falar sobre compaixão. O seguidores da TES compreendem que apenas é possível ajudar os outros quando se tem força e saúde para tanto. Ascetismo não ajuda a ninguém.

6) Uma vida sexual normal e saudável é encorajada. A criação de famílias nos moldes tradicionais, com uma mãe e um pai, é apreciada como sendo essencial para a sobrevivência da humanidade. O seguidores da TES não se deixam ludibriar por idéias socialmente destrutivas e modismos politicamente corretos.

7) O pecado capital de um seguidor da TES está em transformar a meditação em um negócio. Nenhuma prosti**** espiritual é permitida nesta não-religião, pois o ganho motiva a morte do suave e sensível coração da meditação.

8) Um seguidor da TES não rouba, trapaceia, mente ou usa da violência, exceto em defesa própria. Todos os princípios tradicionais óbvios de bom comportamento são respeitados pelos seguidores da TES e nenhuma desculpa pseudo-intelectual será utilizada para encobrir o mau comportamento. Uma mentira não é um "Tantra", é apenas uma mentira. Um ladrão não é um "dispositivo espiritual", é apenas um ladrão. Um seguidor da TES não deve fazer aos outros o que ele não gostaria que os outros fizessem com ele.

9) Um seguidor da TES não julga a vida rotulando-a de sofrimento ou de bênção. Julgamento vem do pensamento e da memória, e ambos são limitados e não podem conter o universo inteiro. E você diz que a vida é sofrimento, então você apenas irá se lembrar dos momentos sofridos. Se você diz que a vida é uma bênção, você irá apenas lembrar dos momentos felizes. O objetivo do seguidor da TES é tornar-se uma testemunha da vastidão da vida, sem as limitações causadas pelas distorções do pensamento, memória e julgamento.

10) A não-religião da TES é descartável. Estes 10 princípios são elaborados para serem lidos uma vez e esquecidos. Palavras não substituem a meditação.

O oração concisa da TES

Todas as estrelas estão dentro de mim, pois eu sou o espaço.
Não há história. Não há biografia.
Eu apenas existo aqui e agora.

Christofer Calder.
calderhouse at yahoo.com
http://home.att.net/~meditation/

O original encontra-se em: The TES Hypothesis

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Bom, achei muito interessante o exercício realizado pelo Christofer Calder, de imaginar uma religião baseada na meditação e que tenta respeitar a ciência moderna; assim como achei muito interessante ficar criticando e questionando o que ele elaborou.
Na minha opinião, que não precisa ser a verdade nem nada, achei as idéias muito confusas, uma mistura de conceitos da filosofia ocidental, religiões orientais e ocidentais, há muitos traços do cristianismo ali, também, idéias psicanalíticas, idéias científicas da biologia e outras áreas, tomadas de uma forma um tanto superficial... Mas acho que valeu a intenção.
Não concordo que "quanto menos filosofia melhor". Pelo contrário, acho que quanto mais filosofia, melhor. Consciência sem filosofia é algo difícil de conceber, é praticamente um automatismo... E automatismo é uma antítese de consciência.
Creio que tem muitos trechos que são dignos de destaque e de uma profunda reflexão, por exemplo: "A TES cria um ser humano e as experiências individuais de prazer e sofrimento deste ser, mas é a TES que está tendo estas experiências no enredo de um sonho que a própria TES cria."
Se chamarmos de TES a natureza e tudo que temos por natureza, descobrir constantes de física, como funciona a biologia, a matemática presente nas coisas, como as proporções comuns na natureza - (a+b)/a = a/b = Φ - ou as fractais, a discussão sobre o que é consciência, o que é "ser", o que é mente... E tendo em mente que isto tudo faz parte de um conjunto tão vasto e complexo que vai da matéria subatômica, à complexidade neurológica dos neurônios e suas sinapses, daquilo que conseguimos criar com o que nos foi dado, como microtransistores, até a imensidão do espaço, as perguntas que as estrelas nos propõe... É tudo parte de um Universo de carbono. "Somos poeira das estrelas." E a poeira das estrelas é capaz de olhar para as estrelas e nomear e estudar estas estrelas.
É uma visão incrível da realidade... (:
Por isso achei válido traduzir e postar aqui.

Ps.: Ah, só para deixar claro! Onde tem "Obs.:" e espaçamento diferencial da margem, são as minhas observações. As opiniões expressas pelo autor do texto original não representam necessariamente as minhas opiniões e vice-versa.

2 comentários:

Sheila C.S. disse...

Nossa! Meus neurônios quase convulsionaram durante a leitura...(: Mas algo foi interessante, pois enquanto realizava a leitura ia ao mesmo tempo questionando algumas coisas, que depois, ao final, você se encarregou de fazer o mesmo e enfim, algumas opiniões bateram. Claro, não conheço o assunto como você já que apenas tive uma prévia através do seu texto. Na verdade fiquei um pouco confusa e algumas idéias ficaram flutuando..., assim como algumas dúvidas e me perdoe, de repente, a ignorância em algumas perguntas. Essa não religião que ele define ou sugere é algo praticável? Baseia-se em alguma experiência? (olha aí o pensamento cartesiano/experimental...) Entendo que o título deixa claro "uma hipótese", porém, no momento em que aponta-se comportamentos a serem aceitos e outros não, torna-se automaticamente praticável, não?
Outra questão: parece-me que o fato dos comportamentos considerados não aceitos, como no caso da mentira e do ladrão, tornam-se muito redutíveis e/ou até mesmo simplistas, deixando de lado todo um contexto psicológico e até mesmo filosófico que está por trás dos comportamentos humanos, eu sei, ele fala "nada de filosofia" e achei interessante quando vc defende a importância do filosofar... Mas enfim, ele defende o vazio e filosofia e vazio, bem... a meu ver realmente não combinam!
Esse vazio de que ele fala fez-me lembrar de um livro chamado "O Self Original" de Thomas Moore, onde ele defende um estado de inconsciência para melhor viver, meio que um paradoxo, não?

Alguns fragmentos:
"O estado inconscienteé sinal de que ainda não aprendemos a viver da alma."

"Gastei muitos anos tentando tornar-me consciente, mas todo esse esforço me levou tão-somente à autoconsciência, que, em resposta gerava culpa, ansiedade e ambição."

"...Nossa cultura aprecia a inteligência e a consciência de si mesmo, mas deveria ser óbvio que tal abordagem somente conduz à competição e à agressão, provocadas pela ansiedade. Viver da mente é equilibrar-se na incerteza de uma corda-bamba. A alma é mais bem-assentada, seu território próprio parece até mesmo estar ainda abaixo do próprio chão. Há até uma palavra interessante para essa alma particular e sua espiritualidade: ctônio. É a camada do solo em que nós plantamos nossas sementes e enterramos nossos mortos. Quem sabe não seria esse um bom terreno para nosso crescimento pessoal, mais do que aquele outo, pleno de intenções e do qual podemos ver tudo o que está acontecendo."

Bem... tem inúmeras outras passagens que demonstram o seu pensamento, talvez até mais esclarecedoras que essas que eu escolhi.
Desculpe se acabei levando para um outro lado ou para outras questões, mas na verdade a leitura de seu texto originou para mim essas relações.
Ultimamente tenho feito algumas aulas de hatha yoga e tenho gostado, apesar de estar indo aos poucos... e tudo visa a um tomar consciência de si. Também acabei de ler um livro sobre uma pesquisa que trabalhou com a consciência corporal de mulheres... e isso tudo tem mexido bastante comigo, porque ao mesmo tempo vou percebendo o quanto vivemos sem termos consciência da maior parte do que rege nossa vida, inclusive nós mesmos enquanto seres físicos/ mentais... Muitas vezes eu me preocupo com isso! hehehe
Daí quando outras teorias praticamente opostas aparecem acontece aquele choque. No início eu achei o autor do livro que comento aqui um louco varrido, mas às vezes eu penso que ele pode ter um pouco de razão, relaciono a inconsciência com o fato de perder o controle, às vezes é tão necessário, embora resistimos a que isso aconteça.

Então, encerro por aqui, e sinto-me feliz por poder estar de volta a comentar os seus textos que tanto me estimulam! Abraço!

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Oi Sheila!!
Sempre adoro quando vc escreve no meu blog!! :D
Bom, vamos aos questionamentos...
1. "Essa não religião que ele define ou sugere é algo praticável?"
Sem dúvida que é, em se tratando de religião qualquer coisa é praticável, incluindo casar sem ter feito sexo antes, viver o matrimônio sem utilizar nenhum método contraconceptivo, vetar transfusões de sangue e doações de órgãos, obrigar mulheres a viver cobertas dos pés à cabeça e até cultuar o Monstro de Espaguete ou o Grande Juju da Montanha... Ao criar uma antítese religiosa ele acaba espelhando a "thesis dogmatica".
2. "Baseia-se em alguma experiência?"
O autor do texto original cresceu em um ambiente religioso, o texto e as idéias nele expostas devem ser resultado dos primeiros contatos com textos que questionam a religiosidade de forma sistemática sob a ótica científica. Daí o pq dele usar termos como "hipótese", etc. Pelo menos é isso que eu imagino. No mais, só posso inferir, pois nunca conversei com ele para saber.
3. "No momento em que aponta-se comportamentos a serem aceitos e outros não, torna-se automaticamente praticável, não?"
Aqui acho que você acertou direitinho a direção! Quando falamos em ciência, não precisamos apontar comportamentos a serem aceitos ou não, a gravidade existe para todos nós, sempre existiu e vai seguir existindo, a Terra é - quase - redonda e nós não vamos cair pelas beiradas. Não importa nem um pouco se um grupo de pessoas quiser ou não acreditar nestas afirmações. Pela ciência, podem pular de um prédio para provar sua fé ou procurar incansavelmente "o canto da Terra" ou "onde o vento faz a curva", realmente não importa. Não foi o ser humano que criou a natureza e a natureza não foi pensada de forma a agradar o ser humano ou a ter consideração pelo mesmo - vírus, terremotos, tornados, etc que o digam... No momento em que ele determina o que é um comportamento aceitável ou não, ele já está sendo anticientífico. Na verdade, no momento em que ele afirma que "quanto menos filosofia, melhor", ele já está sendo anticientífico. Não existe ciência sem filosofia. O ser humano primeiro precisou aprender a pensar e a questionar, precisou instrumentalizar-se metodologicamente, para então começar a fazer as perguntas certas...
Contudo, como você apontou, é praticável....
A "experiência" humana é um vasto espectro, no qual existem alguns comportamentos tidos como virtudes, outros como vícios, mas onde todos são, inegavelmente, parte da mesma experiência pela qual todos nós passamos.
Concordo completamente quando falas sobre as colocações sobre mentira e roubo. Note que, uma vez que o autor condena a mentira de forma categórica, ele se coloca como dono da verdade. A verdade última é uma quimera, podemos afirmar, atualmente, que a capacidade humana de compreensão dos fenômenos naturais é limitada. Talvez consigamos expandí-la no futuro por meio de alguns artifícios, mas acho que não nos será dado o conhecer final. É ruim isso? Acho que não... Vamos saborear a jornada, aproveitar a vista que esta vereda humana nos permite. Nosso chegar não será definitivo, nem por isso será menos fascinante.
O vazio do qual o autor fala deve estar relacionado ao vazio tratado nas filosofias orientas - vê bem: filosofias orientais - no qual a prática da meditação busca o "esvaziamento da mente" e coisas do tipo. Convenhamos, esta é uma impossibilidade biológica. Se fizessemos cessar a atividade neural, morreriamos. Faz algum tempo, depois de dar uma estudada melhor nas colocações do "Being No One" do Metzinger, e depois de ler mais um pouco sobre essas coisas de filosofias orientais (o Budismo é derivado do Jainismo, a coisa vai beeem mais longe do que inicialmente imaginamos...)... Bom, tem a questão do "esquecimento final". O tornar-se nada. Seria o momento, usualmente bastante tempo depois que morremos, quando ninguém mais lembrasse da nossa existência. Nada a nosso respeito. Seria um ciclo completo, quando finalmente deixamos - pelo menos enquanto idéia e conceito - a existência humana. O que há de bom nisso? Não faço idéia, pelo menos agora. Mas não é um vazio tão superficial e improvável quanto este que se prega nas interpretações atuais de meditação transcendetal e etc.
Quanto aos fragmentos...
"...Nossa cultura aprecia a inteligência e a consciência de si mesmo, mas deveria ser óbvio que tal abordagem somente conduz à competição e à agressão, provocadas pela ansiedade.[...] A alma é mais bem-assentada, seu território próprio parece até mesmo estar ainda abaixo do próprio chão." E segue... Humm... A inteligência é um dom e tanto. Somos, além de qualquer contestação, a espécie mais inteligente do planeta. Somos a forma de vida mais inteligente num raio de milhares de anos luz. Isso nos dá uma margem de vantagem excepcional em relação às demais espécies. Só para citar o óbvio: linguagem - uma das coisas mais fascinantes na experiência humana. Outros animais possuem algum tipo rudimentar de linguagem, mas nada que se compare ao que fazemos. Consciência de si mesmo é o começo e o final de toda esta experiência - pois não nos é dada apenas a consciência de nós mesmos, mas temos uma capacidade considerável de explorar as possibilidades que tal consciência nos trás.
As intenções são um solo (socialmente) infértil, pois são (ao meu ver) ilusões que atualmente (e a muito tempo) sustentam a coesão grupal de mamíferos um tanto primitivos... (Bah... Essa ficou complicada né?... E controversa...)...
Intencionar o que quer que seja - ou pensar intencionar - é positivo no sentido de nos dar um norte, nos servir de bússola, para buscar vôos maiores, tentar ser melhores, evoluir dentro dessa experiência, dentro do nosso tempo vital. Ao mesmo tempo, o conceito de inteções gera agressividade para com nossos semelhantes e - suspresa... - somos tão primitivos que parecemos precisar dessa agressividade para sermos coesos enquanto grupos (basta pensar no futebol)... d:
Se eu fosse postular algo - já postulando - diria que o próximo passo da evolução humana seria libertar-se destes conceitos de intencionalidade, livre-arbítrio e mesmo de "jus naturale", conceitos completamente irracionais e, no caso da "jus naturale", desmascarados como falaciosos a mais de 2000 anos. :\
O pensamento filosófico humano, realizado por algumas das mais brilhantes mentes que já assumiram esta forma, não anda lado a lado com o pensamento social humano, o pensamento da maioria... As diferenças são gritantes. Basta ligar a tevê para ser inundado por falácias e inverdades lógicas pelos programas populares. A verdade da maioria não respeita nenhuma formalidade racional. E ainda assim, tal imperfeição tem a função de manter o grupo coeso... Grupo primitivo este...

Ah.. Por favor, LEVE PARA O OUTRO LADO AS QUESTÕES sempre que sentires vontade, é ótimo explorar as idéias desta maneira. :D

Não penso que a inconsciência seja perder o controle, pois perder o controle é uma experiência rica em comportamentos e vivências... Que digam - e já demonstram - nossos sujeitos de trabalho, os sofredores psíquicos. (:

Veja este conceito simples: liberdade, no behaviorismo *radical*, é ter consciência daquilo que nos condiciona - lembrando que a complexidade é tal (e isso Skinner previu antes da física descrever de forma clara tal complexidade) que jamais seremos totalmente livres. Mas, ideologias boas servem como norte, como falei antes... Não me importo de querer o impossível, desde que o caminho trilhado nesta busca me torne uma pessoa melhor e torne a minha experiência interessante. (:

Adoro estes diálogos contigo... :D
Abração!!!