terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um sonho dentro de um sonho - Edgar Allan Poe

Um Sonho dentro de um Sonho

Tome este beijo sobre tua fronte!
E, desvencilhando-me de ti agora,
Permita-me confessar -
Não erras, ao supor
Que meus dias têm sido um sonho;
Ainda se a esperança esvaiu-se
Numa noite, ou num dia,
Numa visão, ou em nenhuma,
Tudo aquilo que vemos ou nos parece
Nada mais é do que um sonho dentro de um sonho.

Permaneço em meio ao bramido
Da costa atormentada pelas ondas,
E seguro em minha mão
Grãos dourados de areia-
Quão poucos! e contudo como arrepiam
Por entre meus dedos às profundezas,
Enquanto choro-enquanto choro!
Oh Deus! não posso eu segurá-los
De punho mais firme?
Oh Deus! não posso salvar
Um único da onda impiedosa?
Tudo aquilo que vemos ou nos parece
Nada mais é do que um sonho dentro de um sonho.

Tradução com base na tradução do blog ©als.



A Dream Within a Dream

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow—
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand—
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep—while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?


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Observações sobre a tradução:
brow: significa fronte, parte da face acima dos olhos.
"You are not wrong, who deem / That my days have been a dream;": traduz-se literalmente: "Você não está errada, quando supõe / Que meus dias tem sido um sonho"
"I stand amid the roar / Of a surf-tormented shore, / And I hold within my hand / Grains of the golden sand— / How few! yet how they creep" : literalmente: "Permaneço no bramido / de uma costa atormentada pelas ondas, / E seguro em minha mão / Grãos dourados de areia-- / Quão poucos! [e] ainda como eles arrepiam"
weep: derramar lágrimas por tristeza, raiva ou dor.
"O God! can I not grasp / Them with a tighter clasp? / O God! can I not save / One from the pitiless wave?": literalmente: "Oh Deus! não posso alçar / Eles [os grãos de areia (representam a realidade)] de punho mais firme? / Oh Deus! não posso eu salvar / Um [que seja] da impiedosa onda?"
pitiless: pity = comiseração, compaixão / less = ausência.

Sobre o poema:
Poema escrito por Edgar Allan Poe, publicado em 1849, que questiona o modo como alguém pode distinguir a realidade da fantasia perguntando: "Será tudo o que vemos ou tudo o que aparenta apenas um sonho dentro de um sonho?"
1848 foi o ano da Corrida do Ouro, na Califórnia, onde muitas pessoas tiveram suas vidas arruinadas na ilusão de enriquecer rapidamente.

11 comentários:

Rosali Alves - Desenhista disse...

Lindo.. eu gsoto do edgar allan poe, tenho os contos mas nenhuma poesia! estou pensando muito nisso aualmente.

Edvaldo Reis disse...

Lindíssima esta poesia.
Parabéns pelo seu blog.
Se puder, visite o meu.
Abraços.

Edvaldo dos Reis

http://edvaldodosreis.blogspot.com/

Belph disse...

Olá, vim pedir-lhe permissão para utilizar a tradução desse belíssimo poema no meu blog, claro que citarei a fonte e darei os créditos necessários ^^

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Pode utilizar. Obrigado! :D

SORAYA TAHAN disse...

Encanto-me com o espírito inspirado de Poe!
Adquiri um livro pequeno para colecionadores com os contos e poemas
de Edgar Allan Poe, com bordas douradas, lindo demais.
Está em promoção na livraria Saraiva do Shopping Higienópolis (43,84), quase o preço de um caderno.
Usarei seus textos para aulas avançadas de inglês, criei um método revolucionário e inédito em 4 meses, com apenas 2 aulas por semana de 1 hora cada.
A primeira aluna que se formou já foi à Inglaterra.
sorayatahan23@gmail.com

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Que honra! Muito obrigado! Espero que sejam úteis. Grande abraço!

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Que honra! Muito obrigado! Espero que sejam úteis. Grande abraço!

Bruno Cesar disse...

Parabéns pela tradução.. E pelo blog..
Edgar é difícil de ser compreendido e você mandou bem..
Uma questão só surgiu..
A tradução de Is It therefore the less gone? Não consegui focalizar na sua tradução..
E eu mesmo não consegui definir uma tradução eficaz..
Poderia me ajudar?

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Obrigado pelo comentário! Realmente esqueci de parte da tradução. Precisei reler o poema com calma para chegar a alguma conclusão sobre a tradução mais adequada para este trecho que faltava. Noto que o poema faz referência à efemeridade da vida, das relações, partindo de um beijo que tomo como sendo de despedida; descreve os dias como sonhos, o que é uma referência à percepção subjetiva da passagem do tempo sob a determinada circunstância que trata o poema; fala sobre esperança (de reencontro) sobre a qual não se tem controle (uma visão ou um sonho - o beijo é sobre um cadáver); e daí a questão, sobre a qual cabe perguntar qual é o ponto de referência? Is this therefore the less gone? É isto - o quê? A esperança? Não creio... Mas sim aquilo que possibilita a esperança: a visão, o sonho, o delírio ou alucinação. All that we see or seem is but a dream within a dream. Assim, creio que a tradução mais apropriada para Is it therefore the less gone? seria, penso eu, É isto, então, o que nos resta (ou permanece, ou o que me deixas)? - a visão que ele tem ao erguer-se do beijo, visão que alimenta a esperança do reencontro em algum sonho ou alucinação.

Bruno Cesar disse...

Simplesmente fantástica a explicação.. Foi basicamente o que entendi também.. Depois de ler mais a fundo.. Que seria sobre vida e morte.. Alguém que estava partindo e ele queria fugir dessa realidade.. E se trancava no sonho dentro do sonho.. Algo assim..
Agradeço pela ajuda.. A tradução da frase também ficou ótima.. Obrigado pela atenção

Unknown disse...

Houve um tempo em que algumas bandas de rock e pop ainda eram influenciadas pela literatura. Certa vez, uma banda pegou esse brilhante poema e o transformou em música. E o resultado foi à altura do que Allan Poe merecia. Pelo menos, em termos de música pop. Quem conhece, sabe. Isso não acontece mais...