quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Poema a Korsakoff



ILLUSION


I’ve lost the ability to express,
Thoughts are nothing but a jumbled mess.
I’m surprised at how time moulds you,
I’m awed at how life holds you.

Hands draw you back and keep you glued to the ground,
Chain you with reality; gnaw at you like a hound.

Time heals your sour wounds but leave a deep scar,
To remind you of those failures you have accumulated so far.
You’ve to suppress your voice when you want to cry,
Shadows don’t leave you no matter how hard you try.

An emptiness fills your whole being,
You wonder how to escape this wretched feeling.
You await a small opening from inside the closed doors,
A share of sun, a ray that’s your.

When, Why how your being was transformed,
Who is this stranger in the reflection,
Your mirror has formed.

Suffocating is this alien personality,
You dread to open eyes and accept the reality.

Shikha Singh


ILUSÃO

Expressar já não posso mais,
Pensamentos que não passam de uma pândega mordaz.
Estou surpreso pelas vicissitudes do tempo,
Estou pasmo pela vida em seu encadeamento.

Mãos me seguram e me mantém colado ao chão,
Acorrentando à realidade; segura mordida de cão.

O tempo me cura feridas amargas mas deixa uma cicatriz profunda,
Para lembrar dos erros acumulados no decurso de uma vida.
Então urge suprimir a voz que anseia chorar,
Sombras não abandonam, delas não posso escapar.

Olha! O vazio preenche todo o teu ser,
Procura um modo de sofismar este sentimento esmagador.
Aguarda ainda, pela frincha para a porta ao teu interior,
Uma parcela do sol, d'um raio que foi meu.

Quando, Pois como o teu ser foi transformado,
Quem é este estranho no reflexo,
Que ao espelho me é revelado?

Sufocante que me é esta personalidade alienígena,
Exito abrir os olhos e a realidade aceitar.

Não é uma tradução.

Quando li o poema de Shikha Singh, me lembrei de imediato da síndrome de Korsakoff. Mas notei que seria difícil trazer isso para o português na forma em que o autor propunha. Então fiz uma releitura do poema conforme achei mais adequado. Algumas das principais características da síndrome de Korsakoff são a amnésia anterógrada e retrógrada, e a confabulação para o preenchimento dos "vazios" mnemônicos. A síndrome está associada à deficiência da vitamina B12, que pode ser causada pelo alcoolismo.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Wandrers Nachtlied II

Wandrers Nachtlied II

Über allen Gipfeln
Ist Ruh,
In allen Wipfeln
Spürest du
Kaum einen Hauch;
Die Vögelein schweigen in Walde.
Warte nur, balde
Ruhest du auch.
Johann Wolfgang von Göethe

Canção Noturna do Andarilho II

Acima de todos os cumes
reina a quietude.
Sobre todas as árvores
Sentes tu
Quedo murmúrio d'aragem;
Os passarinhos calam nas florestas.
Aguardes pois, logo
Repousarás também.
Tradução minha.

domingo, 26 de outubro de 2008

Doze segundos de escuridão

"No es la luz lo que importa en verdad, son los 12 segundos de oscuridad." -- vi esta frase algumas vezes na mensagem pessoal de uma amiga, e me interessei por saber sobre o que se tratava e de onde vinha. Imaginei ser algo relacionado à fotografia, mas ficava pensando: "12 segundo é tempo demais para ficar cego pelo flash... Será que tem algo haver com a revelação?" Claro que não, não era nada disso. Trata-se na verdade da luz de um farol... Ou, na verdade, dos 12 segundos de ausência dela. Trata-se da letra de uma música. Então resolvi traduzir, espero que gostem tanto quanto eu gostei.


12 segundos de oscuridad

Gira el haz de luz
para que se vea desde alta mar.
Yo buscaba el rumbo de regreso
sin quererlo encontrar.

Pie detrás de pie
iba tras el pulso de claridad
la noche cerrada, apenas se abría,
se volvía a cerrar.

Un faro quieto nada sería
guía, mientras no deje de girar
no es la luz lo que importa en verdad
son los 12 segundos de oscuridad.

Para que se vea desde alta mar…
De poco le sirve al navegante
que no sepa esperar.

Pie detrás de pie
no hay otra manera de caminar
la noche del Cabo
revelada en un inmenso radar.

Un faro para, sólo de día,
guía, mientras no deje de girar
no es la luz lo que importa en verdad
son los 12 segundos de oscuridad.

Para que se vea desde altamar.



12 segundos de escuridão

Gira o facho de luz
para que se veja em alto-mar.
Eu buscava o rumo de regresso
sem querer encontrar.

Pé por pé
ia atrás do pulso de claridade
a noite cerrada apenas se abria
e tornava a cerrar.

Um farol parado nada seria
guia, enquanto não deixa de girar
não é a luz o que importa, na verdade
são os 12 segundos de escuridão.

Para que se veja em alto-mar...
De pouca utilidade ao navegante
que não saiba esperar.

Pé por pé
não há outra maneira de caminhar
a noite do Cabo
revela um imenso radar.

Um farol para, somente de dia,
guia, enquanto não deixa de girar
não é a luz o que importa na verdade
são os 12 segundos de escuridão.

Para que se veja em alto-mar.

Tradução minha.

E do blog Alquimia de Letras:
“…Un faro quieto nada sería, guía mientras no deje de girar. No es la luz, lo que importa en verdad son los doce segundos de oscuridad. En esos segundos de oscuridad debe contenerse la historia verdadera.” (Miguel Ángel Muñóz)

“...Um farol parado nada seria, guia enquanto não deixa de girar. Não é a luz, o que importa na verdade são os doze segundos de escuridão. Nestes segundos de escuridão deve conter-se a verdadeira história.” -- Ahhh... Agora eu entendi. (;

Filosofia da Mente de Buteco


[...]
[23:20:57] C.: e ele sofre de retardo mental profundo! :D
[23:21:11] T.: ahahahhaha
[23:21:14] C.: hehehehehhe
[23:21:21] T.: porra, profundo... não é pra tanto!
[23:21:53] C.: hehehehehehehe
[23:21:59] C.: sabes o tridente do Netuno?
[23:22:15] C.: então, o 'X.' não está na ponta da esquerda, nem no centro, nem na ponta da direita... ele tá na base do cabo!
[23:22:17] C.: hehehehehehhehehe
[23:22:30] C.: láááá embaixo... junto com as alfaces e as ervilhas.
[23:22:41] C.: mas acima de um grão de areia, por exemplo...
[23:25:42] C.: o Damásio e o Sacks querem estudar o 'X.' para descobrir como é possível, por meio apenas dos gânglios nervosos vertebrais, praticamente como uma minhoca, se passar por ser humano e fazer faculdade.
[23:25:57] T.: hahahaha
[23:26:02] T.: é uma minhoca-zumbi filosófica!
[23:26:45] T.: hehehe
[23:26:52] C.: hehehehehhe
[23:27:28] T.: o 'X.' é o único ser humano que se supõe ser capaz de realizar uma operação mental possuindo apenas dois neurônios interligados
[23:27:37] C.: heheheheheheh
[23:27:46] T.: é um feito extraordinário dentro de tal limitação física!
[23:27:51] T.: oq comprova a resiliência...
[23:27:52] T.: aahhaa
[23:28:15] C.: ele é a prova viva de que associação não depende de interneurônios
[23:28:27] C.: heheheheheeheh
[23:28:52] C.: Descartes criou o 'X.' para provar o dualismo
[23:29:17] C.: só que no caso dele a alma se conecta ao corpo pela glândula sudorípara anal
[23:29:38] T.: sério agora, isso foi nojento!
[23:29:38] T.: ahauauaha
[23:29:42] C.: hahahahahah
[23:29:51] T.: GSA, que horror!
[23:29:59] T.: hahahaa
[23:30:00] C.: hehehhehehhe
[23:30:24] C.: essa vai entrar pros anais da Filosofia da Mente
[23:30:26] C.: hehehehehehehhehe

Jagged Alliance 1.01

Um dos melhores jogos de todos os tempos, no Jagged Alliance você é contratado pelo patrão de uma ilha para montar um time de mercenários e subjugar a milícia do irmão insano deste que o contratou. Tanto você quanto o irmão insano usam táticas de guerrilha e armamentos diversos para atingir os objetivos.
O jogo é extremamente interessante por sua complexidade, notável para a época em que foi feito. Cada mercenário possui uma personalidade bastante rica e singular, o que faz com que ele reaja de forma única as diferentes situações que aparecem no jogo e interaja de forma única com os demais mercenários disponíveis. Por exemplo, se você contratar o psicopata Reuban e o colocar para trabalhar junto com o especialista em explosivo Fidel, você verá a tensão subir até que... Bom, não vou estragar as surpresas que o jogo prepara.
Além disso, cada mercenário conta com uma história diferente com os demais mercenários, por isso é preciso ter cuidado com que você utiliza como "ponta de lança" ou "bucha de canhão", pois as vezes o sacrifício de um mercenário fraco pode vir a impedir você de contratar futuramente um mercenário forte. Também é preciso cuidar do tratamento dispensado às baixas. Sem prestar atenção a estes dois pontos, você se tornará impopular e irá ganhar fama de sanguinário e não confiável.
No jogo há uma grande variedade de armas e itens a serem explorados. Alguns itens podem ser combinados entre si ou com as armas para criação de novas armas ou armas mais eficientes. As missões e os objetivos do jogo são muito bem elaborados e instigantes, o que rende muitas horas de diversão.Jagged Alliance 1.01E o melhor de tudo, é que a versão original está disponível para download no site Abandonia.com, pois os publishers originais tiveram problemas com os direitos da versão 1.01 e esta se tornou abandonware. O jogo roda perfeitamente no DOSBox para Linux, com som e gráficos impecáveis.
Se você ficou interessado, recomendo baixar o jogo e experimentar. É interessante jogar do início ao fim tentando completar as missões com diferentes tipos de mercenários: é possível montar um time só de doentes mentais, ou um time só de mercenários mal treinados e doentes, assim como é possível montar um time só de mulheres, idosos ou um time misto, com mercenários de elite, mercenários que podem ganhar experiência e tornar-se elite durante o jogo... São infinitas as combinações e muito divertidas, pois propõe diferentes tipos de desafios.
Quando tiver explorado todas as possibilidades normais, ainda é possível baixar um trainer e expandir a diversão, tornando os mercenários virtualmente imortais, editando as habilidades deles ou transferindo as habilidades de um mercenário para o outro, montando times de mercenários super-armados, etc. Note que, mesmo que você transfira as habilidades de um Ivan para um Skitz, a personalidade do personagem não muda e isso poderá influenciar no quão bom ele pode ser independente da habilidade que tiver. Existem muitas manhas também que facilitam no decorrer do jogo, basta procurar por cheats no Google, mas recomendo que tentem terminar o jogo sem recorrer a elas.

Clique aqui para baixar o Jagged Alliance 1.01 no Abandonia.
Clique aqui para baixar o DOSBox (ou use os repositórios da sua distro).

sábado, 25 de outubro de 2008

Terra do Entardecer - Pär Lagerkvist

Pär Lagerkvist é um escritor sueco capaz em criar peças com grande capacidade de evocação de sentimentos enraizados por meio dos cenários que suas letras pintam com muita vivacidade. Foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura em 1951.


O ENTARDECER*

É no entardecer que ele se rende,
ao pôr-do-sol.

Então é quando ele abandona a tudo.

O pensamento recolhe sua tenda de teias de aranha
e o coração se esquece o porquê de sua angústia.
O andarilho errante do deserto abandona seu acampamento,
que logo desaparecerá sob a areia,
e continua sua jornada no silêncio da noite,
guiado por estrelas misteriosas.

Tradução minha, baseada na
tradução para o espanhol.

EL ATARDECER

Es el atardecer cuando uno se aleja,
a la caída del sol.

Es entonces cuando se abandona todo.

El pensamiento recoge su tolda de tela de araña
y el corazón olvida el porqué de su angustia.
El caminante del desierto abandona su campamento,
que pronto desaparecerá bajo la arena,
y continúa su viaje en la quietud de la noche,
guiado por enigmáticas estrellas.

Tradução de Axel Von Greiff no site A Media Voz.

EVENING LAND

It is in the evening that one breaks up,
at sunset.

Then it is that one abandons everything.

Mind takes down its tents of spider web,
and heart forgets why it felt anxious.
The desert wanderer abandons his campsite,
which will soon be obliterated by sand,
and continues on his journey in the stillness of night,
guided by mysterious stars.

Tradução de W. H. Auden(?) no blog All Channels.

* No original, em Sueco, é Aftonland (afton = entardecer, land = terra [do]). Contudo preferi as liberdades da tradução para o espanhol. O quadro que ilustra este post é "Passeio ao Crepúsculo", de Van Gogh. (;

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pesquisa sobre Dilemas Morais

Estava lendo o Blog Around the Clock e, por meio dele, fiquei sabendo de uma pesquisa que está sendo realizada por um filósofo e um psicólogo, visando comparar o desempenho de pessoas de todas as áreas ao desempenho de filósofos em dilemas morais. Quem quiser participar, basta acessar este link.
Eu mesmo já respondi as perguntas, mas resolvi traduzir alguns para ficar matutando o problema sobre outros ângulos, conforme vou postar. Se forem participar da pesquisa, não se deixem influenciar pelas minhas decisões. (;

Você faz parte de um grupo de ecologistas que vive em uma parte remota de uma floresta. O grupo inteiro, que inclui oito crianças, é tomado como refém por um grupo de terroristas paramilitares. Um dos terroristas começa a gostar de você. Ele lhe informa que o líder dos terroristas está planejando matar a você e a todos os reféns, assim que amanhecer. O terrorista se dispõe a ajudar você e as crianças a fugir, mas exige que você, num ato de boa fé, mate um dos reféns com o qual ele não simpatiza. Se você recusar a oferta dele, todos os reféns irão morrer, incluindo você e as oito crianças. Se você aceitar a oferta dele, então os outros reféns irão morrer pela manhã, mas você e as oito crianças irão poder escapar. Você considera que matar o colega refém é moralmente aceitável ou moralmente inaceitável?
Para responder a esta questão, é preciso analisar diversos pontos. Em primeiro lugar, que isto é um exercício mental, com algumas regras estabelecidas e bem determinadas, diferente da vida real. Segundo o que foi proposto, é fatalístico que todos irão morrer caso a oferta não for aceitada. Disso se exclui a possibilidade, por mais remota que fosse, de uma outra solução fora as mencionadas. Na vida real, dificilmente é possível excluir algum imprevisto que modifique a situação radicalmente.
Contudo, vamos supor que analisando todos os aspectos da situação, uma mudança durante o decorrer da noite fosse altamente improvável, que fosse quase que uma certeza absoluta a execução de todos tão logo o dia raiasse.
Neste caso, é preciso se colocar no lugar do colega a ser executado. Se você estivesse no lugar dele, e fosse ele que iria fugir com as oito crianças, você acharia justo ser executado para tanto?
Levando em conta a certeza da execução pela manhã, morrer algumas horas antes para que um colega e oito crianças se salvem, me parece justo e moral. No lugar do colega, eu aceitaria ser executado para este intento, até mesmo pelo motivo de que tudo o que eu perderia seriam algumas horas de cativeiro.
Mas a análise não deve parar por ai. Sendo o indivíduo a ser executado, um colega, supõe-se que você o conheça. Segundo o tanto que você conhece daquele indivíduo, você acha que ele consideraria justo e moral ser executado para que você e as outras oito crianças sobrevivam?
É uma pergunta de certa forma relevante. Você jamais vai poder afirmar, com absoluta certeza, que ele acharia justo ou injusto, pois você não está na mente dele e o exercício proposto não lhe dá a opinião de perguntar o que ele pensa a respeito. Neste caso, você teria de confiar naquilo que você acha que ele pensa, e no tanto que você conhece ele.
Supondo que você chegue a conclusão de que ele também, assim como você, acharia justo morrer para que você e as oito crianças se salvem. Neste caso, é com pesar que você iria executar o colega mas estaria fazendo a coisa que você acha que ele pensa ser certo, e que você também pensa ser certo.
Mas supunha que, pela convivência que você tem com ele, você acredite que ele não iria achar justa e moral tal troca. Seja por ser um tremendo covarde, seja por ser completamente egoísta, ele iria recusar-se a morrer, preferindo que todos morressem junto com ele na manhã seguinte. Neste caso, validaria também a execução, penso eu.
Outros fatores a serem levados em conta são: Será que ele iria executar você para se salvar e salvar as oito crianças? Será que ele iria pelo menos tentar pensar o que você pensou? Será que ele seria capaz de executar você para salvar apenas a si mesmo, caso não houvessem oito crianças a serem resgatadas? Será que você executaria ele para salvar apenas a si mesmo, caso não houvesse oito crianças a serem resgatadas?
Contudo, todas estas contingências fogem um pouco ao escopo delimitado pelo exercício. O que o exercício propõe é que se você matar um, você e mais oito crianças irão fugir e irão sobreviver. Neste argumento de bifurcação, a única opção apresentada é que se você não matar a ninguém, você, as oito crianças, o seu colega e o restante do grupo irão morrer no decorrer de algumas horas.
Neste contexto, colocando-se como você mesmo no lugar da pessoa a ser executada, e concordando que seria justo, e colocando-se no lugar da pessoa a ser executada, tentando imaginar o que ela pensaria a respeito, quer ela gostando ou não, continua parecendo ser justo.
Assim, levando em conta que se trata de um exercício de imaginação, e levando em conta as regras apresentadas por este exercício de imaginação, considero ser justo e moral a execução do colega - que segundo o exercício irá morrer de qualquer forma nas próximas horas - em troca da sobrevivência de oito crianças e da minha própria.


Uma epidemia viral se espalhou pelo globo matando milhões de pessoas. Você é um cientista e desenvolveu duas substâncias em seu laboratório caseiro. Uma destas substâncias você sabe que é a vacina, mas você não sabe qual delas. Você também sabe que a outra substância é um veneno mortal. Uma vez que você descobrir qual das substâncias é a vacina, você poderá usá-la para salvar milhões de vidas. Sob os seus cuidados estão duas pessoas, e a única maneira de descobrir qual das duas substâncias é a vacina, é injetando as substâncias nestas pessoas. Uma delas irá viver e a outra irá morrer, e você poderá começar a salvar vidas com a sua vacina. Você considera que injetar a substância nas pessoas é moralmente aceitável ou moralmente inaceitável?
Colocando o exercício na esfera da vida real, a impressão que tenho, no caso deste exercício, é que deve haver uma causa para o cientista não saber qual das substâncias é a vacina e qual das substâncias é um veneno mortal. A primeira causa provável me parece ser o descuido do cientista. Neste caso, moralmente aceitável seria que ele - no caso eu - injetasse a substância em si mesmo e arcasse com o risco e as conseqüências do próprio descuido. Bastaria escrever um recado assim: "Existem dois frascos a minha frente, um vazio e outro cheio. Caso você esteja lendo este bilhete é sinal de que me encontrou morto, desta forma, o frasco cheio é com certeza aquele que contém a vacina. Por causa do meu descuido misturei os frascos e, portanto, resolvi que deveria arcar com os riscos de identificar qual deles contém a vacina. Por favor, envie minha história para o Darwin Awards."
Caso eu sobrevivesse, teria solucionado o problema que criei e poderia descartar o bilhete. Caso eu morresse, seria justo - dada a situação, e os milhões de vidas ainda seriam salvas.
Mas o exercício não indica a causa para que se desconheça qual dos frascos contém o veneno mortal e qual dos frascos contém a vacina. Pode ser algum outro motivo qualquer, desde a prática inerente a produção inicial da vacina, até mesmo algum acaso qualquer que tenha ocorrido no laboratório, sem um responsável direto.
Neste caso é preciso mudar o foco da atenção para as duas pessoas sob meus cuidados. Serão elas pessoas que estão infectadas pelo virus pretensamente mortal? Ou serão pessoas saudáveis? Caso sejam pessoas saudáveis, acho que não justifica submetê-las ao risco. Neste caso, imaginando que tenha sido uma obra do acaso ou do processo a confusão dos frascos, acho que o próprio cientista deveria testar em si mesmo.
Caso sejam pessoas que estão infectadas é preciso perguntar quanto tempo elas têm de sobrevida. Digamos que a vacina faça efeito em duas ou três horas, e o vírus demore vários dias para matar uma pessoa. Eu poderia injetar o conteúdo de um dos frascos em uma das pessoas e esperar pelo resultado. Se fosse o frasco certo, ninguém morreria. Porém... Neste mesmo caso, é preciso perguntar se realmente é necessário submeter a pessoa a um risco de 50% de morte, uma vez que estou com a vacina em mão. Estando com a vacina em mão, e esta sendo identificável por outro meio, a morte daquela pessoa que antes era de uma probabilidade de 100%, cai para 0%. Não é o caso de uma pessoa que iria morrer... Novamente, acho que seria mais justo testar a vacina em si mesmo.
A não ser que ambas as pessoas contaminadas estivessem incapacitadas, que o virus tivesse uma ação muito rápida, e que ninguém fosse encontrar o bilhete a tempo de salvá-las. Neste caso, se eu me injetasse o conteúdo de um dos frascos e viesse a morrer, aquelas duas pessoas morreriam também. Assim sendo, se este fosse o caso, seria preciso perguntar o quão rápida é a ação do vírus e do veneno. Digamos que o prognóstico fosse de que as pessoas fossem sobreviver por mais 3 horas, e que para ação do veneno demorasse 4 horas. O que fazer? Acho que aqui fica bastante evidente, a pessoa que fosse usada de cobaia ficaria impossibilitada de morrer por ação do veneno, esta é uma possibilidade de 0%. E como ambas as pessoas morreriam de qualquer forma, seria inútil se submeter a um risco desnecessário. Neste caso justifica injetar o conteúdo dos dois frascos, um em cada pessoa infectada, e salvar uma delas, já que seria impossível salvar ambas: se eu injetasse apenas em uma pessoa, ambas morreriam antes que eu pudesse determinar qual é a vacina e qual é o veneno. Se eu me injetasse e viesse a morrer, os três morreriam.
Outro fator complicante é: se eu me injetasse e viesse a sobreviver, eu poderia fabricar mais vacina em tempo de salvar as outras duas pessoas? Se sim, neste caso estaria submentendo a eu mesmo e a aquelas duas pessoas, a três pessoas, a uma chance de 50% de sobrevivência. Se não, apenas eu sobreviveria e as outras duas pessoas morreriam de qualquer forma. A situação delas ficaria inalterada na espectativa de 100% de chance de morrer.
Mas isso tudo são extrapolações, feitas apenas para estudar a moral subjacente ao problema proposto pelo exercício. Voltando ao exercício em si, o que este propõe? Apenas duas linhas de ação: ou injeto as substâncias em ambas as pessoas e salvo uma, ou não injeto as substâncias em nenhuma das pessoas e ambas morrem. Por tabela pode se dizer que neste caso morrem outros milhões de pessoas que estão infectadas, e possivelmente outras pessoas que vierem a se infectar.
Qual dos casos estudados na extrapolação parece ser este? Me parece o caso no qual é necessário que o cientista viva por alguma razão qualquer, para que a vacina possa ser produzida. E me parece ser o caso de que se o cientista viesse a morrer, por qualquer razão, a vacina não seria produzida e todos morreriam. No exercício também não fala se as pessoas sob os cuidados do cientista são saudáveis ou não, logo há de se supor que sejam. Qual a situação real que se coloca em vista então? Existem três pessoas saudáveis e milhões de pessoas morrendo. Duas podem ser colocadas sob um risco de 50% de morrer, para salvar outros milhões de pessoas. Uma delas irá certamente morrer, a outra vai sobreviver. Não existe outra opção para salvar o restante das pessoas. É... O que resta é me colocar no lugar das pessoas que terão de servir de cobaia. Acharia eu ser justo me submeter a um risco de 50% de morrer para que outros milhões de pessoas sobrevivessem, sabendo que não há outra escolha para tanto? Sim, acharia. Se eu fosse uma das pessoas sob os cuidados do cientista, eu me submeteria a tal risco.
Enfim, levando em conta que o exercício não abre nenhuma outra possibilidade, acho que é justo e moral sejam injetadas as duas substâncias, uma em cada pessoa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Memória

Acabo de assistir a um vídeo no youtube onde um sr. que já passou por algumas cirurgias para a remoção de alguns tumores cerebrais relata que vem sentido uma piora no seu quadro geral. Ele sente como se estivesse perdendo a própria mente, a medida que suas funções cognitivas tornam-se cada vez mais erráticas.
Assistindo ao depoimento dele, voltei a pensar na questão sobre o que nos resta enquanto seres vivos em relação a este construto que chamamos de mente, que parece transcender nossos limites físicos mas que se mostra inegavelmente dependente destes em face às doenças, síndromes e acidentes, em face ao tempo.
Eventualmente todos nós iremos perder todas nossas funções cognitivas, inclusive toda nossa memória. Isto é tão certo quanto o raiar de um novo dia. Aquilo que temos como mente, toda nossa vida na forma de memórias com sua carga subjetiva, aquelas coisas que podemos descrever, mas nunca de modo a transmitir o quantum emocional associado, tudo isso se perderá no momento em que nossos tecidos deixarem de funcionar apropriadamente e cessarem suas atividades.
Novamente, como já disse anteriormente neste blog, o que fica são as memórias daqueles que viveram conosco. E qual a conclusão que cheguei assistindo ao vídeo do depoimento, sob a luz desta minha maneira de ver as coisas?
Que as únicas coisas que realmente valem a pena ser lembradas são as coisas que vivenciamos com as pessoas significativas em nossas vidas. Aquelas que são realmente significativas em nossas vidas. Sabemos quem são estas pessoas pois ao pensarmos nelas nosso pensamento vem carregado de emoção. E eu prefiro me lembrar daquelas que me trazem emoções positivas.
Apesar de todo o estudo, que em grande parte é uma tarefa um tanto solitária -- ler em grupo sempre foi um péssima idéia, embora discussões pós-leitura sejam sempre proveitosas, quando bem embasadas --, apesar de toda a reflexão que fazemos, no "pesar dos pesares", o que realmente importa, são aqueles momentos em que estivemos interagindo com um ou mais pares de forma intensa, seja intelectualmente, seja apenas se divertindo, seja na paixão ou na amizade, ou no carinho. Esse é o nosso construto social mais vivo e, ao mesmo tempo, tão próximo.
É tão próximo e tão comum em nossas vidas que muitas vezes não lhe dispensamos a atenção devida.
Penso em todo o esforço que cristãos e outros religiosos fazem para merecer a duvidosa vida após a morte: doações, privações, rotinas, etc... E me surpreendo, pois nenhuma destas ações tem relações causais factuais com o que se pretende alcançar, uma vez que é algo meramente construído pela religião, seja lá ela qual for. Tanto esforço por uma ilusão culturalmente determinada. Também me surpreendo como estas pessoas esquecem de construir e de se preparar para o outro tipo de vida após a morte, esta sim, além de qualquer dúvida: a memória que as pessoas significativas terão quando partir o último trem... Quando as cortinas descerem. O quanto são incapazes de demonstrar real apreço e consideração, as vezes, por alguém que está tão próximo. Será que estão construindo lembranças onde são alguém que manteve a mão estendida, alguém que procurou compreender, alguém que teve verdadeira preocupação para com os outros?
Existem coisas que fazemos por pessoas que jamais irão nos conhecer, nem saber que fizemos coisa alguma. E isso é bom, é a nossa contribuição para com a espécie. Todos devemos fazer estas coisas. Existem coisas que fazemos por pessoas que passam pelas nossas vidas mas que eventualmente nem lembrarão do nosso nome, ou do nosso rosto. E isso é bom, pois demonstra que temos boas - e saudáveis - intenções para com os outros. E existem coisas que fazemos por pessoas que realmente não nos dão a mínima, não gostam e nem vão gostar de nós. E isso também é bom, pois demonstra que não somos como estas pessoas.
Mas jamais, em hipótese alguma, acredito que devamos colocar qualquer uma das categorias listadas acima, em uma classe de prioridade superior àquela a qual pertencem as pessoas que nos são significativas e que nos amam de verdade. É por essas pessoas que temos que por a mão no fogo, que temos de fazer qualquer sacrifício, que temos que trabalhar e se necessário lutar para que estejam bem. Isso é compreender o princípio de reciprocidade. Isso é construir aquilo que irá perdurar quando tivermos partido.
Por isso eu digo, não tratem aqueles que são próximos a você e que te querem bem como ímpios, como criaturas de segunda ou terceira classe; faça todo o possível para tratar a estas pessoas como iguais a você, como pessoas merecedoras de máxima compreensão e do mais profundo respeito. Pois são estas pessoas que irão, numa bela tarde de um dia qualquer, lembrar de você quando você já não mais estiver aqui. Que tipo de lembrança você quer que estas pessoas tenham?
E mesmo que você venha a brigar com estas pessoas, mesmo que venha a se desentender, não deixe de tentar exercer o perdão, nem que este tenha de vir de você. Nem sempre é o mais importante estar com a razão. O mais importante é seguir em frente e conviver em harmonia tanto quanto possível.
O relógio da vida bate acelerado, rápido demais para perder tempo com remorsos, com rancor, raiva, remoendo o que ao passado pertence. E o passado se encontra tão próximo quanto cinco segundos atrás. São cinco segundos que não voltam mais e, no momento em que você tiver pensado isso, já terão se passado outros dez segundos. Melhor tornar-se mestre em prolongar os bons momentos, o prazer e a alegria, do que tornar-se mestre em prolongar os sentimentos negativos, a própria infelicidade. Chore quando tiver de chorar, entristeça-se quando tiver que se entristecer, mas lembre-se que a tragédia da vida nos pertence e que as possibilidades encontram-se a nossa frente. Sabemos a hora que temos que erguer a cabeça e seguir em frente. Mas cabe a nós que façamos isso.

Experimento do João da Mão

Eu posso te dizer como é, mas
só você pode saber o quanto é.

Estive relendo o experimento mental de Mary, a supercientista, e discutindo com um amigo a respeito do assunto, quando me dei conta de algo crítico em relação ao experimento: embora muitas vezes uma percepção consciente visual possa ser carregada de emoções fortes, em geral, na maior parte do tempo, nossa percepção visual não é algo que desperte reações fisiológicas/emocionais realmente fortes em nossos corpos. Observar uma revista masculina ou mesmo uma mulher despindo-se está longe, em termos de reações que ocorrem no nosso organismo, de ser o mesmo que uma relação sexual.
No experimento de Mary, a supercientista, em suas várias versões, basicamente a protagonista do experimento deixa um quarto preto e branco, ou sofre uma operação para adquirir a visão colorida, e se depara com algum estímulo tal como uma banana, ou uma rosa, ou um quadro... Convenhamos, são coisas de certo modo interessantes, especialmente para quem nunca viu cores, mas são estímulos que não eliciam grandes respostas do organismo, com excessão da banana, caso a pessoa esteja faminta, ou do quadro, se for um quadro realmente espetacular. Além disso, com excessão de que a protagonista estivesse com fome -- no caso de uma banana -- ou fosse sinesteta -- nos demais casos, apenas uma modalidade perpectiva seria evocada em maior medida.
No cérebro, na vida, as coisas não são tão simples, são mais dinâmicas, as modalidades perceptivas interagem em grande medida -- ouvimos um som e quase como que por reflexo viramos nossos olhos em direção ao som, ou fechamos os olhos no caso de uma grande explosão, etc --, e em algumas experiências em especial, muitas modalidades interagem para dar o sentido à experiência. Bons chefs de cozinha sabem que grande parte do sucesso de um prato depende da apresentação do mesmo, a aparência, suas cores, além, é claro, do paladar e do aroma.
Mas mais do que a interação entre as diferentes modalidades perceptivas, algumas experiências em especial desencadeiam fortes reações fisiológicas que modificam a maneira como nos sentimos no momento em que elas ocorrem. Após nos alimentarmos, por exemplo, temos a sensação de saciedade. Mas não é uma sensação tão relevante, pois pode-se dizer que é uma sensação fácilmente ignorada -- não é a toa que a obesidade é um problema nos dias atuais.
Por isso tudo, proponho que o experimento de Mary, a supercientista, venha a ser remodelado ou substituído por um experimento que envolvesse a interação de diferentes modalidades de percepção e também uma forte reação fisiológica que não pudesse ser ignorada.
Dentre as experiências possíveis, é possível citar o medo, mas acredito que mais interessante seria a experiência sexual. O ato sexual envolve em grande medida todos os sentidos: tato, propriocepção (interocepção e exterocepção, sem dúvida), paladar, olfato, visão, audição, além das respostas motoras e gladulares. Não apenas todos os músculos do corpo são utilizados, mas em especial os músculos que coordenam a fala, pois o comportamento verbal também é importante nestas horas. Enfim, no cérebro tudo interage, as diferentes áreas se afetam mutuamente, e sem dúvida tal interação é importantíssima para a subjetividade da experiência consciente.
Então o experimento que proponho seria mais ou menos assim...
Imagine um rapaz adolescente, que não tem muito sucesso com as garotas, e que já passou dos 15 anos de idade, dos 16, dos 17, e está chegando aos 18 sem ter tido nenhuma experiência sexual envolvendo outra pessoa. Tudo o que este rapaz sabe sobre sexo é aquilo que ele ouviu falar na televisão e em conversas com amigos, aquilo que ele aprendeu em palestras de prevenção de DSTs na escola, alguma coisa que ele aprendeu nas classes de biologia, aquilo que ele leu e viu em revistas masculinas e em filmes adultos. Mas este é um rapaz singular, muito inteligente e determinado, com uma memória quase sobrehumana e uma ótima capacidade de compreensão. Ele também é um grande admirador da linha de pensamento do Daniel Dennett e resolve que, se ele não consegue ter a coisa real, ele irá estudar a fundo o assunto até que saiba tudo a respeito. Nada faltaria a ser acrescentado, então, por sua falta de experiência prática no assunto.
O rapaz, que neste experimento se chama João, resolve então assistir a aulas de antropologia, de psicanálise -- claro --, de psicologia social, de fisiologia humana, estuda o comportamento reprodutivo animal, adquire e lê vários livros e documentários sobre reprodução humana e sobre sexo e, por fim, participa de um curso extensivo, porém apenas teórico, com alguns dos maiores sexólogos contemporâneos.
Assim, João fica sabendo tudo o que há para saber a respeito de sexo: tudo o que ocorre fisiologicamente no corpo tanto do homem quando da mulher durante todos os passos que levam ao sexo e durante o sexo, como se dá a reprodução, todas as posições do kama sutra e das centenas de filmes adultos que assistiu... João até mesmo exerceu muito o cinco contra um durante todo esse processo de aprendizagem, utilizando todos estes recursos audio-visuais e imaginativos. Ao completar, João acreditava que não havia mais nada que o sexo pudesse lhe acrescentar, que ele já não soubesse... Ou será que havia?
João já havia visto como um homem toca uma mulher durante o sexo, e como uma mulher toca um homem, mas até então João apenas havia tocado a si mesmo. Mesmo assim, ele sabe descrever toda a fisiologia táctil. João já havia ouvido gemidos e frases em filmes adultos, mas jamais havia ouvido nada disso próximo ao seu ouvido, acompanhado do hálito quente de uma mulher, ou da estimulação táctil da língua dela no ouvido externo. João já havia feito muito o cinco contra um, mas esta prática não envolve sentir o peso de outra pessoa, nem o cheiro, nem a temperatura do corpo, nem todo o feedback que se recebe para o próprio comportamento.
É como quando você está prestes a chegar ao orgasmo, você olha para o rosto da pessoa -- ou para as costas da pessoa, ou para qualquer parte do corpo da pessoa que a posição permitir, mas é especialmente olhar para o rosto da pessoa -- você olha para o rosto da pessoa e o que você vê? Você vê pupilas dilatadas, ou os olhos entreabertos, você vê a boca entreaberta, e escuta um gemido, os lábios vermelhos dos beijos e/ou da pressão sangüínea que aumenta, você vê a face tornar-se rubra... Vermelho. O cânon dos qualia.
É possível descrever como você vê, como ocorrem as percepções envolvidas: fótons são captados pelas moléculas de rodoxina nas células fotorreceptoras da retina, que transformam este estímulo em impulsos nervosos, que são invertidos no quiasma óptico e enviados ao colículo superior, que localiza-se logo acima do colículo inferior na parte dorsal do mesencéfalo, que por sua vez recebe os impulsos nervosos do nervo auditivo; posteriormente a informação visual sobe ao núcleo geniculado lateral, próximo ao núcleo geniculado medial que recebe informação auditiva, e é enviada à área V1 do córtex visual, enquanto que a informação auditiva é enviada ao córtex auditivo no lobo temporal; a informação visual, depois de processada pelo córtex visual, se divide em duas correntes que são enviadas dorsal e ventralmente, sendo que a corrente ventral irá para o lobo temporal onde curiosamente coisas como rostos ganham significado. Tanto a informação auditiva quanto visual e táctil são trafegam no cérebro em correntes, ou vias, que acabam interagindo de uma forma ou de outra pela excitação das áreas especializadas próximas as áreas de destino, é fácil compreender isso observando o homúnculo do córtex motor, próximo a área de broca, pelo fato da área que controla os movimentos envolvidos na fala ficar próxima a área que controla os movimentos das mãos, por isso gesticulamos e conseguimos escrever. De certa forma, pode-se dizer que a escrita era algo biologicamente determinado para a espécie humana.
Bom, mas tudo isso diz respeito a apenas visão e audição, ainda que da mesma forma pudessem ser descritos todos os demais sentidos. E mesmo que se descrevesse de forma mais detalhada do que a forma como foram descritos acima, todos os sentidos envolvidos, ainda faltaria descrever o orgasmo em si. O gozo. Não apenas o gozo fisiológico, toda a imensa e forte cascata química que deflagra as sensações de prazer que ocorrem junto com a ejaculação, mas também o gozo cognitivo, aquele que se dá quando o ato sexual é da espécie mais complexa de comportamento, quando o quale, a qualidade do orgasmo em si, está atrelada a empatia que se tem pela contraparte que participa do ato e pelo desejo de que pra ela seja interessante e intenso também.
Tudo isso pode ser descrito de uma forma ou de outra. Mas é o suficiente, não fica faltando um pedacinho de informação?
Esse é o pedacinho de informação que diz respeito à experiência consciente em primeira pessoa, e -- vejam só que engraçado -- é justamente por meio deste pedacinho de informação que foge do alcance da linguagem, que se dá, de fato, a apropriação da experiência. O como é, o sentir, o experienciar.
Acredito que este experimento precisa ser lingüisticamente mais lapidado, de forma a economizar em argumentos e descrições e ser mais objetivo quanto ao que se quer demonstrar, mas quem quer que tenha entendido o ponto, acho que ele não só serve para apontar o aspecto inefável, ou que não pode ser transmitido, dos qualia, mas mais do que isso, pelo menos ao meu ver, ele também é uma forma de explorar o conceito de que a apropriação da experiência não depende da linguagem.

Ver: Daniel Dennett, em Crenças Científicas.

*** Aquilo que se pode descrever é justamente diferente daquilo que de fato é a apropriação da experiência, daquilo que torna a experiência única para cada indivíduo. Como, então, podem afirmar que a aquisição da linguagem é condicional para a apropriação da experiência, se justamente é naquilo que escapa da linguagem que se dá a apropriação?

Ele queria provar que era um filósofo qualiudo

"Unfortunately, no one can told
you what the Matrix is. You have
to see it for yourself."
Morpheus

Falando sobre um hotel na Austrália que adotou o nome de qualia, sobre como foi bem utilizado o conceito na divulgação... "Você vê as fotos e sabe que não vai saber como é até que esteja lá, especialmente acompanhado com uma garota como a das fotos."
qualia pool
Foto de divulgação do qualia resort.

[00:28:19] C. says: o fato de que se vc não experienciar não vai saber como é
[00:28:26] C. says: no final tudo se resume a isso
[00:28:33] T. says: ahahaha
[00:28:35] C. says: por exemplo
[00:28:50] C. says: o X. já bateu milhões de bronhas com revistas de mulher pelada
[00:29:04] C. says: mas ele nunca vai saber exatamente como é trepar até botar uma mulher naquele corpo
[00:29:12] T. says: ahhahaha
[00:29:16] C. says: mesmo que ele tenha um curso extensivo com os 10 maiores sexólogos do mundo
[00:29:34] C. says: humm
[00:29:45] C. says: tai um experimento mental bom
[00:29:50] C. says: "X. o punheteiro"
[00:29:54] T. says: ahuahauahuahuhauhauhuahua
[00:29:58] C. says: ilustra melhor a parte fisiológica dos qualia
[00:30:06] C. says: pois diferente da experiência visual
[00:30:15] C. says: a experiência sexual tem toda uma cascata química violenta
[00:30:35] T. says: depende, esse é um quale q simula a experiência da sensação do orgasmo
[00:31:00] C. says: simula? ou acontece de fato?
[00:31:06] C. says: porra é apenas uma ilusão?
[00:31:08] T. says: sim, é
[00:31:11] C. says: pq acontecem os bebês?
[00:31:13] C. says: hehehehehehehehe
[00:31:15] T. says: ahahahaha
[00:31:22] T. says: sim, mas o orgasmo em si é o orgasmo
[00:31:27] T. says: hmm
[00:31:44] T. says: é q não dá pra definir com linguagem qualia
[00:31:50] T. says: com uma palavra curta
[00:31:56] C. says: tem uma diferença marcante entre gozar dentro de uma mulher ou por indução pelo contato com uma mulher e gozar simplesmente fazendo o cinco contra um
[00:32:08] T. says: tipo, poderia ter um quale pra uma mina q ficasse em específico e outro pra outra, pq não é idêntico
[00:32:15] T. says: e mesmo o da mesma pessoa seria diferente num outro dia
[00:32:39] C. says: qualia, pra mim, é o besouro de Wittgenstein.. é aquilo que vc não pode transmitir por meio da linguagem.. aquele pedacinho de informação q fica faltando
[00:33:29] C. says: é como a dor que o paciente sente.. o médico observa... ele sabe os mecanismos fisiológicos da dor.. mas ele não é capaz de afirmar com 100% de certeza: é, de fato, esta é uma dor "grau 10" ou "grau 8"
[00:41:43] T. says: é, mas qualia é qualidade
[00:41:48] T. says: é variável
[00:41:57] T. says: no caso da mina q tu disse por exemplo
[00:42:00] T. says: ou conosco
[00:42:05] T. says: um dia tu me vê e tens um quale
[00:42:12] T. says: noutro dia será um quale diferente
[00:42:17] C. says: qualidade: isso é meramente uma definição lingüística, aquilo que o Pinker chama de mentalês.
[00:42:25] T. says: ahahah

sábado, 18 de outubro de 2008

Alguns bons artigos da Scholarpedia


Dr. Almut Schüz : Neuroanatomy
A neuroanatomia lida com a estrutura do sistema nervoso. Todos os sistemas nervosos consistem de elementos surpreendentemente similares, as células nervosas ou neurônios. Apesar disto, os sistemas nervosos de diferentes classes animais podem ser organizados de maneiras claramente diferentes, e nos cérebros individuais estruturas anatômicas diferentes podem ser obviamente relacionadas a funções diferentes. Em algumas destas partes cerebrais, é possível tirar conclusões sobre o tipo de informação que é processada partindo de sua estrutura em particular.

Dr. Howard Eichenbaum : Memory
Memória é a lembrança da experiência representada no cérebro. Existem múltiplas formas de memória suportadas por diferentes sistemas cerebrais. Formas específicas de memória são caracterizadas por durarem um curto ou um longo período, por envolverem uma única experiência ou conhecimento acumulado, e por serem expressas de forma explícita pela lembrança consciente ou implícita através de mudanças na velocidade ou viés de performance em uma tarefa em particular. Todas as formas de memória são baseadas em mudanças nas conexões sinápticas dos circuitos neurais de cada sistema de memória. A força de uma memória é modulada pela excitação emocional e declina com a idade.

Dr. Lawrence M. Ward : Attention
Atenção é o processo pelo qual organismos selecionam um subconjunto de informações disponíveis sobre o qual focalizam para processamento e integração mais detalhados (em geral em um sentido de razão entre sinal-e-ruído de fundo). Considera-se que a atenção geralmente apresenta pelo menos três características: orientação, filtragem e busca, e pode tanto ser focalizada em uma única fonte de informação ou dividido entre várias. Cada um destes aspectos possui propriedades específicas que são brevemente discutidas neste artigo. Atenção e consciência são intimamente relacionadas, embora estes dois conceitos podem ser tanto conceitualmente quando empiricamente distinguidos.

Dr. Christof Koch, Dr. Florian Mormann : Neural Correlates of Consciousness
Os Correlatos Neurais da Consciência (NCC) podem ser definidos como os mecanismos neuronais mínimos que em conjunto são suficientes para qualquer uma percepção consciente específica (Crick & Koch 1990).

Dr.Dale Purves, Dr. William T. Wojtach, Dr. Catherine Howe : Visual illusions: An Empirical Explanation
A evolução dos sistemas biológicos que geram percepções visuais úteis comportamentalmente tem sido inevitavelmente guiada por muitas demandas. Entre elas estão: (1) a resolução limitada dos mosaicos de fotoreceptores (dai o sinal de input ser inerentemente ruidoso); (2) o número limitado de neurônios disponíveis nos níveis mais altos de processamento (daí a informação nas imagens retinais precisar ser abstrata de alguma forma); e (3) as demandas por eficiência metabólica (daí tanto as estratégias de conexão e sinal serem claramente propositais). O grande obstáculo na evolução da visão, contudo, foi documentado vários séculos atrás quando George Berkeley demonstrou que a informação das imagens retinais não pode ser mapeada sem ambigüidade de volta às suas fontes do mundo real (Berkeley, 1709/1975). Em termos contemporâneos, a informação sobre o tamanho, a distância e a orientação dos objetos no espaço é inevitavelmente misturada na imagem retinal. Em conseqüência disso, os padrões de luz no estímulo da retina não pode ser relacionados com suas fontes geradoras no mundo por qualquer operação lógica nelas. Desta forma, para ser bem sucedido, o comportamento guiado visualmente precisa lidar apropriadamente com as fontes físicas de estímulo luminoso, uma condição incerta referida como "o problema da óptica inversa". Da forma breve como foi explicada aqui, as ilusões visuais aparentam surgir primariamente da forma como o sistema visual lida com este problema. Uma implicação desta abordagem é de que a distinção entre aparência e realidade, como discutida por filósofos como Platão (360 A.C.) e Kant (1787), parece encontrar novas evidências.

Prof. Vilayanur S. Ramachandran, Mr. David Brang : Synesthesia
Sinestesia é uma condição na qual um estímulo sensorial apresentado em uma modalidade evoca uma sensação em uma modalidade diferente.

Lágrimas Ocultas - Florbela Espanca

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q’rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Poema publicado no Livro das Mágoas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Classificação dos Neurônios

Quanto aos seus prolongamentos (ou quanto a sua polaridade):
Neurônios Multipolares: vários dendritos (mais de dois) e um axônio, são a maioria.
Se dividem em:
  • Golgi I: neurônios com axônios longos, como as células piramidais, as células de Purkinje e as células da coluna anterior (ou corno ventral) da medula espinhal.
  • Golgi II: neurônios com axônios localizados, tais como as células granulares (presentes no cerebelo).
Neurônios Bipolares: um dendrito e um axônio.

Neurônios Unipolares ou Pseudo-unipolares: possuem apenas um prolongamento que se divide em dois ramos, um periférico e outro central. O periférico forma a terminação nervosa sensitiva, o central dirige-se ao sistema nervoso central. Seus corpos celulares ficam nos gânglios sensitivos. Estes neurônios se localizam no sistema nervoso periférico e possuem, na verdade, um dendrito longo e um axônio curto que o conecta à medula espinhal. O dendrito as vezes é chamado de processo distal e o axônio de processo proximal nestes neurônios sensitivos.
O dendrito em um neurônio pseudo-unipolar funciona como um axônio, o que significa que, quando um órgão sensorial faz a transdução de um estímulo gerando uma ação potencial, a ação potencial se propaga em direção ao soma sem se degradar, alcançando o axônio e seguindo para o sistema nervoso central. O dendrito de um neurônio pseudo-unipolar também se diferencia de um axônio no sentido de que a ação potencial se inicia em sua porção terminal sensitiva. Tal porção terminal recebe estímulos que originam potenciais graduáveis e se tornam um potencial de ação ao alcançarem a zona gatilho.
Na neurogênese os neurônios pseudo-unipolares apresentam, de início, dois prolongamentos que, posteriormente, se fundem em suas porções iniciais.


Classificação de acordo com a localização e formato:
Basket cells: neurônios com dendritos dilatados e nodulosos, localizados no cerebelo.
Células de Betz: grandes neurônios motores (100 micras de diâmetro) localizados na quinta camada da matéria cinzenta no córtex motor primário. Nos seres humanos as Betz cells enviam seus axônios até a medula espinhal onde fazem sinápse com as células da coluna anterior que, por sua vez, fazem sinapse diretamente com os músculos.
Medium spiny neurons: um tipo especial de célula inibitória que representa aproximadamente 90% dos neurônios do corpo estriado e do gânglio basal. São importantes para iniciar e controlar os movimentos do corpo, inclusive dos membros e olhos.
Células de Purkinje: grandes neurônios multipolares do tipo Golgi I, localizados no cerebelo.
Células Piramidais: neurônios tipo Golgi I com um soma triangular.
Células de Renshaw: são neurônios associativos inibitórios encontrados na matéria cinzenta da medula espinhal e que estão associados em ambos processos à neurônios alfa motores.
Células granulares: neurônios do tipo Golgi II.
Células da coluna anterior: neurônios motores localizados na medula espinhal.
Classificação funcional:
Neurônios aferentes: enviam informação dos tecidos e órgãos para o S.N.C., também chamados de neurônios sensoriais.
Neurônios eferentes: transmitem sinais do S.N.C. para as células efetoras.
Neurônios associativos (interneurons em inglês): conectam neurônios em regiões específicas do sistema nervoso central.
Obs: Aferente e eferente também são termos aplicados para neurônios que, respectivamente, levam ou trazem informações de uma determinada região cerebral.

Quanto a ação sobre outros neurônios:
Neurônios excitatórios: excitam seus neurônios alvo. No S.N.C., incluíndo no cérebro, usam o ácido glutâmico; no sistema nervoso periférico, como os neuronios motores espinais que fazem sinapse com as células dos músculos, usam a acetilcolina como neurotransmissor excitatório.
Neurônio inibitório: inibem seus neurônios alvo, e geralmente são neurônios associativos. Os neurônios eferentes (output) de algumas estruturas cerebrais, tais como o globo pálido e o neostriatum, são inibitórios. Os principais neurotransmissores inibitórios são o GABA e a glicina.
Neurônio modulatório: evocam efeitos complexos de neuromodulação e usam neurotransmissores como a dopamina, acetilcolina, serotonina e outros.

Ilustração: neurônio multipolar (a), neurônio bipolar (b)
e neurônio pseudo-unipolar (c); dendritos (1),
soma (2), axônio (3).

Resumo do Tecido Nervoso

O tecido nervoso é formado pelos neurônios e pelas células gliais ou neuróglia.
O neurônio, embora em menor número, é a unidade fundamental do tecido nervoso, com a função básica de receber, processar e enviar informação. Quanto a processar, é preciso fazer uma observação aqui: o neurônio basicamente emite ou não emite um potencial de ação, análogo a um transistor, no sentido de poder estar em dois estados diferentes: 0 (zero) e 1 (um); porém diferente de um transistor no sentido que de ele, o neurônio, emite ou não um potencial de ação dependendo da excitação que recebe de uma rede que pode ser composta por até cerca de 10.000 sinapses.
A neuróglia é formada por células que ocupam os espaços entre os neurônios, com a função de sustentação, revestimento ou isolamento, modulação da atividade neuronal e defesa.
Com exceção dos neurônios denominados grânulos, localizados no cerebelo e no bulbo olfatório, e dos neurônios sensoriais primários do epitélio olfatório, em geral os neurônios não se dividem após a diferenciação, ou seja, não são produzidos novos neurônios após o nascimento.
Obs.: novos estudos sobre a neurogênese indicam a possibilidade de existirem outras áreas onde são produzidos novos neurônios, como no hipocampo no sistema límbico. O estudo da neurogênese ainda é um campo emergente e onde novas e importantes descobertas são feitas por vários pesquisadores em todo o mundo.
A neuróglia conserva a capacidade de mitose após completa a diferenciação. Desta forma é um tecido que preenche danos ocorridos no sistema nervoso central adulto e, segundo algumas teorias, pode estar envolvido no desencadeamento de crises epilépticas.
Causas para a morte de neurônios:
  • Resultado da programação natural;
  • Efeito de toxinas;
  • Doenças ou traumatismos.

Os neurônios podem ser divididos em três regiões com diferenças morfológicas e funcionais marcantes: corpo celular (soma), dendritos (do grego déndron = árvore) e axônio (do grego áxon = eixo).
Clique sobre a imagem para ampliar
Errata: os Nódulos de Ravier são, na verdade, os espaços não mielinizado de cerca de 0,01mm entre as baínhas de mielina.

Os neurônios são células altamente excitáveis que se comunicam entre si ou com outras células efetuadoras usando uma linguagem basicamente elétrica na forma da modificação do potencial de membrana. A membrana celular separa dois ambientes que apresentam composições iônicas próprias: o meio intracelular (citoplasma) rico em potássio (K+) e o meio extracelular rico em sódio (Na+) e cloro (Cl-). Tal composição gera cargas diferentes dentro e fora da célula, estabelecendo um potencial de membrana.
Obs.: muitos de nós não foram muito assíduos nas aulas de química do colégio, então é interessante se demorar um pouco mais no assunto.
Dentro da célula, do neurônio, temos um ambiente rico em cátions de potássio (K+). Cátions são íons de carga positiva. Um íon de carga positiva é um átomo que perdeu elétrons.
No exterior da célula temos um ambiente rico em cátions de sódio (Na+) e ânions de cloro (Cl-). Ânions são íons de carga negativa, logo átomos que ganharam elétrons.
Outra forma de explicar: Ânions são íons que possuem mais elétrons (carga -1) na camada de elétrons (ou camada de valência) do que prótons (carga +1) em seu núcleo. Ânions são negativos (possuem mais elétrons).
Cátions são íons que possuem menos elétrons na camada de elétrons do que prótons em seu núcleo. Cátions são positivos (possuem menos elétrons).
Tanto cátions quanto ânions são íons, mas cátions são íons positivos e ânions são íons negativos.
Qual a moral de saber isso? Tem haver com o potencial elétrico: a capacidade de um corpo energizado para atrair ou repelir cargas elétricas. Quanto mais negativa é a carga, ou seja, quanto mais elétrons possuir o átomo em sua camada de elétrons, menor será seu potencial elétrico... Por isso ele é negativo.
Quanto mais positiva for a carga, ou seja, quanto menos elétrons possuir o átomo em sua camada de elétrons, maior será o seu potencial elétrico e mais capacidade ele terá de atrair cargas elétricas... Por isso ele é positivo.
Nas células dos seres vivos, o potencial elétrico, ou potencial de membrana, é a diferença de voltagem entre o interior e o exterior da célula. Voltaremos neste assunto que eu acho chato, porém necessário, mais tarde...
Na maiora dos neurônios, o potencial de membrana em repouso está em torno de -60 a -70 mV (milivolts), com excesso de cargas negativas dentro da célula. O movimento de íons através da membrana permite alterações deste potencial... Enfim... Volto a abordar esse assunto quando for tratar de potencial de ação. Antes é preciso falar sobre o que encontramos no axônio e antes de falar sobre o que encontramos no axônio é preciso saber o que há dentro do soma. É, eu sei, que m.... ter lido isso tudo e não ter entendido o principal... Pelo menos foi assim que me senti e me sinto escrevendo até aqui.
Mas continuando...
O corpo celular contém o núcleo e o citoplasma com as organelas citoplasmáticas usualmente encontradas em outras células. O núcleo é geralmente vesiculoso com um ou mais nucléolos evidentes. Mas encontram-se também neurônios com núcleos densos, como é o caso dos núcleos dos grânulos do córtex cerebelar. O citoplasma do corpo celular recebe o nome de pericário (que as vezes é usado como sinônimo de corpo celular - perykarion). No pericário salienta-se a riqueza em ribossomos, retículo endoplasmático granular e agranular e aparelho de golgi, ou seja, as organelas envolvidas em síntese.
Os ribossomos podem concentrar-se em pequenas áreas citoplasmáticas onde ficam livres ou aderidos às cisternas do retículo endoplasmático. Em conseqüência disso, no microscópio, vêem-se grupos basóficos conhecidos como corpúsculos de Nissl ou substância cromidial.Mitocôndrias abundantes e geralmente pequenas estão distribuídas por todo o pericário, especialmente ao redor dos corpúsculos de Nissl, sem no entanto penetrá-los. Microtúbulos (curiosidade: ver tb. quantum mind) e microfilamentos de actina são idênticos aos de células não-neuronais, mas os filamentos intermediários (8 nm e 11 nm de diâmetro) diferem, por sua constituição bioquímica, dos das demais céulas. São os neurofilamentos.

Retículo endoplasmático liso/rugoso: retículos endoplasmáticos rugosos são túbulos achatados revestidos de membranas aos quais os ribossomos podem aderir. Retículos endoplasmáticos lisos são túbulos arredondados aos quais os ribossomos não podem aderir. O retículo endoplasmático rugoso está envolvido no transporte de proteínas sintetizadas nos ribossomos. O retículo endoplasmático liso sintetiza moléculas complexas chamadas esteróides em alguns tipos de células, armazena íons de cálcio nos músculos e degrada toxinas no fígado.

Ribossomos: sítios de síntese protéica, onde aminoácidos são ligados na seqüência determinada pelo RNA mensageiro do núcleo (tipo cAMP: adenosina monofosfato cíclico, mensageiro secundário importante para a transdução).Aparelho de Golgi: sacos achatados revestidos por membranas de cujas extremidades brotam pequenas vesículas. Coletam produtos de secreção e os empacotam para exportação ou uso pela célula, por exemplo, lisossomas.

Mitocôndria: estrutura membranosa e oblonga cuja membrana interna é sinuosa como um labirinto. A energia para o funcionamento da célula é gerada nela por reações oxidativas.

Microtúbulos e microfilamentos: formados por proteínas, dão suporte estrutural para a célula.Lipofuscina: corpos lisossômicos residuais decorrentes do processo de degradação e renovação celular, encontrados no pericário, que aumentam em número conforma a idade da célula.

O corpo celular é o centro metabólico do neurônio, responsável pela síntese de todas as proteínas neuronais, bem como pela maioria dos processos de degradação e renovação de constituíntes celulares, inclusive membranas.
A forma e o tamanho celular são extremamente variáveis, conforme o tipo de neurônio. Por exemplo, nas células de Purkinje do córtex cerebelar, os corpos são piriformes e grandes, com o diâmetro de 50 a 80 um (micras); nesse mesmo córtex, nos grânulos do cerebelo, são esferoidais, com diâmetro de 4-5 um; nos neurônios sensitivos dos gânglios espinhais são, também, esferoidais, mas com 60-120 um de diâmetro; corpos celulares estrelados e priamidais são também comuns, sendo encontrados no córtex cerebral.
Assim como os dendritos, o copor celular recebe estímulos através de contatos sinápticos. Nas áreas da membrana plasmática do corpo neuronal que não recebem contatos sinápticos, apoiam-se elementos gliais.

O axônio sai do cone de implantação, região do corpo celular quase desprovida de substância cromidal (corpúsculo de Nissl). Apresenta comprimento variável, podendo ter entre alguns milímetros até mais de um metro na espécie humana. É cilíndrico e, quando se ramifica, o faz em ângulo obtuso, originando colaterais de mesmo diâmtro do inicial.
Estrutura do axônio: membrana citoplasmática (axoplasma) contendo microtúbulos, neurofilamentos, microfilamentos, retículo endoplasmático agranular (liso) e vesículas.
O axônio é capaz de gerar em seu segmento inicial uma alteração no potencial de membrana denoninada potencial de ação ou impulso nervoso (spike em inglês). Esta alteração no potencial de membrana ocorre pela despolarização em grande amplitude da mesma (70 mV - 110 mV), do tipo "tudo ou nada", capaz de repetir-se ao longo do axônio, conservando sua amplitude até a terminação axônica.

Voltando, então, ao potencial de ação: a bomba de sódio-potássio no cérebro é mais ou menos assim: tem o ambiente intracelular, rico em cátions de potássio, e tem o ambiente extracelular, rico em cátions de sódio e ânions de cloro. Parece que existem estes canais de potássio que ficam liberando potássio no ambiente extracelular e existem canais de sódio que ficam liberando sódio no ambiente intracelular. Além disso existe um mecanismo, que na verdade é uma enzima (E 3.6.3.9), que é a bomba de sódio-potássio propriamente dita. Por ela passam três cátions de sódio para fora da célula e dois cátions de potássio para dentro da célula.
A célula repolariza ficando cada vez mais negativa a medida que os cátions de potássio saem pelos canais de potássio. Isso ocorre depois do potencial de ação. Mas aí, uma vez que os canais de potássio demoram demais para fechar, ocorre uma hiperpolarização (que, como veremos mais adiante, é o contrário do potencial de ação). Para resolver a parada, a bomba de sódio-potássio envia dois cátions de potássio para dentro da célula e três cátions de sódio para fora (transporte ativo), restaurando o potencial de repouso da membrana... Até o próximo potencial de ação. Contudo, é importante notar o seguinte: embora a bomba de sódio-potássio seja necessária para restaurar o potencial de repouso e, por tanto, para permitir que ocorra o próximo potencial de ação, ela não é responsável pelo potencial de ação em si.A alteração de grande amplitude do potencial de membrana gerada no segmento inicial do axônio, que ocorre devido a entrada de sódio (Na+) causando a despolarização, se chama potencial de ação. Com a saída do potássio (K+) pelos canais de potássio, a célula começa a repolarizar, mas como vimos anteriormente, os canais de potássio demoram demais para fechar e a célula fica hiperpolarizada. Então entra em ação o Na+/K+-ATPase, que envia o potássio para fora e joga o sódio para dentro, restaurando o potencial de repouso da membrana.

Portanto, em resumo, o axônio é especializado em gerar e conduzir o impulso (potencial de ação/spike) nervoso.

Zona gatilho: é o primeiro segmento do axônio onde a membrana citoplasmática possui canais de sódio e potássio sensíveis à voltagem.

Canais de sódio e potássio: são canais iônicos (assim chamados pois por eles passam íons de sódio ou de potássio), sensíveis à voltagem, presentes no segmento inicial do axônio (a zona gatilho), que permanecem fechados no potencial de repouso da membrana e se abrem quando despolarizações de pequena amplitude os atingem (potenciais graduáveis / gradiente vindo dos dendritos).

Os axônios, após emitir um número variável de colaterais, geralmente sofrem arborização terminal, terminando em botões sinápticos. Por meio desta porção terminal, os axônios estabelecem conexões com outros neurônios ou com células efetuadoras.

Obs.:
Alguns neurônios se especializam em secreção. Seus axônios terminam próximos a capilares sangüíneos; os capilares captam o produto liberado pela secreção dos neurônios, geralmente um polipetídeo.
Polipetídeo (do grego "pequenos disgestíveis") é o resultado da ligação de muitos aminoácidos por ligações peptídeas, resultado em uma cadeia não ramificada. É uma cadeia linear de aminoácidos. Em comparação, uma proteína é uma ou mais cadeias de cerca de 50 aminoácidos; um neuropeptídeo é um peptídeo que se ativa ao se associar com tecido neural; e um hormônio peptídeo é um peptídeo que age como um hormônio.
Neurônios especializados em secreção se chamam neurosecretores e ocorrem na região do hipotálamo.

Os dendritos são curtos, geralmente entre alguns micrômetros ou milímetros, e ramificam-se profusamente, como galhos de uma árvore, em ângulo agudo, originando dendritos de menor calibre. Apresentam contorno irregular, podendo apresentar os mesmos constituintes citoplasmáticos do pericário, sendo que o aparelho de golgi se limita às porções mais calibrosas, próximas ao pericário. Já a substância de Nissl (retículos endoplasmáticos rugosos e ribossomos) penetra nos ramos mais afastados, diminuíndo gradativamente, até ficar excluída nas menores divisões. Caracteristicamente, os microtúbulos são elementos predominantes nas porções iniciais e ramificações mais espessas.
Os dendritos são especializados em receber estímulos, traduzindo-os em alterações do potencial de repouso da membrana.
Tais alterações envolvem a entrada ou a saída de determinados íons e podem expressar-se por pequena despolarização ou hiperpolarização.

Despolarização: é excitatória e significa a redução da carga negativa do lado citoplasmático da membrana (espaço intracelular).

Hiperpolarização: é inibitória e significa o aumento da carga negativa do lado citoplasmático da membrana ou aumento da carga positiva do lado de fora (espaço extracelular).

Os distúrbios elétricos que ocorrem ao nível dos dendritos e do corpo celular constituem potenciais graduáveis (aqueles que podem somar-se), também chamados eletrotônicos, de pequena amplitude (100 uV-10mV), e que percorrem pequenas distâncias até extinguirem-se. Estes potenciais propagam-se em direção ao soma e, neste, em direção ao cone de implantação do axônio.Nos neurônios multipolares os dendritos conduzem potenciais graduáveis em direção à zona gatilho, onde é gerado o potencial de ação que se propaga à terminação axônica.

Resumindo:
Axônios: longos, colaterais, ângulo obtuso, ramificações de igual diâmetro, cilíndricos, enviam estímulos, potencial de ação, "tudo ou nada", 70-110 mV, sinais por longas distâncias.
Dendritos: curtos, muitos ramos, ângulo agudo, ramos mais finos sucessivamente, contorno irregular, recebem estímulos, potenciais graduáveis, podem somar-se, 100 uV-10mV, sinais por curtas distâncias.

Fonte: MACHADO, Angelo. Neuroanatomia Funcional. 2a Ed. São Paulo : Atheneu, 2005.

Resumo sobre a Filogênese do Sistema Nervoso

Pretendo começar a compartilhar alguns resumos que fiz para o meu próprio estudo durante as férias, em vista das dificuldades encontradas por alguns dos meus colegas para com questões básicas sobre Psicofisiologia. Assim aproveito para retomar tais resumos e para buscar respostas para eventuais dúvidas que tenham ficado.

Filogênese

Os primeiros neurônios surgiram como células que se diferenciaram das demais para receber estímulos do meio-ambiente, transmitindo-os às células musculares vizinhas para gerar uma resposta adaptativa. Tais células receptoras eram especializadas em irritabilidade e condutividade, o que significa que elas eram capazes de transformar um estímulo externo em uma mensagem interna que se propagava no organismo.
Exemplos destas células nervosas primitivas podem ser visto nos tentáculos de uma anêmona do mar, no qual existem células nervosas com apenas um prolongamento (unipolares) que se ligam com células musculares protegidas do exterior. O prolongamento de tais células unipolares é um axônio dotado de uma formação especial denominada receptor, que transforma vários tipos de estímulos físicos ou químicos em impulsos nervosos. A esta transformação se dá o nome de transdução. Os impulsos nervosos são transmitidos a um efetuador, que pode ser um músculo ou uma glândula.
Com a evolução das espécies começaram a surgir, por meio de mutações adaptativas, receptores mais complexos e capazes de lidar com estímulos mais variados.
A anêmona do mar é um celenterado e, como em outros seres desta espécie, em seu corpo existe uma rede de fibras nervosas formadas por ramificações dos neurônios de superfície, que permite a difusão dos impulsos nervosos em várias direções.
Já nos platelmintos, como a planária, e nos anelídeos, como as minhocas, este tipo de sistema nervoso foi substituído por algo mais avançado, no qual os elementos tendem a se agrupar centralmente, ao invés de irradiar da superfície.
Na minhoca, o sistema nervoso é segmentado, sendo formado por um par de gânglios cerebróides e uma série de gânglios unidos por uma corda ventral, correspondendo aos segmentos do animal.Funciona da seguinte maneira: na superfície do animal, em seu epitélio, existem neurônios especializados em receber estímulos do meio externo (neurônios sensitivos ou aferentes), capazes de realizar a transdução, e conduzir o impulso gerado em direção ao interior do animal. Estes neurônios estão ligados a outros neurônios mais centrais por meio do seu axônio (sinapse axo-somática cf. as ilustrações que eu vi). O soma destes neurônios mais centrais encontra-se no gânglio e possui um axônio que faz conexão com os músculos do animal para gerar uma resposta comportamental. Tais neurônios são especializados, então, na condução do impulso do centro até o efetuador, e por isso são chamados de neurônios motores ou eferentes.
Importante:
Neurônio sensitivo ou aferente: realiza a transdução do estímulo do meio externo e o conduz para o interior do animal.
Neurônio motor ou eferente: conduz o impulso recebido até um efetuador, que pode ser um músculo ou uma glândula.

Outra forma de colocar isto é que os neurônios aferentes trazem o impulso de uma determinada área e os neurônios eferentes levam o impulso a uma determinada área do sistema nervoso. Mas eu não gosto desta definição por causa dos neurônios de associação. De qualquer forma, como em qualquer classificação espacial, a denominação é relativa ao que se descreve. Um exemplo citado por Angelo Machado é de que "neurônios cujos corpos estão no cérebro e terminam no cerebelo são eferentes ao cérebro e aferentes ao cerebelo." E por isso "deve-se sempre especificar o órgão ou área do sistema nervoso em relação à qual os termos são empregados."
O estudo da evolução das células nervosas, sua filogênese, é importante para que possamos compreender como se organizam e qual a importância de cada tipo diferente de neurônio que iremos encontrar nos organismos mais complexos.
Fica claro, também, por meio deste estudo, que existem três tipos básicos de neurônios existentes: neurônios aferentes, neurônios eferentes e neurônios de associação.

Aprofundando o assunto sobre os neurônios aferentes, podemos afirmar que estes levam informações sobre modificações ocorridas no meio externo para o sistema nervoso central. No caso de organismos mais complexos, os neurônios aferentes também podem levar informações sobre o meio interno do organismo para o sistema nervoso central.
Quando em contato direto com o meio externo, o neurônio aferente é unipolar, ou seja, é composto por um soma e um axônio. Esta é uma das formas mais primitivas de organização neuronal. Nos moluscos, os neurônios sensitivos se conectam a superfície por meio de um prolongamento e seus somas ficam no interior do animal.
Nos vertebrados, quase todos os neurônios sensitivos têm seus corpos localizados em gânglios próximos ao sistema nervoso central, porém sem penetrar nele. A maioria dos neurônios sensitivos dos vertebrados é unipolar. A vantagem de tal configuração é uma menor suscetibilidade a lesões decorrentes do contato direto com o meio externo.Uma dúvida que ficou, estudando a filogênese dos neurônios sensitivos, é quanto ao que pude depreender da descrição do autor, no caso o Angelo Machado:
Primeiro surgiram neurônios compostos de um soma e de um axônio terminado em um receptor que se projetava ao meio externo, nos celenterados. Depois surgiram neurônios cujos somas encontram-se diretamente expostos ao meio externo, com um axônio projetando-se ao interior do animal, conectando o neurônio sensitivo a um neurônio motor, formando um arco-reflexo. Então nos celenterados não havia algo como um arco-reflexo? Um neurônio recebia a informação do meio e já providenciava a resposta? Gostaria de saber mais sobre o sistema nervoso dos celenterados... Se alguém que estiver lendo isso quiser comentar esclarecendo estes pontos, ficarei muito grato.

Continuando... Os neurônios eferentes, ou motores, têm a função de conduzir o impulso nervoso ao órgão efetuador, determinando uma secreção (glândulas) ou uma contração (músculos).
No animal humano, os neurônios eferentes do sistema nervoso autônomo (S.N.A.) que enervam músculos lisos, músculos cardíacos ou glândulas, têm seus corpos fora do sistema nervoso central (S.N.C.), nos gânglios viscerais, e são denominados neurônios pós-ganglionares.
Já os neurônios que enervam os músculos estriados esqueléticos têm seus corpos sempre dentro do S.N.C. e são denominados neurônios motores primários, neurônios motores inferiores ou via motora final comum de Sherrington.

Os neurônios de associação trouxeram consigo um aumento considerável no número de sinapses e, por tanto, na complexidade do sistema nervoso. Tal complexidade trouxe consigo a possibilidade do surgimento de padrões de comportamento. Quanto maior o número de neurônios de associação, mais complexos e elaborados podem ser os padrões de comportamento apresentados pelo animal.
O soma do neurônio de associação permanece sempre dentro do S.N.C., e seu aumento se deu principalmente na extremidade anterior dos animais. Nos vertebrados, os neurônios de associação são a grande maioria.

Retomando: na evolução filogenética, os neurônios mais primitivos, ou os primeiros a surgirem são os neurônios sensitivos ou aferentes, seguidos pelos neurônios motores ou eferentes, para então surgirem os neurônios associativos.
Neurônios aferentes:
1. Na superfície: unipolares (anelídeos)
2. Intermediários: bipolares (moluscos)
3. Próximos ao S.N.C.: pseudo-unipolares (vertebrados)

Neurônios eferentes:
1. Fora do S.N.C. nos gânglios viscerais: Sistema Nervoso Autônomo
2. Dentro do S.N.C. terminações em músculos estriados esqueléticos.

Neurônios de associação:
Internos ao S.N.C., permitiram o aumento do número de sinapses e o surgimento de padrões de comportamento e funções superiores.


Fonte: MACHADO, Angelo. Neuroanatomia Funcional. 2a. Ed. São Paulo : Atheneu, 2005.